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Se você é um gótico que lê poesia e toma vinho no cemitério, sabe que além de Augusto dos Anjos, se faz necessária a presença de um livro do maior trevoso de todos, Edgar Allan Poe, senão o rolê por entre as catacumbas não estará completo. Creio que até a Glorinha Kalil concorda que é de bom tom recitar uns nevermores ali no meio para combinar com a vestimenta.

Lançado no ano passado, Edgar Allan Poe: Medo Clássico — Volume 1 reúne os trabalhos mais famosos do escritor americano. E tem diuntudo: conto, novela e poema, além de uma curiosa introdução do Charles Baudelaire falando que o Poe é muito cabeçudo. No sentido de crânio grande mesmo, já que além de bigodudo ele era meio testudo. Enfim, algo fundamental para compreendermos a obra.

Além de contar com aquela que aparentemente é a melhor capa de suas obras publicadas aqui no Brasil, o livro também conta com uma organização interessante. A tradutora e organizadora, professora Marcia Heloisa, separou os trabalhos em seções como: “Espectro da morte”, “Narradores Homicidas”, “Mulheres Etéreas”, etc, o que pode representar um excelente fio condutor para leitores que ainda não conhecem a obra do autor. Fora isso, várias ilustrações ótimas de Ramon Rodrigues estão espalhadas ao longo do livro, colaborando para o tom sinistro da coisa toda.

O livro já começa com um classicão que é O Poço e o Pêndulo, com o maluco lá no escuro, cheio de ratos, sendo torturado pela inquisição espanhola. Na sequência vem aquele que considero o melhor conto do autor: A queda da casa de Usher. Volta e meia eu falo que esse conto deveria ser uma leitura obrigatória para qualquer pessoa que pense em algum dia escrever histórias de terror. Vários dos problemas que vejo em obras de autores contemporâneos, em especial a falta de desenvolvimento de uma atmosfera de suspense, poderiam ser evitados se esse povo fizesse uma leitura atenta deste conto.

Nada é óbvio ali e tudo é assustador. Um sujeito visita um amigo das antigas que anda doente e mora no meio do nada, numa casa bizarra que num primeiro momento ele só observa através do reflexo de um lago, como se ao olhar diretamente tivesse que enfrentar seus próprios demônios. Aí o amigo tá lá só o pó da gaita, no meio de um casarão esquisito e que conta a presença sinistra de sua irmã.

Tá tudo ali, a sensação de ameaça, o clima sombrio, a proximidade da loucura e a indefinição de que algo sobrenatural está ou não acontecendo.

Foto: http://infinitapossibilidades.blogspot.com

Algo parecido também rola no excelente Berenice. Este é o conto em que Edgar Allan Poe cria uma das imagens mais sinistras em sua obra (mais até do que a mania e emparedar pessoas tipo em Barril de Amontillado): a do sujeito desesperado abrindo uma cova no meio da noite para tirar um corpo recém-enterrado lá de dentro e arrancar-lhe os dentes com um alicate.

Berenice é uma obra-prima do terror, porque além de assustador, é narrado de forma genial, uma vez que o próprio maluco narra a história e a sua insanidade só vai piorando conforme a história avança, mas nem ele e nem o leitor percebem isso totalmente até que o clímax chega com os dois pés na peito. E o mais interessantes: em momento algum o autor descreve a imagem que eu citei ali em cima, ele apenas nos leva a imaginá-la por conta própria. Por isso é um clássico, por isso é atemporal.

Creio que essa capacidade de sugerir algo terrível, mais do que a capacidade de explicitar plasticamente a violência, é o que de fato nos aterroriza, pois as imagens que completamos com nossa própria imaginação podem ser bem sombrias.

Foto: http://colorindonuvens.com

Esta coletânea também apresenta alguns trabalhos de 25literatura policial, então não poderia faltar o mais famoso deles, Os assassinatos na rua Morgue. Este é o texto em que Poe praticamente determina como seria o gênero dali pra frente, em especial a exploração das deduções lógicas de seu famoso detetive, C. Auguste Dupin, considerado por muitos como o primeiro detetive da ficção, tipo um pai para o Sherlock Holmes. Espero que o leitor não coloque o meu nome na boca de um sapo por esta opinião impopular, mas considero o final desse conto uma das coisas mais frustrantes que já li. Gosto da condução da investigação, mas não consigo não achar o final risível. Enfim, prefiro o Poe trevoso, cheio de gente maluca que dá machadada em gente inocente só porque o gatinho de estimação não para de miar.

Esta edição também explora algumas histórias de aventura como Manuscrito encontrado numa garrafa e o divertido O escaravelho de ouro. São histórias que exploram a ação e o mistério, mas que ainda contam com alguns elementos sinistros aqui e ali.

Foto: http://infinitapossibilidades.blogspot.com

O livro fecha com chave de ouro, ou melhor, com chave de osso humano, trazendo o poema O Corvo na versão original e nas traduções de Machado de Assis e de Fernando Pessoa. Mas o que mais me chamou atenção é um texto crítico que vem antes disso, escrito pelo próprio Edgar Allan Poe explicando com riqueza de detalhes quais os efeitos que ele pretendia com as estrofes, as escolhas de palavras, o ritmo, etc. Coisa finíssima.

Na próxima ida ao cemitério, além da maquiagem escura, leve essa edição pra impressionar os amigos.

Obs: O segundo volume, Edgar Allan Poe: Medo Clássico — Volume 2, já está em pré-venda!

 

Edgar Allan Poe: Medo Clássico — Volume 1
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: DarkSide Books (2017)
Páginas: 384
Tradução: Marcia Heloisa

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