Loki - Arnaldo Baptista e a banda Os Mutantes

Loki – Arnaldo Baptista é um documentário cine-biográfico lançado em 2008 sobre a vida do gênio por trás da maior banda de rock do Brasil: Os Mutantes. Reverenciado no exterior, o compositor, cantor, multi-instrumentista, fundador e líder de uma das bandas mais criativas e geniais que o solo tupiniquim já nutriu, Arnaldo Baptista é um quase desconhecido em seu próprio país. O documentário, premiado como Melhor Documentário pelo Júri Popular no Festival do Rio e da Mostra Internacional de São Paulo, resgata o Arnaldo de seu retiro no interior de Minas Gerais para lembrar a todos de uma das maiores personalidades da música popular brasileira.

“O gênio é só um louco que deu certo” (Albert Einstein)

Loki narra a trajetória musical de Arnaldo, desde a banda de garagem Six Sided Rockers, no início da década de 1960, até a consagração com a banda Os Mutantes, o casamento apaixonado com Rita Lee e as loucuras movidas a LSD no início dos anos 1970. Depois, narra a dura e repentina separação, a decadência, a loucura, a tentativa de suicídio, o coma, para culminar na recuperação, um novo amor, o retiro no interior de Minas Gerais e a volta triunfante com o album solo Let it Bed, de 2004 e a reunião d’Os Mutantes em 2006 (com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee) e com o show em homenagem à Tropicália realizado no Barbican Centre, em Londres, na mostra Tropicália – A Revolution in Brazilian Culture.

Todas as fases da vida do músico são lembradas por personalidades que conviveram e admiraram o compositor, como Tom Zé, Lobão, Nelson Motta, Gilberto Gil, Sergio Dias, Dinho Leme, Zélia Duncan, Liminha e Rogério Duprat, além de sua mãe, a pianista clássica Clarisse Leite, e de sua segunda mulher, a atriz Martha Mellinger.

Fãs internacionais de Arnaldo, como Kurt Cobain, Sean Lennon e Devendra Banhart – que afirma que os Mutantes são melhores que os Beatles – também prestam suas homenagens ao ídolo e reiteram a importância de Arnaldo Baptista na história da música, não só no Brasil, mas no mundo.

A falta de depoimentos de Rita Lee no documentário chama atenção, o que levanta suspeitas de que ela ainda não tenha superado as mágoas da separação. Talvez ela se sinta em parte responsável pela depressão e decadência que seu ex-marido viveu após o rompimento do casamento. Me lembro que em 2006, quando Os Mutantes anunciaram que voltariam à ativa, ela fez declarações despeitadas, afirmando: “O revival é um bando de velhinhos espertos, sim, tentando descolar grana para pagar geriatra!” Mas apesar de depor contra ela, sua ausência no documentário não diminui o mérito do filme.

Uma das cenas mais hilárias e psicodélicas do filme é a que mostra a participação da banda Os Mutantes no programa da TV Cultura Jovem Urgente, apresentado por Paulo Gaudêncio, psiquiatra e professor da PUC-SP. O programa era dirigido aos jovens e seus pais, em linguagem coloquial e direta, acessível ao público não especializado. A estrutura era simples: um grupo de jovens e pais sentados em círculo e o psiquiatra Paulo Gaudêncio no centro, numa cadeira giratória, com uma prancheta e pincel atômico para eventuais explicações – qualquer semelhança com Serginho Groisman é mera coincidência. Mas ao contrário do apresentador global, que prefere desfilar de mãos dadas com as autoridades, o Jovem Urgente foi o primeiro programa de televisão a sofrer censura pela Ditadura Militar no Brasil. Em 1969 e sua exibição foi proibida em todo o território nacional. Um dos motivos que levou a isso foi a participação de um bando de jovens artistas dos mais malucões pra falar “aquilo que os jovens musicalmente estão dizendo e os adultos não ouvem”: os Novos Baianos, os Mutantes e Tom Zé. Interessante notar que nesta época eles ainda nem haviam experimentado o LSD, mas já dominavam a psicodelia, a inovação e a criatividade artística sem o artifício de enteógenos.

O filme perde um pouco o ritmo em algumas passagens, especialmente quando mostra as cenas atuais de Arnaldo e sua esposa em sua casa. A tentativa de trazer um tom dramático e de emocionar o espectador falha em alguns momentos, provocando a perda da concentração, mas isso é compensado pela excelente trilha sonora, repleta de clássicos dos Mutantes, como Qualquer Bobagem, Ando Meio Desligado, Balada do Louco, Top Top, Tecnicolor e Panis et Circenses, algumas delas em versões raras, além de músicas da primeira banda de Arnaldo Baptista, O’Seis; de sua carreira solo; e de outros projetos idealizados pelo compositor, como a peça de teatro Heliogábalo, da qual foi diretor musical, e os grupos Patrulha do Espaço e Unziotro. O documentário revela enfim a personalidade, a genialidade e a pessoa de Arnaldo Dias Baptista, o Syd Barret brasileiro

 

Dizem que sou louco por pensar assim

Mas louco é quem me diz e não é feliz

Eu sou Feliz

(Arnaldo Baptista, A Balada do Louco)

 

Loki – Arnaldo Baptista (Brasil, 2008)

Duração: 120 min.

Gênero: Documentário

Direção, Roteiro e Montagem: Paulo Henrique Fontenelle

Nota: 9

 

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais por Gabriel Dread
Load More In Destaque

No Comments

  1. Tavares

    10 de fevereiro de 2012 at 10:27

    Já vi que esse blog vai ser uma merda, daqui a pouco elogiam Chico Buarque.

    Que porcaria.

    Reply

    • Niltovisky

      13 de fevereiro de 2012 at 13:00

      bom é quem mesmo?

