Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Loki - Arnaldo Baptista e a banda Os Mutantes Loki – Arnaldo Baptista é um documentário cine-biográfico lançado em 2008 sobre a vida do gênio por trás da maior banda de rock do Brasil: Os Mutantes. Reverenciado no exterior, o compositor, cantor, multi-instrumentista, fundador e líder de uma das bandas mais criativas e geniais que o solo tupiniquim já nutriu, Arnaldo Baptista é um quase desconhecido em seu próprio país. O documentário, premiado como Melhor Documentário pelo Júri Popular no Festival do Rio e da Mostra Internacional de São Paulo, resgata o Arnaldo de seu retiro no interior de Minas Gerais para lembrar a todos de uma das maiores personalidades da música popular brasileira. “O gênio é só um louco que deu certo” (Albert Einstein) Loki narra a trajetória musical de Arnaldo, desde a banda de garagem Six Sided Rockers, no início da década de 1960, até a consagração com a banda Os Mutantes, o casamento apaixonado com Rita Lee e as loucuras movidas a LSD no início dos anos 1970. Depois, narra a dura e repentina separação, a decadência, a loucura, a tentativa de suicídio, o coma, para culminar na recuperação, um novo amor, o retiro no interior de Minas Gerais e a volta triunfante com o album solo Let it Bed, de 2004 e a reunião d’Os Mutantes em 2006 (com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee) e com o show em homenagem à Tropicália realizado no Barbican Centre, em Londres, na mostra Tropicália – A Revolution in Brazilian Culture. Todas as fases da vida do músico são lembradas por personalidades que conviveram e admiraram o compositor, como Tom Zé, Lobão, Nelson Motta, Gilberto Gil, Sergio Dias, Dinho Leme, Zélia Duncan, Liminha e Rogério Duprat, além de sua mãe, a pianista clássica Clarisse Leite, e de sua segunda mulher, a atriz Martha Mellinger. Fãs internacionais de Arnaldo, como Kurt Cobain, Sean Lennon e Devendra Banhart – que afirma que os Mutantes são melhores que os Beatles – também prestam suas homenagens ao ídolo e reiteram a importância de Arnaldo Baptista na história da música, não só no Brasil, mas no mundo. A falta de depoimentos de Rita Lee no documentário chama atenção, o que levanta suspeitas de que ela ainda não tenha superado as mágoas da separação. Talvez ela se sinta em parte responsável pela depressão e decadência que seu ex-marido viveu após o rompimento do casamento. Me lembro que em 2006, quando Os Mutantes anunciaram que voltariam à ativa, ela fez declarações despeitadas, afirmando: “O revival é um bando de velhinhos espertos, sim, tentando descolar grana para pagar geriatra!” Mas apesar de depor contra ela, sua ausência no documentário não diminui o mérito do filme. Uma das cenas mais hilárias e psicodélicas do filme é a que mostra a participação da banda Os Mutantes no programa da TV Cultura Jovem Urgente, apresentado por Paulo Gaudêncio, psiquiatra e professor da PUC-SP. O programa era dirigido aos jovens e seus pais, em linguagem coloquial e direta, acessível ao público não especializado. A estrutura era simples: um grupo de jovens e pais sentados em círculo e o psiquiatra Paulo Gaudêncio no centro, numa cadeira giratória, com uma prancheta e pincel atômico para eventuais explicações – qualquer semelhança com Serginho Groisman é mera coincidência. Mas ao contrário do apresentador global, que prefere desfilar de mãos dadas com as autoridades, o Jovem Urgente foi o primeiro programa de televisão a sofrer censura pela Ditadura Militar no Brasil. Em 1969 e sua exibição foi proibida em todo o território nacional. Um dos motivos que levou a isso foi a participação de um bando de jovens artistas dos mais malucões pra falar “aquilo que os jovens musicalmente estão dizendo e os adultos não ouvem”: os Novos Baianos, os Mutantes e Tom Zé. Interessante notar que nesta época eles ainda nem haviam experimentado o LSD, mas já dominavam a psicodelia, a inovação e a criatividade artística sem o artifício de enteógenos. O filme perde um pouco o ritmo em algumas passagens, especialmente quando mostra as cenas atuais de Arnaldo e sua esposa em sua casa. A tentativa de trazer um tom dramático e de emocionar o espectador falha em alguns momentos, provocando a perda da concentração, mas isso é compensado pela excelente trilha sonora, repleta de clássicos dos Mutantes, como Qualquer Bobagem, Ando Meio Desligado, Balada do Louco, Top Top, Tecnicolor e Panis et Circenses, algumas delas em versões raras, além de músicas da primeira banda de Arnaldo Baptista, O’Seis; de sua carreira solo; e de outros projetos idealizados pelo compositor, como a peça de teatro Heliogábalo, da qual foi diretor musical, e os grupos Patrulha do Espaço e Unziotro. O documentário revela enfim a personalidade, a genialidade e a pessoa de Arnaldo Dias Baptista, o Syd Barret brasileiro Dizem que sou louco por pensar assim Mas louco é quem me diz e não é feliz Eu sou Feliz (Arnaldo Baptista, A Balada do Louco) Loki – Arnaldo Baptista (Brasil, 2008) Duração: 120 min. Gênero: Documentário Direção, Roteiro e Montagem: Paulo Henrique Fontenelle Nota: 9