(Este post é um fichamento de um texto de Peter J. Carrol. O texto original está disponível aqui)

caos

ARGUMENTOS DO AUTOR

A idéia principal do texto é mostrar como o declínio da crença na salvação através da religião e, mais atualmente, o declínio da salvação através da ciência pavimentaram o caminho para o surgimento da Magia do Caos.

Quem teria iniciado esse processo foi o mago inglês Aleister Crowley que, desenvolvendo um método mágico mais “científico”, começou um intenso combate contra o monoteísmo. “A realização maior de Crowley, além de sua moralidade futurística, foi desenterrar poderosas técnicas do Tantra Ioga, Gnosticismo, Taoísmo e Xamanismo” (pág.2). Porém ele teria falhado ao dogmatizar sua visão de mundo e atribuir que os resultados de suas experiências à entidades de origem extra-humana. Então quem realmente aproximou a magia da ciência, desenvolvendo uma metodologia não dogmática, foi Austin Osman Spare.

Valendo-se de um mínimo de hipóteses, ele desenvolveu uma Magia a partir de sua própria memória e subconsciente raciais. Independentemente de sistemas complexos, ele desenvolveu técnicas efetivas de encantamento e sigilização que requeriam somente a linguagem e figuras ordinárias. (pág.1)

O trabalho de Spare compõe a ponte entre a Magia Antiga trazida a luz por Crowley – cujo apelo, poder e potencial de liberação se derivava mais por seu estilo religiosa anti-religião – e a Nova Magia, por sua vez, caracterizada justamente por ser uma ciência anti-científica. (pág.1)

Mas a Magia do Caos não pretende se estabelecer com pseudo-ciência. Seu objetivo seria o de mostrar que ela não somente preenche as lacunas deixadas pela ciência como a própria ciência depende dela para ser como tal. O que os magos o Caos querem é mostrar como a ciência é tão limitadora quanto a religião e quebrar esse limites. “A melhor magia sempre teve um forte sabor anti status quo” (pág.1). E para isso ela se concentra na técnica.

Debaixo de todos os sistemas que os magos mais ecléticos podem usar, da bruxaria à feitiçaria tibetana, há um consenso de uma técnica prática, dependente de visualização, da criação de entidades do pensamento e de estados alterados de consciência que deverão ser atingidos através de uma meditação estática ou dinâmica.” (pág.2)

Na verdade os recônditos quase desconhecidos de nossos cérebros podem ser até mais criativos do que as partes conscientes, nenhuma mensagem dos deuses, não importa o quanto sejam extraordinárias e envolventes, podem ser tomadas como provas de alguma coisa além de nossos próprios e inacreditáveis poderes. (pág.2)

Pode parecer um paradoxo rejeitar qualquer realidade externa em uma busca espiritual, mas assim se consegue liberdade para se forjar uma própria visão espiritual, seja ela qual for. Se fomos criados por padrões acidentais e comportamento casuais, então somos livres. Não devemos nos limitar nem pela religião, nem pela ciência e nem pela política. “A verdade absoluta seria sempre uma tirania absoluta, como tem historicamente sido” (pág.2).

A magia cresce em momentos de expansão máxima dos limites sociais ou em momentos de opressão máxima dessa mesma sociedade. O momento em que vivemos é particularmente proveitoso para o crescimento da magia pela extrema liberdade que temos de ir e vir e de se comunicar que temos ao mesmo tempo em que cada vez mais uma visão político-capitalista, com sua democracia e materialismo solapando o individualismo e a espiritualidade.

Portanto o momento agora exige pessoas que estejam a par dos paradigmas atuais e procurem em todos os lugares e em todos os tempos maneiras de quebrá-los. Fazem-se necessários Cientistas-Feiticeiros.

APRECIAÇÕES SOBRE A OBRA

A intenção clara do autor é mostrar que a Magia do Caos, justamente por ser não-dogmática e trazer em seu bojo traços de ciência e magia, seria a melhor opção para lidar com a realidade atual e mudá-la de acordo com nossa vontade. Mas não é um texto para leigos. Diversos nomes e técnicas citados são compreensíveis somente para quem já tem algum tempo de caminhada no meio ocultista. Logo vemos também que o que se quer aqui não é convencer leigos e sim mostrar para quem já está na caminhada espiritual a intenção acima declarada.

Num primeiro momento nos é passado uma linha do tempo para entender como chegamos na Magia do Caos e nos parece que ela é uma conseqüência natural do que ocorreu, o que demonstra solidez e coerência nos argumentos.

Porém no momento em que nos deparamos com as comparações entre a Magia do Caos, ciência, religião e outros métodos mágicos, o autor peca por mostrar certa arrogância e desdém. Não se pode esquecer que entre os possíveis leitores desse texto podem haver pessoas que não são adeptas da Magia do Caos e isso pode mais afastá-las do que atraí-las. Podem achar essa preocupação leviana, mas é algo a se pensar quando estamos divulgando alguma linha de pensamento.

De qualquer maneira, o texto é bem escrito, bem contextualizado e cumpre seu objetivo, explicando o surgimento da Magia do Caos, suas bases e a necessidade dela para os tempos atuais.

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