Liga da Justiça Sombria ou Liga da Justiça Dark (Justice League Dark, 2017) é o mais novo longa animado do Universo DC e também o segundo a ganhar uma classificação R nos EUA (menores de 17 anos, só acompanhados por adulto), sua versão digital foi lançada em 24 de Janeiro e o DVD/Blu-ray virá no início de Fevereiro. Mostra o lado sombrio e místico da DC a partir de personagens como o Batman, John Constantine, Zatanna e Monstro do Pântano, unidos contra um mal maior numa narrativa mais densa e violenta que suas demais animações. Review especial do longa, sem spoilers!

Um surto está tomando conta dos EUA: pessoas comuns começam a ver demônios em todos os lugares. Uma motorista pensa que os pedestres são monstros e passa com o carro em cima de todo mundo. Uma mãe pensa que seu bebê é o Diabo e tenta jogá-lo de um edifício. Um pai confunde toda a sua família e vizinhos com demônios, dando início à uma chacina. A Liga da Justiça não consegue dar conta de todas as ocorrências, mas percebem que são de origem mágica. O Batman recebe uma dica pra encontrar Constantine, dando início ao longa, reunindo outros feiticeiros e/ ou seres sobrenaturais para combater e descobrir a fonte do surto.

A apresentação dos “novos” personagens é muito boa, contextualizando para quem não os conhece. Constantine é o mago inglês que costuma passar a perna em demônios; Zatanna é uma poderosa mágica; Desafiador é o espírito de um trapezista, capaz de possuir corpos; Jason Blood é um guerreiro centenário que guarda o espírito de Etrigan, o Demônio. Todos se reúnem na Casa dos Mistérios, onde uma Orquídea Negra funciona tanto como mordomo quanto como manifestação da própria Casa. No decorrer ainda temos a inclusão do Monstro do Pântano temendo que o Verde seja afetado.

Essa Liga da Justiça Sombria funciona muito bem em conjunto e, talvez, nem precisassem da presença do Batman. Cada um possui um papel importante na trama e protagoniza bons momentos. Num dos primeiros embates, temos um “monstro de cocô” atacando um hospital numa sequência sensacional que lembra a “versão monstro” do Sem Rosto d’A Viagem de Chihiro. Particularmente, acho o estilo de animação da DC um pouco “travado”, principalmente se comparar com essas animações japonesas, mas aqui até que tem seus momentos mais suaves e as cenas mais rápidas (como essa do monstro) estão melhores que o normal. Mas os personagens continuam com rostos quase inexpressivos. As magias e “mandalas” criadas por Constantine e demais feiticeiros são bem psicodélicas e é impossível não lembrar do filme do Doutor Estranho, que também retrata um mundo mágico e em ambos os círculos seguem uma estética semelhante.

O final guarda uma surpresa muito boa e não cai apenas na história genérica de super grupo que se reúne pra salvarem a cidade. Zatanna se revela muito poderosa e é um dos destaques do filme. Só é estranho a tratarem como descontrolada e insana quando fica nervosa, enquanto Constantine não tem muita moral mas acaba saindo por cima em situações semelhantes. Liga da Justiça Dark é uma das melhores animações recentes da DC e traz a mistura que a editora fez recentemente, com personagens de seu próprio Universo (Batman, Zatanna) com os da Vertigo (seu selo voltado pra histórias mais adultas) como o próprio Constantine e o Monstro do Pântano. A Casa dos Mistérios foi uma adição excelente, um lugar que já pertenceu ao Universo DC tradicional, passou por Sandman e se manteve como série da própria Vertigo. É uma espécie de não-lugar onde John guarda todos os seus troféus.

A direção fica por conta de Jay Oliva, que já trabalhou em outros longas animados para a Warner/ DC como Batman Vs Robin e Liga Da Justiça: Ponto de Ignição. O roteiro tem participação de E. J. Altbacker, que já escreveu pra séries animadas como Super Choque e Ben10, e do super roteirista J. M. DeMatteis (autor da ótima série Moonshadow). Nas vozes originais, temos Matt Ryan reprisando seu papel de Constantine, Rosario Dawson como Mulher-Maravilha e até Alfred Molina como Destino. A animação pode funcionar muito bem como base para o longa live-action que a DC está planejando e que já tem na produção gente como Guillermo Del Toro. Mas também vem com algumas ressalvas. O Batman (assim como toda a Liga da Justiça) poderiam, facilmente, serem excluídos da animação. Provavelmente não foram por questões de marketing, já que o Batman fica meio perdido durante os debates e lutas (afinal, não é a praia dele), mas ajuda a vender e está no centro da capa. Isso faz pensar que uma versão live-action (por envolver mais dinheiro), possa trazer esses empecilhos. A classificação indicativa provavelmente também afetou a duração do filme. Com menos público, menos retorno e, então, menos tempo. Ele é bem curto, só 1h15m, dando a impressão de um episódio duplo. Felizmente, a classificação não é a toa e temos um tom sombrio de verdade, com mortes e sangue. Vale a pena assistir!

A LIGA DA JUSTIÇA DARK ORIGINAL

Os Novos 52 foi a tentativa fail da DC em 2011 de reiniciar todo o seu Universo: o famoso reboot. Assim, todas as suas revistas começaram do zero e quase todos os personagens ganharam uma nova roupagem ou origem. Um outro detalhe dessa fase foi a junção que ela fez de certos personagens da Vertigo com o Universo DC tradicional. Assim, tivemos Monstro do Pântano, Homen-Animal, Constantine e até o Shade, o Homem-Mutável caminhando entre os heróis de collant uma vez mais, entre outros personagens que nasceram no UDC mas que foram para a Vertigo na década de 1990. Além deles ganharem revistas solo, surgiu aí a Liga da Justiça Dark (ou Sombria) criada pelo Peter Milligan, um dos meus autores preferidos e que já havia trabalhado nas séries de praticamente todos esses personagens. Ele formou uma equipe composta inicialmente por Madame Xanadu, Zatanna, Constantine, Shade e Desafiador. A série saiu por aqui na mix Dark da Panini, que era muito interessante e cheguei a resenhar as primeiras edições.

SUGESTÕES DE LEITURA

 

Alguns dos personagens que aparecem no longa animado possuem ótimas histórias. Indico a leitura de Orquídea Negra do Neil Gaiman, narrativa excelente com a arte de Dave McKein. O Monstro do Pântano do Alan Moore está entre as fases mais clássicas da editora. O especial Bem-vindo à Casa dos Mistérios do encadernado Dias da Meia-Noite, também do Gaiman. E a ótima minissérie do Desafiador, Amor Após a Morte!

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