Quando acompanhamos o despertar de Rick Grimes na primeira temporada de The Walking Dead, a civilização como a conhecemos já foi pro buraco e vemos o protagonista tentando sobreviver àquela situação bizarra. Sabemos que a coisa degringolou bem rápido, afinal, Rick ficou apenas seis meses em coma e quando acordou o mundo já estava um caos. Porém, o comecinho de tudo nunca foi mostrado (nem na série, nem nos gibis) e Robert Kirkman prometeu preencher essa lacuna com a série derivada Fear The Walking Dead (FTWD). A boa notícia é que ele conseguiu cumprir a promessa. A má notícia é que isso durou apenas dois episódios.

O início do episódio piloto é muito bom. Utilizar um personagem viciado em heroína como guia para o espectador encontrar o primeiro zumbi da série foi uma ideia excelente. O personagem consumido pelo vício é também uma espécie de morto-vivo, caminhando entre nós apenas em busca da próxima dose. O fato dele ser viciado também faz com que ninguém acredite na sua história (até mesmo ele chega a duvidar), o que poderia manter os zumbis com um certo ar de lenda urbana/coisa de maluco. Não demora, porém, para que outros personagens comecem a ter contato com os mortos-vivos e que alguns confrontos da polícia com estes sejam mostrados na TV.

Ainda no primeiro episódio é apresentado um personagem que é o típico nerd preparado para o apocalipse, a ponto de levar uma faca para a escola porque acredita que os zumbis já estão entre nós simplesmente porque ouviu a notícia de um novo vírus se espalhando. A série caminhou de maneira interessante até os minutos finais desse primeiro episódio, quando o casal de protagonistas (junto com o viciado do início) acabam enfrentando o primeiro zumbi, algo que achei que fosse acontecer apenas mais à frente. Personagens matando zumbis nós já vemos muito na série original, o interessante em Fear The Walking Dead seria justamente ver o terror que esses monstros causam quando tudo começa.

A coisa toda desanda de maneia inacreditável a partir do segundo episódio. Os protagonistas matam mais zumbis, o gordinho nerd salva o dia e a polícia enfrenta um pequeno grupo de pessoas que não morrem mesmo depois de metralhadas. O confronto da polícia com os zumbis ainda dá início a protestos da população contra a violência policial. O problema é que nessa altura o governo já estava pedindo para que as pessoas ficassem em suas casas devido a um novo vírus, mas mesmo assim centenas de pessoas estavam nas ruas sem medo de nada. Enquanto isso, serviços de luz, água e telefone começam a cair pela cidade inteira. Ou seja, o que antes era apenas um novo vírus se espalhando se transformou, de uma hora pra outra, em um caos completo, deixando a população sem os serviços básicos. Em apenas dois episódios FTWD já se distanciou da proposta original e chegou bem perto do universo que vimos no começo de The Walking Dead.

A chegada do exército dos EUA nos episódios seguintes deu uma esperança para a série. Foi interessante ver o exército cercando um pequeno bairro e fazendo dali uma área segura, enquanto faziam expedições a outros bairros para eliminar os mortos-vivos. O relacionamento do exército com os civis nesse pequeno espaço seria uma história interessante de acompanhar, mas infelizmente Robert Kirkman apressou demais as coisas e tratou logo de desfazer essa pequena comunidade. E fez isso de maneira extremamente bizarra em um episódio final onde nada faz sentido. Para resgatar pessoas amadas em um centro de detenção, o grupo de protagonistas elabora um plano ~~audacioso~~: liderar uma exército gigantesco de zumbis para o centro de detenção. Como se a ideia de libertar zumbis já não fosse bizarra, o grupo sabia que o exército estava indo embora da cidade, ou seja, a segurança no local ia acabar diminuindo. Pior do que isso é pensar que em nenhum momento alguém tenha levantado a questão “nós vamos encher de zumbis o local que vamos invadir?”. Foi bizarro ver os personagens quase serem mortos pelos monstros e ninguém mencionar que aquela ideia foi bem estúpida.

Os personagens também são todos bem fracos e não geram empatia alguma, tendo tanta personalidade quanto uma porta. O viciado em heroína ainda salvava em algumas cenas, mas foi muito pouco pelo que a série prometeu lá no início do primeiro episódio. No final ainda colocaram um personagem misterioso no meio do grupo pra ser o tipo que faz o público questionar “será que ele é vilão ou mocinho?”. Mas a verdade é que ninguém se importa, porque se é pra acompanhar pessoas fugindo de zumbis, melhor continuar acompanhando os personagens da série original a quem já nos apegamos. No final das contas, Fear The Walking Dead foi um apanhado de boas ideias, todas jogadas fora em alguns poucos minutos de uma temporada inteira.

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