Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Quando doze estranhos objetos voadores aparecem em diferentes partes do mundo, o exército dos EUA convoca a doutora Louise Banks (Amy Adams), uma linguista experiente, para tentar traduzir o que os alienígenas falam. Junto com ela também é convocado o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), que irá ajudá-la na tarefa de descobrir as verdadeiras intenções das criaturas ao visitar o nosso planeta. Apesar de ser tema recorrente no cinema, aqui a chegada dos alienígenas acaba servindo apenas como pano de fundo para contar uma história sobre pessoas, como elas encaram o mundo ao seu redor e as decisões que tomam durante suas vidas. É um filme que se propõe até a discutir a existência ou não do destino e, se ele existe, é possível mudar? Mais importante, se tivermos essa capacidade, deveríamos fazer? Afinal, podemos deixar de viver grandes coisas apenas por medo do que está por vir. Dirigido por Denis Villeneuve (Sicario: Terra de Ninguém) e com roteiro de Eric Heisserer (a partir de um conto “Story of Your Life” de Ted Chiang), A Chegada (Arrival) é um filme que discute até mesmo o funcionamento da nossa memória. É curioso como às vezes passamos por alguma situação que nos faz lembrar de algo que não tem nada a ver com o que estamos passando. “A memória é uma coisa estranha. Não funciona como eu imaginava. Estamos tão presos pelo tempo. Pela sua ordem”, diz Louise Banks logo no começo do filme. A fala acompanha uma bela sequência inicial, que nos mostra o nascimento da filha da personagem, assim como a morte dela na adolescência. A questão da memória acaba sendo interessante, pois o filme muitas vezes acaba se apresentando como um quebra-cabeças para o espectador. Daqueles que só entendemos completamente quando o filme termina e a nossa memória começa a buscar todos os detalhes do que acabamos de assistir. E é maravilhoso perceber que muitas coisas já estavam na nossa cara o tempo todo. É aquele tipo de filme que dá vontade de rever assim que começam a subir os créditos de encerramento. Tendo plena consciência de que a história de aliens chegando à Terra já é algo comum em Hollywood, Villeneuve acerta em não perder tempo mostrando as consequências imediatas da chegada dos visitantes. Aqui e ali são apresentados trechos de telejornais que mostram que a população está em pânico, saqueando as lojas etc, mas o filme não se concentra nisso. O foco é sempre a tentativa de comunicação com as criaturas. Além disso, o diretor não tenta esconder os aliens numa tentativa barata de nos surpreender. Pelo contrário, com pouco tempo de filme já vemos a primeira nave e não demora muito para que estejamos no interior dela. Vale notar ainda como Denis Villeneuve faz questão de ressaltar o quanto a humanidade é pequena diante do que está acontecendo. A primeira visão que temos da nave é com um belíssimo plano aberto que mostra a ponta da gigantesca estrutura quase tocando o solo, enquanto seu topo está muito acima das nuvens. É fascinante também a ambiguidade com que o diretor trata a primeira entrada dos protagonistas no ambiente alienígena. Ao mesmo tempo em que é assustador o longo corredor escuro que os personagens precisam atravessar, ele também possui uma luz branca muito forte no final. Dessa maneira fica marcada visualmente a dúvida que paira sobre estes seres, que podem significar tanto a destruição da raça humana quanto a sua última esperança. Chama atenção também a escolha das cores para os ambientes onde ficam os humanos e os aliens quando eles se encontram. Apesar de assustadores e cheios de tentáculos, os aliens ficam em um ambiente totalmente branco e se movimentam com tanta leveza que é impossível não sentir um pouco de paz com aquela estranha presença. Já o espaço dedicado aos humanos é escuro, ressaltando a predisposição que a nossa raça tem para brigar entre si e atacar tudo que é diferente. A Chegada também se diferencia do tradicional blockbuster de alienígenas na forma como a história da doutora Louise Banks vai sendo contada. Apostando em uma montagem com alguns cortes secos aqui e ali, o filme apresenta a história completa da personagem através de cenas aleatórias que vão surgindo em alguns momentos da produção. A maioria dessas cenas mostra Louise com a filha, em momentos claramente muito mais felizes do que aquele pelo qual ela está passando no momento. Reparem como a fotografia dessas cenas possui cores muito mais vivas do que as que se passam durante a chegada dos alienígenas. E é interessante notar como a presença dessas cenas vai aumentando conforme o filme chega perto do seu clímax. Impossível terminar um texto sobre A Chegada sem mencionar a maravilhosa atuação de Amy Adams. É impressionante como ela consegue nos passar a sensação de que algo está errado apenas com sutis mudanças no olhar, sem exageros desnecessários. Mesmo quando ela aparenta estar feliz, basta um olhar mais atento no seu rosto para perceber todo o peso que ela está carregando. Quando chegamos ao final do filme, é difícil não se emocionar ao lembrar da cena inicial, que mostra Louise feliz, mas também preocupada, com o nascimento da filha. E tudo graças a tocante interpretação da atriz, que consegue nos transmitir com delicadeza tudo o que aquele momento significou para a personagem. [quote_box_center]A Chegada (Arrival/2016) Direção: Denis Villeneuve Duração: 1h 56min Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg.[/quote_box_center]