Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr [quote_box_center]Era um menino que crescera dentre uma família evangélica, criado aos bons costumes do Senhor. Um dia esse menino conheceu as aulas de Filosofia em sua escola, aulas que eram tão odiadas pela sua família. Diziam eles que “mentiras são ditas pra vocês lá, não acreditem”. Era o início da Idade da Razão. Dali pra frente, com certo conhecimento histórico real, ele passou a indagar e a não engolir os costumes absurdos que lhe eram pregados. E com isso, passou a ser considerado “um desviado dos caminhos do senhor” pela sua família, e olha que ele nunca usou drogas e nem nada do tipo. Esta é uma pequena parte da minha história, mas muito se assimila a história de um dos maiores humoristas de todos os tempos, George Carlin. Quem diz isso não sou eu apenas, e sim muitos humoristas que se dizem influenciados por ele, como o ótimo Jerry Seinfeld e o Louis C.K.[/quote_box_center] George Denis Patrick Carlin nasceu em New York (EUA) em 12 de Maio de 1937. Criado somente pela sua mãe, pois ela havia se separado de seu pai quando tinha apenas dois meses, estudou até os seus 15 anos de idade em uma escola Católica Romana. Ai está o cenário armado para termos um “jovem revoltado”, e com ele não foi diferente. Por motivos óbvios, ele tinha um relacionamento complicado com sua mãe e por diversas vezes fugiu de casa e acabou abandonando o colégio religioso. E é aqui que, segundo o mesmo, atingiu a também idade da razão. Mais a frente, entrou para Força Aérea Americana, servindo como técnico em radares. Mas tão logo foi exonerado, pois fora classificado como um “aviador improdutivo”. Nos anos 60, montou uma dupla de humor com seu amigo Jack Burns, e juntos criaram textos para se apresentarem em coffee houses, onde conseguiram bastante sucesso. Após mais dois anos juntos, a dupla se separou e ambos seguiram carreiras solos. Tão logo, começou a aparecer em diversos programas de televisão e tornou-se um frequente apresentador anfitrião do programa The Tonight Show. Mas foi somente nos anos 70 que tornou-se o humorista rebelde, com seu estilo próprio, vestindo jeans desbotados, com longos cabelos, uma barba e brincos. O George que conhecemos. Um dos mais aclamados e apreciados pelo público e crítica. Foi nessa época que ele criou o seu famoso texto “Seven Words You Can Never Say on Television“, satirizando os palavrões que na época não poderiam ser ditos na TV. Este que lhe rendeu várias censuras e acabou o levando a Suprema Corte dos EUA em 1978. Quem já assistiu “Todo Mundo Odeia o Chris” deve se lembrar do episódio em que o Chris contava palavras proibidas na escola. Pois bem, eram as sete palavras do Carlin. Pronto, eis que contextualizamos a vida do Carlin e chegamos aonde queríamos, na genialidade dele. Vamos conhecê-la, então! Seu tipo de humor se resumia basicamente em: acabar e destruir com qualquer assunto, seja ele qual for. Desde um tabu da sociedade a situações do dia-a-dia. E é justamente com esse estilo que ele se tornou o que era. Pra vocês terem uma idéia, nossa amiga Wikipédia quando perguntada, destaca os seguintes temas envolvendo-o: Comédia observacional, insultos, jogo de palavras, sátira política, humor negro, humor surreal, sarcasmo, cultura americana, cotidiano, ateísmo, uso recreativo de drogas, morte, filosofia, comportamento humano, política americana, cuidados parentais, crianças, religião, profanidade, psicologia, anarquismo, relacionamento entre raças, velhice, cultura popular, infância e família. Pois é, ele tocava nesses assuntos simples e em vários outros, mas de uma forma tão sutil quanto “tomar um soco na boca do estômago e ficar sem ar“, e olha que aqui você fica mesmo, só que de tanto rir. Você já deve ter notado nesse ponto que ele não era um humorista qualquer. Não vemos muito esse tipo andando por ai e em específico no Brasil, temos de procurar bem e talvez não encontremos nunca alguém que toque nos mesmos assuntos de uma forma tão inteligente. Mês passado, durante a Campus Party Brasil, evento realizado no Centro Anhembi na cidade de São Paulo, aconteceu um debate entre alguns blogueiros e comediantes onde eu tive a oportunidade de perguntar a um deles, no caso ao Rafinha Bastos: “O Brasil está pronto para esse tipo de humor adotado pelo Carlin? Visto que, você próprio foi processado e demitido recentemente apenas por uma piada idiota.” O humorista me respondeu que “(…) o humor brasileiro está pelo menos uns 30 anos atrasado, prova disso é o próprio stand-up que há pouco tempo chegou de vez ao país. -(…) Temos muito o que evoluir ainda.