Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Após 18 anos de Entrevista com o Vampiro, Neil Jordan retorna ao universo dos que têm sede de sangue. Seguindo uma estranha lógica, os filmes de vampiros hoje não podem apresentar seus protagonistas daquela forma clássica que conhecemos, imortalizada por Béla Lugosi em Drácula, de 1931. Para os jovens que não sabem, vampiros antigamente morriam quando entravam em contato com a luz do dia, tinham medo de cruzes, não possuíam reflexos, queimavam com alho, água benta, e por aí vai. Bem, enquanto algumas “inovações” acabaram por diminuir (e até mesmo ridicularizar) a importância destes personagens no universo da sétima arte, vemos com obras como Byzantium que releituras podem sim ser muito bem-vindas, principalmente quando novas ideias são apresentadas de maneira inteligente, e sem perder a essência do gênero em momento algum. O roteiro de Moira Buffini, adaptado de sua própria peça, busca inspirações em diversos lugares obscuros, fazendo de seus vampiros criaturas completamente distintas. Eles seriam melhor descritos como revenants, entidades sobrenaturais, fantasmas ou espectros que existem para aterrorizar os vivos. Neste caso, estamos falando de seres que bebem sangue, mas que não possuem dentes pontiagudos. A criatividade em torno da origem desta mácula (ou dádiva) é imensa. Certo romantismo se mistura a uma linguagem contemporânea, e tudo é devidamente amarrado, desde a criação dos neófitos, até o rígido propósito e conduta dos mesmos. Obviamente, a estranha existência proposta pelo texto possui muitos mistérios, pois nem tudo poderia ser mastigado para o público. Mas para Buffini, o vampirismo é como um clube que literalmente exige um ingresso de entrada. Se alguém não foi convidado, e mesmo assim conseguiu se infiltrar, deve cair fora imediatamente, de preferência em duas partes bem específicas. Mas indo além da estruturação deste universo mítico de vampiros irlandeses, o roteiro explora a mente de uma garota que não consegue esquecer 200 anos de existência. Um fardo inimaginável. Eleanor é uma imortal que vive fugindo, e suas lembranças de tempos passados tornaram-se insuportáveis, assim como o segredo em torno de sua condição. A jovem é acompanhada por sua mãe, Clara, mulher que honra as tradições do mais antigo trabalho de que se tem notícia, e que possui grande facilidade em viver apenas o presente. Mas o passado surge implacável para as duas. E retratando tudo com um olhar clínico, temos Neil Jordan. Oferecendo sequências meticulosas, o diretor trabalha de forma excepcional seus cenários, cores e fotografia, recortando belíssimos enquadramentos, e estruturando com competência uma rica narrativa que passeia por diferentes personagens, locais e épocas. O trabalho de Jordan faz de Byzantium um filme visualmente atrativo e pouco comum. Ele foge constantemente do tradicional, e o resultado é uma linguagem que não se prende a moldes. Junto a isso, vemos um eficiente trabalho do elenco, composto pela bela Gemma Arterton (O Retorno de Tamara), Sam Riley (Control), Daniel Mays (Efeito Dominó), Caleb Landry Jones (X-Men: Primeira Classe), o ligeiramente destoante Jonny Lee Miller (Trainspotting – Sem Limites) e Tom Hollander (Orgulho & Preconceito). O destaque é sem dúvida a pureza emulada por Saoirse Ronan (Um Olhar do Paraíso), jovem e experiente atriz que faz de Eleanor uma pessoa admirável, melancólica e corajosa à sua maneira. A ótima construção da personagem facilita o trabalho da intérprete, mas a mesma se empenha em destacar sua personalidade no resultado final. Em resumo, Byzantium não é um filme SOBRE vampiros, ele é um autêntico filme DE vampiros. O roteiro de Moira Buffini reinventa com criatividade a existência destes seres imortais que se alimentam de sangue, injetando na história uma voz singular, que não busca uma audiência específica, mas sim uma proposta diferenciada. Dando corpo a tudo isso, evidencia-se o trabalho de Neil Jordan, que depois de 18 anos de Entrevista com o Vampiro, retorna de forma contundente ao gênero. Em Byzantium, tudo é ofertado na medida certa, como suspense, drama, romance e decapitações. Recomendado principalmente para os antigos membros da Camarilla. Byzantium (2012/ Reino Unido, EUA, Irlanda) Direção: Neil Jorda Duração: 118 min Mais críticas como essa você encontra no Crítica Daquele Filme