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Após uma HQ sobre os bastidores da redação de uma novela, Hector Lima ficou conhecido por toda a cena de quadrinhos. Ler Sabor Brasilis me mostrou que uma mente criativa e perspicaz estava assumindo seu papel.

Pouco depois, tive a oportunidade de encontrar o Hector em diversos lugares e conhecer melhor seu trabalho em HQs como Barão Macaco, que é um baita thriller. Sem falar que suas opiniões políticas são sempre relevantes e tem um gosto musical muito bacana.

Para você entender melhor quem é esse grande autor de HQ, bati um papo com Hector Lima. Saca só:

Como foi que começou a se interessar por quadrinhos? 
Aprendi a ler com eles, graças à Turma da Mônica, Marvel e DC, pra depois na adolescência conhecer muitos outros mundos como da revista Animal, selo Vertigo (que formou meu caráter), Dark Horse, First, mangás, Los 3 Amigos etc. Desde moleque eu me via criando histórias, fosse no desenho ou em textos, e nunca tirei da cabeça que gostaria de trabalhar com isso um dia.
Fale um pouco sobre sua vida profissional e sua produção como roteirista de quadrinhos.
Cortando pra alguns anos depois, me formei em Letras pensando sempre em escrever (nunca dei aula mesmo tendo Licenciatura) e fui garçom por um dia, auxiliar de armazém de porto por uns meses, balconista de livraria por cerca de um ano, corretor de redações de cursinhos, redator de quiz, repórter de sites, resenhista e revisor de livros, tradutor, moderador de MMORPG, redator publicitário… e hoje gerente local de uma rede social Educativa. Comecei publicando fanzine xerocado na adolescência e fui me autopublicando (como em “Zumbigo, o Major“), além de me participar de coletâneas do Brasil e exterior (como “Manticore“, “Just1page“, “MSP Novos 50“, “Necronauta 2“) e daí – através de parcerias cada vez mais legais com artistas incríveis como Felipe Cunha, George Schall, Milton Sobreiro, Anderson Nascimento e tive outros álbuns / graphic novels publicadas como Sabor Brasilis, Barão Macaco e Mulheromem.
Quais as diferenças criativas entre Barão Macaco e Mulheromem?
A Ameaça do Barão Macaco é uma história policial direta e reta, sobre um vigilante em uma cidade tomada pelo crime. Tem influência de livros, filmes e gibis dos gêneros Pulp e Giallo, além de tentar discutir um pouco as relações sociais da contravenção e onde entra luta de classes nesse bolo. Mulheromem é uma história em dois mundos: uma aventura nostálgica cheia de duplo sentido e também uma exposição metalinguística do próprio processo criativo dela no “mundo real” de um roteirista em crise.
Você encontrou alguma dificuldade ao escrever Mulheromem? Que tipo de pesquisa foi feita?
Foi o gibi mais difícil que já escrevi até hoje, porque passei pelo que entendo hoje como um processo (não clinicamente diagnosticado) de depressão. O que gerou inúmeros atrasos da minha parte – e pela compreensão sou muito grato ao Anderson Nascimento e à PriWi que fizeram a arte, ao editor Claudio Martini da Zarabatana e à Secretaria de Cultura do Estado que bancou a produção da obra via ProaC. Difícil também por eu justamente tentar processar todos os sentimentos destrutivos que estava vivendo na forma de uma alegoria muito pessoal, em que cada personagem serviu como metáfora de um sentimento específico e quando me dei por mim tinha criado uma estrutura muito similar à do Modelo de Kübler-Ross, que trata de como nossa psiquê lida com o Sofrimento. Então foi um lado complicado da pesquisa porque eu fiz uma viagem dentro de mim mesmo, tentando me arrastar pra fora do poço. A parte legal da pesquisa foi a das referências do lado mais pra cima da história: gibis da Marvel e DC dos anos 70 com balões na capa e conversavam diretamente com os leitores, animações da Filmation como “Mulher-Aranha”, “Homem-Borracha” e “Minimini”, seriados de Syd e Marty Krofft como “O Elo Perdido” ou “Mulher Elétrica” e “Garota Dínamo”, tudo em que um cara de 40 anos poderia encontrar refúgio nostálgico… e o certo perigo contido nisso.
SF – O que falta para o mercado nacional de quadrinhos atingir mais leitores?
Melhorar a Educação e a renda do brasileiro, A gente já tem bons autores, boas histórias, boas editoras, distribuição razoável (que pode melhorar), alguma divulgação (que pode crescer muito), leitores interessados e eventos inacreditáveis. Mas precisamos de muito mais leitores pra termos um mercado real com demanda pelas obras durante todo o ano, não só nos eventos. E só vamos ter mais leitores quando o hábito de leitura for mais difundido e se puder gastar mais com isso. Com a “PEC do fim do mundo”, do atual governo federal ilegítimo, congelando investimentos na Educação por décadas, desemprego em nível recorde, perda de direitos trabalhistas etc, só vejo essa melhora acontecendo em no mínimo 5 ou dez anos. Mas não podemos parar de produzir, apesar de tudo – quando de fato tivermos um mercado que se sustente no Brasil quem já tiver publicado com regularidade vai ter construído um corpo de obras variado e forte.
SF – Cite 5 quadrinhos nacionais que têm o roteiro impecável.
Sou péssimo em fazer listas, mas vou tentar: todos os volumes de Mayara & Annabelle, de Pablo Casado com argumentos dele e do Talles Rodrigues, porque eles têm um timing incrível pra humor e fazem caracterizações ótimas das personagens no que talvez sejam os diálogos mais legais produzidos hoje. A Grande Cruzada, do Theo Szczepanski, porque mostrou muito bem um mundo medieval Fantástico com o fantasma do fanatismo Cristão (que voltou à moda). Ciranda da Solidão do Mário César, pelo retrato bastante humano das pessoas em descobertas de identidade e desilusões amorosas. Bando de Dois do Danilo Beyruth, que conseguiu desenvolver um faroeste épico no nosso cangaço em que tudo funciona muito bem. Dona Teresa foi pro Céu da Camila Torrano na coletânea SPAM, que em poucas páginas fez uma das histórias mais criativas, interessantes e bem escritas dos últimos anos, sobre uma senhorinha viúva, um vibrador, sua vizinha trans e a vida após a morte.
SF – Pode nos adiantar alguma coisa sobre seu próximo projeto?

Vai ser o segundo volume de Mulheromem pra fechar o mistério, e depois uma dessas outras seis coisas (o que ficar pronto primeiro): uma adaptação literária, O Segredo do Guru, uma ficção científica espacial, Noite das Bruxas, um suspense paranoico, Maria Loca e voltar a fazer em casa mixtapes de sons sinistros que quase ninguém gosta.


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