“ É fato que temos muito a evoluir ainda. Prova disso é o humor Zorra Total que absurdamente faz tanto sucesso no Brasil. Prova disso também é um programa que apenas por ter membros trajados de ternos e gravatas, são considerados como “de um humor inteligente”. A meu ver, demoraremos e muito, para que tenhamos um humor inteligente em solo nacional sendo transmitido nas TVs. Quer dizer, nas TVs fechadas, ao menos. Visto que o próprio George Carlin, fazia dezenas de especiais para a HBO, um canal fechado, como todos sabem. Vamos agora ver um pouco de toda essa acidez que eu falei. Dissecando um pouco alguns dos temas preferidos dele. Carlin não deixa pedra sobre pedra e em várias ocasiões disparava verdades cruas e nuas na cara da própria platéia, vulga sociedade americana. “Qual é a diferença moral entre a cabeça de um sujeito (referindo-se a decapitações de soldados americanos) – ou dois, ou três, ou cinco, ou dez – e, derrubar uma grande bomba em um hospital e matar um grupo inteiro de crianças doentes?” Novamente, perceberam que o nível do humor aqui é diferente, não? Esse tema parece distante da nossa realidade por enquanto, mas calma, a maioria dos problemas observados por ele calham astutamente para com o Brasil. E olha que estamos falando de observações do século passado. Isso não me surpreende, pois, assim como dito pelo comediante Rafinha Bastos, o Brasil é um país muito atrasado, mas não só no humor, como também em vários outros aspectos. Um deles é a educação. No Brasil a progressão contínua é adotada livremente sobre o pretexto da inclusão social. Quando na verdade a solução em nada tem a ver com isso, e sim com investimentos dignos. Esse mesmo problema fora apontado por Carlin anos atrás: [quote_box_center]”(…) E isso é o que eles fazem nestas escolas agora. Eles abaixam as notas de classificação. Para que mais crianças possam passar. Mais crianças passam, a escolar parece boa, todo o mundo está feliz. Então o Q.I. do país cai mais outros dois ou três pontos e logo tudo que vocês irão precisar para entrar na faculdade é um maldito lápis. – Tem um lápis? Mexa seu traseiro, Aqui é física. Então todos imaginam por que 17 outros países formam mais cientistas que nós. Educação.”[/quote_box_center] Infelizmente, até mesmo essa estatística absurda aos olhos dele está longe da nossa realidade nacional, se fossem apenas 17 países já estaríamos bem melhor. De acordo com a UNESCO, em 2011 o Brasil ficou no 88º lugar entre 127 países no ranking da educação. Já o EUA ficou na 33ª posição. Parece que ele estava certo! Enfim, Carlin não para por ai e vai mais afundo, direto na espinha dorsal e revela mais rápido que uma câmera Polaroid a real causa do problema. Esse que é mundialmente o mesmo, desde sempre e sempre. [quote_box_center]”Há uma razão para que educação esteja um lixo. E é a mesma razão que nunca será ajeitada. Nunca vai melhorar. Não tenha esperanças disso. Esteja feliz com o que vocês têm. Porque os donos deste país não querem isso. Eu estou falando sobre os reais donos agora. Os reais donos. Os grandes milionários de interesses empresariais que controlam as coisas e fazem todas as decisões importantes. Esqueçam-se dos políticos. Os políticos são postos lá para lhe dar a idéia de que você tem liberdade de escolha. (…) Eles têm os juízes no bolso. E eles possuem todas as grandes mídias. Assim eles controlam todas as notícias e informações que vocês ouvem.” (…). “Mas eu lhes falarei o que eles não querem. Eles não querem uma população de cidadãos capaz de pensamento crítico. Não querem pessoas bem informadas e pessoas bem educadas capaz de um pensamento crítico. Eles não estão interessados nisso.”[/quote_box_center] E é aqui que entramos em suas críticas políticas. Assim como no Brasil, o povo de lá sempre reclamou da honestidade dos seus governantes. Eleição após eleição sempre vinham novos corruptos. Trocas e mais trocas de governantes e nada muda. Afinal de contas, qual é a solução para isso? “Talvez, talvez não sejam os políticos que não prestam. Talvez outra coisa não esteja prestando por aqui. Como o povo. Sim, o povo não presta. Ai está um bom slogan para uma campanha: “O povo não presta, foda-se a esperança”.” Agora ele rebate aqueles eleitores que acham que com o seu voto estão exercendo o seu poder de escolher, quando na verdade, a mídia controla direta e indiretamente quais candidatos serão eleitos. [quote_box_center]“Eu não voto porque acho que quem vota não tem direito de reclamar. Tem gente que diz o contrário… Dizem assim: “Se você não vota não pode reclamar”. Mas onde está a lógica disso? Se você vota e elege pessoas desonestas e incompetentes que só fazem merda. Você é o responsável pelo que eles fazem. Você causou o problema. Você votou nele. Você não pode se queixar. Eu, por outro lado, que não votei, que na verdade, nem sequer saiu de casa nas eleições… Não sou responsável pelo que esse pessoal fez e tenho todo o direito de reclamar, quanto tempo eu quiser do desastre que você fez sem mim.”