      Reply

  2. agrt

    10 de fevereiro de 2012 at 10:45

    Arnaldo Baptista é um (se não o maior) gênio da música brasileira, e um artista de nível internacional desde os anos 70. Aliás, a música psicodelica brasileira dos anos 60-70 não tinha motivo nenhum pra se envergonhar sonoramente em relação ao que estava sendo feito fora, o único defeito real era a falta de tecnologia pra gravação de albuns bons, as limitações tecnicas. Arnaldo esteve no “tropicalismo” em quanto o movimento teve força e criatividade e soube sair fora, pro experimental puro, quando começou a se institucionalizar com os papos caetânicos de ‘linha evolutiva da musica popular brasileira” após a volta do exílio, quando Caetano e Gil ficaram mais ~caretas~.
    O documentário é muito bom no resgate do início da carreira d’Os Mutantes, até a gravação do “Loki?”, um dos albuns mais pirados da carreira do ex-Mutantes, mas realmente quando volta pro “presente’, dá uma quebra chata na narrativa.

    Reply

  3. Tavares

    10 de fevereiro de 2012 at 12:54

    Cara esse blog surgiu pra repetir os clichês que todo mundo quer ouvir.

    LOvecraft, Arnaldo débilóide Batista, daqui a pouco vão pregar a legalização da maconha e dizer que Alan Moore é um gênio.

    Não falam nada de novo!

    Que subversão é essa que fala o que todo mundo já disse, o que todo mundo quer ouvir?

    Sou dez mil vezes mais subversivo.

    Isso aqui é coisa de universotário alienado.

    Reply

    • agrt

      10 de fevereiro de 2012 at 13:09

      Isso é a resenha de um documentário cara , tu queria o quê? UASUOASUAS numa resenha se comenta sobre um artefato cultural, saca?
      Original mesmo é falar dos ilumminati, de como a esquerda está destruindo a civilização cristã desde a comuna de Paris e Revolução Francesa. Como os comunistas comem crianças e os anarquistas são terroristas sem escrupulos querendo destruir os valores universais da familia. Tipo teu ~blog~. Né? ha ha

      Reply

    • Roberto

      14 de fevereiro de 2012 at 14:16

      Esse blog não repete os clichês que todo mundo quer ouvir: Alan Moore, Frank Miller, Watchmen, V de Vingança.

      só pra citar alguns

      http://www.emquadrinho.com/

      pimenta no teu cu é refresco pra mim

      PS: Arnaldo Baptista é um gênio

      Reply

  4. Filipe Siqueira

    10 de fevereiro de 2012 at 13:27

    Se você odiou e disse que é coisa de alienado (daqui a pouco aparece a prova que somos financiados pela VEJA) é um sinal de que estamos no caminho certo!

    E obrigado por comentar em literalmente TODOS os lugares onde escrevo, sua presença é ilustre e sempre bem-vinda, continue se alienando a vontade.

    Reply

  5. Tavares

    11 de fevereiro de 2012 at 08:22

    Filipe, vc não é um cara burro, ao contrário dos seus fãs. Vc sabe do que to falando.

    Esse seu novo site no mínimo faz propaganda enganosa. Porque o slogan de subversão com essa matéria sobre um retardado da MPB que já foi homenageado em tudo que é mídia mainstrean não combina

    Quer ser subversivo, posta o video do Lobão detonando a tropicalia, os comunistas dos anos sessenta e tudo mais.

    Não precisa, eu posto pra vc:

    Isso é subversão hoje em dia amigo.

    O que é a corrente dominante da cultura é o contrário da subversão. É isso que vc parece querer mostrar aqui, a subversão de quem usa camiseta de Che Guevara e se acha revolucionário por isso, subversão de boutique. Com certeza vc vai fazer sucesso, mas deveria mudar de slogan.

    Reply

  6. Jonathan Rodrigues (Toon Link)

    11 de fevereiro de 2012 at 22:44

    O cara é um gênio da música, mas não se pode falar isso porque ele foi reconhecido – tardiamente e não o tanto quanto merece, diga-se de passagem.

    Na boa, que idiotice.

    Posta o vídeo do Lobão falando da tropicalia e aproveita e posta o vídeo dele elogiando à beça o Arnaldo, tanto no documentário, quanto em qualquer outra oportunidade, inclusive em rede nacional.

    Não gosto de dizer isso, soa pretencioso e tal, mas eu sinceramente duvido de que você conheça bem do que resolveu falar mal sem o determinado conhecimento. Já vi gente repetir as mesmas merdas, geralmente influenciado por opniões de terceiros, e depois se envergonhar após realmente conhecer por si do que estava falando, e de que banda estava falando.

    Reply

  7. Mário César

    9 de abril de 2012 at 18:40

    Eu acho, senhor Tavares, que não se deve refutar totalmente algo apenas por “gente demais defender”. Há muita idiotice que funciona assim, muita babaquice sendo disseminada, sim, mas nem tudo que é disseminado é ruim. Ser de esquerda, ou ser de direita (sejam elas quais forem no momento histórico) é fácil, o foda é ter o seu próprio lado da história pra contar. Quer ser subversivo por ser, vai lá, você vai ter seus seguidores, mas você não vai sair jamais do lugar, vai ficar chafurdando e se afundando cada vez mais em opiniões duvidosas e criar pra si o rótulo merecido de babaca.

    Acho muita coisa da cultura e política estado unidenses odiosas, repugnantes. Pode me chamar de um anti-estado unidense. Nem por isso radicalizo e paro de usar calça jeans, pois calça jeans funciona.

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Confira também!

Desescolarização – parte 2: Uma questão de princípios

Eu quero começar a essa segunda parte da série Desescolarização afirmando o objetivo dela.…