[ARTE DA VITRINE]: Thiago Chaves (@chavespapel)

Dos bons escritores, o que menos consigo aceitar que seja desconhecido pela maioria dos brasileiros, é o romancista e poeta Edgar Allan Poe. Seu legado literário está em ter inspirado Júlio Verne, precursor da ficção científica, a escrever Cinco Semanas em um Balão; Herman Melville a escrever seu clássico Moby Dick; inspirar Conan Doyle a criar o personagem Sherlock Holmes, o detetive mais famoso da literatura; transformar o horror em gênero literário de alto nível; marcar o início da verdadeira literatura americana e revitalizar a literatura européia. Ou seja, ele foi tão importante para a literatura, que desconhecê-lo deveria ser considerado crime! Sua obra é tão rica que merece ser lida tanto por fãs de terror, de histórias de mistério e de ficção científica, quanto os fãs de uma boa e, por vezes, perturbadora leitura.

Seus temas apoiavam-se no desconhecido e no que existe de mais estranho na natureza humana. Alucinações mais convincentes do que a própria realidade, personagens solitários e neuróticos, a catalepsia, contradições, entre outros. Os leitores avançam a história sabendo tão pouco quanto o protagonista, sentindo o que ele sente e tendo seus pensamentos enquanto percorre cenários sombrios que passam a mensagem de morte em cada detalhe seu. E quando o conto se encerra, é como se partilhássemos do mesmo destino do protagonista.

Edgar Allan Poe acreditava que antes de se sentar para escrever um conto ou poema, o escritor tinha que saber bem as emoções que a obra deveria causar nos leitores. Desta ideia vinha sua força literária, no elemento efeito. Enquanto os autores se preocupavam mais com a criação dos personagens e dos cenários, ele desenvolveu o elemento do efeito. A cada frase, página virada, ampliam-se os efeitos, num crescente impacto no leitor até chegar no grande final. Aliás, são os finais uma das principais qualidades dele, com todo o texto conduzindo a um desfecho inevitável.

Apesar de ter sido um grande poeta dedicou-se pouco a este gênero literário. Mas o pouco que produziu influenciou vários poetas e até músicos ao redor do mundo. O poema O Corvo é até hoje o melhor que eu já li. Seus versos tecnicamente perfeitos, são trágicos e lúgubres, transmitindo uma tristeza avassaladora. Graças a O Corvo Poe ficou famoso em todo os Estados Unidos e uma maior atenção foi dada à sua obra. Quem quiser conhecer o poema pode ler uma tradução excelente feita por Fernando Pessoa AQUI e AQUI.

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Na prosa, Poe se dedicou se dedicou especialmente aos contos. Sob a pena dele, o horror ganhou ares de alta literatura e permitiu que diversos autores surgissem posteriormente. No gênero do terror, alguns dos seus melhores contos são Metzengerstein, A Máscara da Morte Rubra, O Gato Preto, O Coração Denunciador e O Caso do Sr. Valdemar. Nestas obras, encontra-se uma fantasia tão ligada à realidade, que muitos autores célebres beberam dela, como Franz Kafka e até autores consagrados da ficção científica, onde marcou seu criador Júlio Verne, e seu maior rival, H. G. Wells.

Mas Edgar Allan Poe, por sempre ter sido interessado em mistérios, criptografia e jogos matemáticos, não ficou só nisso. Surgiu assim seu personagem mais famoso: Auguste Dupin. Ele era dono de uma capacidade analítica espantável. Não havia homem na Terra em que não pudesse captar os pensamentos. Graças a esta habilidade colaborava com o trabalho da polícia, sendo mais competente do que ela. Dele surgiu Sherlock Holmes e, a partir do personagem de Conan Doyle, inúmeros detetives nas mais variadas mídias foram criadas, de livros a filmes, de games a séries, como O Mentalista.

Encontro poucas pessoas que admirem o trabalho de Poe. Muitos com quem conversei sequer sabiam da existência do escritor. Embora seus livros sejam fáceis de encontrar em  bibliotecas ou em livrarias, nas baratas edições de bolso, e seus textos possam ser lidos na internet legalmente, por já pertencerem ao domínio público, o desconhecimento é quase total. Até existe um site excelente especializado nele, o Poe Brasil, porém não sei dizer se ele se encontra atualizado.

Por isso escrevi este post. Para divulgar e homenagear um dos autores mais importantes do século XIX. Uma das poucas chances desta situação ser revertida é com a cinebiografia que Sylvester Stallone planeja fazer de Edgar Allan Poe. Aí talvez o mestre seja reconhecido no Brasil.

* Nota do editor: Quando esse texto foi publicado originalmente ainda não tinha sido anunciado o filme O Corvo (The Raven), que mostra Edgar Alla Poe colaborando numa busca a um serial killer.

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No Comments

  1. Alice

    22 de maio de 2012 at 15:23

    Seus poemas sem dúvida são excelente!
    Eu adoro!

    Reply

  2. tio chocomalk

    22 de maio de 2012 at 15:51

    =

    Olha…confesso que conheço “o nome” do Poe há algum tempo, mas por falta de grana e talvez até interesse ( que ninguem conseguiu me passar ) somente a partir de 2011
    que comecei a ler os contos dele. E desde o primeiro virei fã de carteirinha… só fico ligeiramente infeliz que tantos contos dele sejam dificilimos de serem encontrados ( em publicações )

    mas fica ai a dica…pra quem não conhece leia e vislumbre quão doentia a mente humana pode ser. ^^
    E sim…esperando pra ver esse filme =D

    Parabéns pelo texto !!

    Reply

  3. Joelma Alves

    23 de maio de 2012 at 10:16

    Eu conheço o nome Poe desde que estava na escola, mas nunca parei pra ler nada dele. Como você disse, nas bibliotecas tem muitos livros dele.
    Li o conto O Gato Preto, me lembro de ter gostado. Mas foi só. Tenho que ler mais. #fato

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    • tio chocomalk

      23 de maio de 2012 at 11:27

      =

      Pois sim Joelma ( todo intimo ) leia mesmo
      apesar de eu ser GRANDE entusiasta do Poe… é uma leitura que vale a pena cada segundo gasto ^^

      Reply

      • Murilo Andrade

        23 de maio de 2012 at 12:53

        Vale mesmo. Toda edição que vejo à venda com um conto ou poema que não tenho na minha coleção acabo comprando, sem pensar duas vezes =D

        Reply

        • Joelma Alves

          23 de maio de 2012 at 15:13

          Hummm, cadê aquele estagiário sem salário, Murilo?!? rsrs

          Reply

          • Murilo Andrade

            23 de maio de 2012 at 15:16

            O Filipe aumentou meu salário =D

  4. Fernando COTA

    24 de maio de 2012 at 11:54

    As história do Edgar são sensacionais em O poço e o pendulo eu me senti igual ao personagem, claustrofóbico.

    Reply

  5. Kellyane

    28 de junho de 2013 at 22:22

    Brilhante! Muito boa mesmo sua análise sobre Poe e seu legado literário! Tem absoluta razão quando diz “Desconhecê-lo deveria ser considerado crime!”, realmente causa um grande desconforto quando alguém diz que não conhece esse maravilhoso escritor e sua influência até mesmo na literatura moderna, acredito que seu texto seja uma das melhores análises resumidas sobre Poe e sua obra que já vi até hoje! Parabéns!

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