Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Uma das coisas mais preciosas que os humanos possuem é a memória. São as nossas lembranças de coisas boas que nos ajudam a enfrentar momentos difíceis na vida. Por outro lado, as memórias ruins evitam que possamos cometer sempre os mesmos erros. Em Embers (Apagados), a diretora Claire Carré nos convida a conhecer um mundo em que uma epidemia neurológica global faz com que as pessoas acordem sem memória a cada novo dia e acabam fazendo as coisas muito mais por instinto do que por saber de fato o que estão fazendo. Para isso, o filme conta cinco histórias independentes que se passam naquele mesmo universo, mas apenas duas delas acabam se cruzando em algum momento. Além disso, quase todos os personagens parecem presos em um ciclo, repetindo sempre as mesmas ações, porém em locais diferentes. A primeira história a qual somos apresentados é a de um homem e uma mulher que acordam juntos, porém não têm a mínima ideia de qual é seu nível de relacionamento ou como se conheceram. Enquanto os dois tentam descobrir o que significam um para o outro, o espectador também tem a oportunidade de decifrar este enigma através de pequenos detalhes, como um bracelete em comum, que mostra que eles estão tentando não se esquecer um do outro. Também é interessante o fato da mulher não se importar em trocar de roupa na frente do homem, uma atitude que demonstra que essas duas pessoas são bem íntimas, mesmo que não se lembrem disso conscientemente. E quando percebemos que um dos dois está prestes a esquecer de algo importante, somos nós que ficamos desesperados, afinal, nós sabemos o que estes personagens estão deixando para trás, enquanto para eles é apenas mais um dia normal sem lembrar do dia anterior. Se com esses dois personagens percebemos o poder do amor, a história de um jovem com jaqueta de couro trata de nos mostrar alguém que está se guiando pelos instintos mais básicos do ser humano. Ele não hesita em atacar alguém para roubar comida ou tentar estuprar uma jovem para saciar seus desejos, além de estar sempre destruindo coisas. Apesar dele ser o personagem com menos tempo de tela, ele é o mais trágico do filme. Quando descobrimos os motivos dele fazer o que faz, é impossível não sentir uma certa piedade por ele, afinal, ele nunca vai saber o que aconteceu, porém vai viver para sempre com um instinto autodestrutivo. O filme conta ainda com mais dois personagens no elenco dos desmemoriados. A primeira é uma criança que parece estar o tempo todo à procura de uma figura paterna ou materna e é o personagem mais inocente da trama. Sempre que a vemos, ela está brincando com alguma coisa e nunca se questiona antes de confiar cegamente em um adulto. Isso causa certo desconforto no espectador, já que nem todos os adultos que a criança encontra parecem plenamente confiáveis. Já o último personagem sem memória é um senhor que se dedica a passar todos os dias estudando o tal vírus que assolou a humanidade, mesmo sabendo que vai esquecer de tudo no dia seguinte. Em contraste com seu elenco de desmemoriados, os roteiristas Charles Spano e Claire Carré apresentam Miranda (Greta Fernández). Por ter vivido os últimos nove anos em um bunker com seu pai, ela é a única personagem a possuir lembranças e, por isso mesmo, um nome próprio. Apesar de não ter sido afetada pelo vírus, ela acaba carregando uma tristeza até maior do que as pessoas afetadas, afinal, ela tem plena consciência de tudo que perdeu até aquele momento. Isso é muito bem demonstrado pela produção do filme, que a coloca sempre em ambientes com cores sóbrias, como branco, cinza ou preto. Já os outros personagens (com exceção do revoltado) estão sempre em ambientes com cores alegres, além de estarem sempre sorrindo apesar da situação. O figurino também ajuda a marcar a diferença entre todos eles. Enquanto Miranda usa sempre roupas simples e funcionais e que combinam entre si, os personagens do mundo externo estão sempre com várias camadas de roupa, representando a confusão mental com a qual são obrigados a viver. A direção de Claire Carré é tão eficiente que ela consegue fazer com que o espectador se importe com todos os personagens, mesmo que eles falem bem pouco e que seu passado seja praticamente desconhecido pelo público. Embers é um tipo de filme que aposta bastante no psicológico e que não se propõe a responder todas as questões que surgem durante a projeção, mas que nos faz pensar bastante sobre nossas próprias vidas. [quote_box_center]Embers (Polônia | EUA /2015) Direção: Claire Carré Duração: 1h 25min Elenco: Jason Ritter, Iva Gocheva, Greta Fernández, Tucker Smallwood, Karl Glusman, Silvan Friedman.[/quote_box_center]