Quando se cresce assistindo Sexta-feira 13, Halloween, A Hora do Pesadelo, etc acho que é meio normal você passar a se sentir uma espécie de autoridade no tema serial killer. Lembro-me com certo orgulho de uma vez, sabe-se lá em qual recôndito do ensino fundamental, em que a professora perguntou qual filme tínhamos assistido recentemente e eu ergui a mão para dizer todo empolgado: “O canibal de Milwaukee”!

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Pois bem, alguns anos e série e quadrinhos e livros e filmes depois, quando eu já pensava que jamais seria surpreendido com mais histórias dessa gente insana, eis que me vejo completamente chocado com as descrições dos crimes em Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel, escrito pela Ilana Casoy.

É sério, por mais violento que seja um filme de terror, dificilmente ele alcançaria um efeito tão perturbador quanto, por exemplo, o dessa descrição do modus operandi de Andrei Chikatilo, conhecido como O Açougueiro Russo:

“O ritual de morte utilizado por Andrei Chikatilo desafiava qualquer ficção. Atraía suas vítimas, sem jamais forçá-las a acompanhá-lo, para áreas isoladas, em geral nas cercanias de estações de trens. Ao chegar a esses lugares, onde bosques são comuns, aquele senhor tão quieto e intelectual passava a se comportar como uma fera selvagem. Ele mesmo se descreveu como ‘lobo enlouquecido’. Amarrava suas vítimas com rapidez, golpeava-as, prendendo-as contra o chão, e imediatamente arrancava a língua com mordidas, para evitar que gritassem. Na sequência, violava e mutilava. A primeira mutilação a que as submetia era a dos olhos: ele os arrancava com a faca, de modo que não pudesse ser observado em sua performance sexual, o que seria a sua ‘assinatura’ do crime durante alguns anos. Depois de satisfeito, desmembrava-as ainda vivas, infligindo nelas entre quarenta e cinquenta feriadas profundas. Muitas vezes arrancava o órgão sexual de suas vítimas usando como arma a própria boca. Outras vezes, enchia a barriga delas com terra e depois as destrinchava. Fervia e comia testículos e mamilos arrancados; arrancava nariz e dedos. Muitas das crianças que matou foram mutiladas ainda vivas”.

Acho meio difícil ler uma coisa dessas e não ficar com cara de WTF?

Ilana Casoy é uma referência quando o assunto é gente sinistra. Este é seu primeiro livro, mas ela já lançou vários outros, incluindo um sobre o casal Nardoni e Suzane Richthofen. Aqui ela destrincha como são feitas as investigações de crimes em série, tendo como base as técnicas desenvolvidas pelo FBI.

Se você assistiu Mindhunter, da Netflix, já sabe como surgiu aquela metodologia criada pelo departamento de polícia americano, que tem como foco desenvolver um perfil físico e psicológico do criminoso com base em algumas evidências e “assinaturas” que costumam se repetir em outros casos, estabelecendo assim um padrão que pode ajudar na busca por suspeitos. A ideia é sempre tentar se antecipar ao criminoso, estudar o seu passado e tentar descobrir e impedir o seu próximo passo, o que nem sempre funciona com perfeição, tendo vista que vários criminosos passaram dos dois dígitos no número de vítimas ou até mais do que isso. A título de curiosidade: no fim do livro há um ranking de serial killers com base no total de assassinatos e no topo da lista está o colombiano Pedro Alonso Lopez, o Monstro dos Andes, que estuprou e matou mais de 300 meninas que tinham de 8 a 12 anos.

A autora dá diversos detalhes deste processo de investigação e também desmistifica alguns lugares comuns que a gente que vê muito filme têm como certo, como por exemplo a ideia de que um serial killer não sente empatia e por isso comete o crime de forma tão fria. Na real é justamente o contrário, pois parte do objetivo do assassino é infligir o máximo de dor e desespero. Ele sabe o quanto dói, ele sabe que causa um sofrimento enorme e busca algum tipo de recompensa nisso.

A maior parte do livro é dedicada a dissecar a vida de alguns criminosos famosos, como Ted Bundy, Aileen Wuornos, Ed Kemper, Edward Gein, John Wayne Gacy, Zodíaco e Jeffrey Dahmer (procure por esses nomes e você encontrará diversos filmes que se inspiraram neles, como O Massacre da Serra Elétrica, Monster e Silêncio dos Inocentes) e outras nem tão conhecidos assim, pelo menos pra mim, como o já citado a Açougueiro Russo ou um inofensivo velhinho chamado Albert Hamilton Fish, um canibal que comia crianças.

Enfim, só tem gente fina nesse livro. O bacana é que a obra é extremamente interessante até para que já “conhece” esses malucos, pois Casoy conta a história deles de uma forma muito envolvente, com inúmeros detalhes, numa pegada mais literária e estabelecendo alguns ganchos que tornam a leitura viciante, mesmo sendo sobre um tema tão pesado.

Pois é, há quem goste muito desse tipo de livro. Tem louco pra tudo nessa vida.

 

Arquivos Serial Killers: Louco ou Cruel?

Autora: Ilana Casoy

Páginas: 360

Editora: DarkSide Books

 

 

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