Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Como filósofo em formação, vejo diversos assuntos na faculdade. Procuramos em sala pensar eles sobre diversos ângulos novos ou nem tão novos. Como pensador, me sinto obrigado a viajar pra fora de sala pra pensar essas novas informações na contemporaneidade e buscar algum sentido na banalidade nossa de cada dia. Recentemente procurei pensar as semelhanças do moderno capitalismo com a política medieval, discorrendo um pouco sobre soberania estatal e poderes supraestatais. Usei ainda o exemplo dos desmandos da FIFA em solo tupiniquim pra ela vender seu futebol enlatado (Isso me lembra os portugueses vendendo nosso pau Brasil pra nós mesmos). Bem, isso me levou a pensar futebol, e ainda mais, pensar o que significa futebol para uma cultura como a nossa. Mas antes, quero pensar o que significa colonização. Num livro muito interessante chamado O Pensamento Mestiço de Serge Gruzinsky, o autor nos ajuda a aprofundar o significado de colonização. Aquele conto de fadas que os vencedores contam, de que a colonização traz a civilização e o avanço é bem problemático, qualquer adulto que compreenda que a realidade é um tanto quanto relativa pode ver que o projeto civilizatório é imposto e não significa necessariamente um processo para melhor. Se fosse tão bom assim acho que não precisariam exterminar os povos nativos para o “progresso”. Então fica a necessidade de mergulhar através dessa noção inocente de colonização, é necessário pensar a camada sutil desse processo. Gruzinsky nos fala de uma guerra muito mais sutil e demorada, que acontece depois da disputa de território pela força. Uma guerra travada no campo do simbólico, da religiosidade, do comportamento. Uma luta pra apagar todos os traços culturais antigos e impor o novo jeito de viver para aquele povo conquistado. Estamos falando aqui de uma guerra pelo espírito e pela identidade de um povo. Trazendo essa essência para a contemporaneidade, podemos enxergar criticamente o processo de globalização. Se pudermos ver que existe claramente um projeto hegemônico capitalista Europeu para tudo nessa vida, podemos ver também como ele atua nos nossos costumes, nos nossos espíritos. Se aceitarmos a premissa acima, vemos que a globalização não passa de uma outra colonização, num mundo onde existe uma guerra constante travada entre mentalidades e identidades. O Brasil, berço da multiplicidade de identidades tem uma grande vantagem. Essa multiplicidade nos leva a inventar e reinventar várias práticas e comportamentos que são literalmente invejados pelos povos de lá. Porém essa multiplicidade gera uma desvantagem, nossa noção de nós mesmos sempre carece de uma identidade. É difícil delimitar o que é a Brasilidade. O que leva a muitas vezes a gente a perder essas coisas que são criadas pelo nosso espírito por apropriação de projetos capitalistas. Nossa MPB é afogada, nossa música sertaneja é apropriada pelo POP, nosso pensamento se perde nos pós-modernismos franceses e em tragédias que não são nossas. Por fim, venho ao fenômeno que nos é tão caro, e vem junto com uma denuncia; NOSSO FUTEBOL ESTÁ SE PERDENDO! Talvez você que tenha seus 20 anos não consiga enxergar esse recorte, mas é claro o momento de fragilidade e transição no Futebol Brasileiro. Um processo que talvez tenha começado de fato lá no primeiro grande contrato de direito de imagem para um jogador, obrigando a toda estrutura dos clubes se modificar, se “profissionalizar”, clubes tendo que virar grandes marcas pra entrar na guerra do capital. Esse processo até um certo ponto é muito bom, conforto nos estádios, menos comportamento violento, um programa mais família… Mas e coisas que definiam o futebol no Brasil como a Copa Rio/São Paulo? E a geral do Maracanã, um patrimônio do futebol mundial? Que diabos de pontos corridos são esses? Até onde o nosso modo de ver e amar o futebol tem que ser adaptado a um projeto civilizatório europeu? Porque a multiplicidade é tão ruim? Porque tem que padronizar mundialmente a forma de ver e jogar futebol? Em minha opinião se eu quiser ver futebol sentado eu vou à Europa, mas se eu quiser ver um evento mítico eu vou ao Maraca ou à Bombonera. Jogadores virando marcas, influenciando cada vez mais nossa cultura. Vemos de novo aquele quadro que Gruzinsky viu lá na colonização da América espanhola. Tenho a nítida impressão que estão se apropriando das nossas figuras simbológicas, dos nossos comportamentos mais íntimos como nação. O capital não perdoa ninguém. Ver futebol em pé é coisa de selvagem! Dá cá seu Neymar que eu te dou um espelhinho… E enquanto isso meu sobrinho vai crescendo, já até vejo ele me perguntando por que eu ainda perco tempo vendo esse esporte sem graça, um futuro onde todos os times querem ser um Barcelona da vida, jogam com estádios minguados e torcidas tentando reviver velhos hábitos. Meu sobrinho nunca vai saber o que são 500 mil pessoas torcendo um clássico carioca. Quando tiver um filho, acho que ele nunca vai saber o que é futebol assim como eu não sei ainda o que é um Brasil.