[/quote_box_center] Partiremos agora para outro assunto muito interessante, a santidade das nossas vidas. Sim, essa mesma. “Quem sou? De onde eu vim? E para onde vou? (*Onde vou almoçar hoje?)” Ai estão três perguntas que os humanos se fazem desde que atingiram um certo grau na evolução (Muitos sabem que a resposta é 42). Por um lado temos ela, a ciência. Ela tenta desvendar esses enigmas da maneira mais complicada, ou seja, fazendo um trabalho árduo e lento com milhões de pesquisas, teorias e tudo mais. Já pelo outro, temos aquela maneira mais fácil e simples de explicar, a que não requer nenhum trabalho árduo e lento, a religião. Porém, só mais a frente abordaremos esse tema com carinho, fiquemos agora com o princípio de que somos imagem e semelhança de Deus e de que somos seus filhos, portanto nossas vidas são sagradas. “A vida é sagrada? Quem disse isso? Deus? A história mostra que Deus é uma das principais causas de morte da humanidade.” Para o George Carlin, quem disse que as nossas vidas são sagradas fomos nós mesmos. E por quê? Porque estamos vivos, oras. Inventamos essa por benefício próprio. O que foi uma boa idéia afinal de contas, ou você não está vivo e lendo esse texto? Mas observem, além de termos inventado a santidade da vida, inventamos o oposto, a pena de morte. Essa que é executada em vários estados dos Estados Unidos. “Inventamos as duas coisas. A “santidade da vida” e a pena de morte. Como somos versáteis, não?” Carlin faz comparações simples, mas preponderantes quanto a nossa santidade, nos comparando a outros animais. Aparentemente apenas as nossas vidas são sagradas, as outras criações de Deus não tem da mesma sorte. E dependendo, outros povos também não, afinal de contas, alguém vivia da terra prometida. Ou seja, é um grupo bem seleto digno dessa santidade, não? [quote_box_center]“Vejam o que matamos: Mosquitos e moscas… porque são pestes. Leões e tigres… porque é divertido. Galinhas e porcos… porque temos fome. Faisões e codornas… porque é divertido… e temos fome. E seres humanos. Matamos humanos…porque são pestes …e é divertido.” “Por que quando são humanos é um aborto, mas quando são galinhas é um omelete?”[/quote_box_center] Chegamos então ao aborto. Todos os que o condenam, condenam por quê? Porque uma vida sagrada estaria sendo assassinada. Certo, mas Carlin observa uma coisa muito interessante na sociedade. Logo após crescer, essa vida sagrada já não está mais tão sagrada assim. A pena de morte talvez seja uma boa para eles, a educação, saúde e tudo mais, não. A Igreja Católica, por exemplo, no alto das suas hipocrisias é contra o uso de camisinhas, contra o aborto e ainda é preconceituosa. Um baita banquete para que Carlin faça suas observações: [quote_box_center]“Os católicos e outros cristãos são contra o aborto e também são contra os homossexuais. Ora, mas quem tem menos aborto que os homossexuais? Deixem esse pessoal em paz, cacete! Ai está um grupo inteiro de pessoas garantindo que nunca terão um aborto e os católicos e cristãos os discriminam.”[/quote_box_center] [quote_box_center]“Falando dos meus amigos, os católicos, quando John O’Connor, Cardeal de Nova York, e alguns outros cardeais e bispos tiverem experimentado uma gravidez ou as dores do parto ou tiverem criado um casal de filhos, com um salário mínimo, aí sim eu vou querer saber a opinião deles sobre o aborto.”[/quote_box_center] Sobre a pena de morte, Carlin observou o preconceito com que ela é usada, geralmente nos mais pobres, e apontou mais uma vez uma verdade na cara das pessoas, geralmente os papagaios de telejornal: [quote_box_center]“E nesse país agora tem gente querendo expandir a pena de morte para matar traficantes também. Isso sim é estupidez. Traficantes não tem medo de morrer. (…) Pena de morte não significa nada ao menos que se use em alguém que tenha medo de morrer. Como os banqueiros que lavam o dinheiro das drogas.”[/quote_box_center] Em minha opinião, infelizmente não estamos preparados para uma lei severa assim, com pena de morte. Antes disso, precisaríamos de uma bela reforma no Código Penal Brasileiro. Do contrário, única e exclusivamente os pobres seriam condenados, como já ocorre. E para tal lei, somente casos onde a pessoa fosse pega em flagrante ou com provas incontestáveis, como o caso Suzane Richttophen, para que se aplicasse a lei. Tá, eu sei que você se lembrou do filme “À Espera de um Milagre” e para isso eu tenho uma resposta. Erros acontecem. Enfim, em outra oportunidade discutimos esse belo tema. Afinal, do que adianta uma vida sagrada se a qualquer momento podemos ser mortos com o culpado saindo impune sem justiça? “Mas me deixe perguntar-lhes algo. Se tudo que não está vivo está morto… e tudo que está vivo vai morrer. Onde entra a parte sagrada? Não consigo entender.” Chegamos então ao ultimo tema que abordaremos com carinho nesse post, religião. Essa que já causou guerras e mais guerras e se vocês repararem continua causando e possivelmente, sempre causará. A premissa da religião (cristianismo no caso), de acordo com a bíblia, é muito simples. Existem dois lugares para onde você pode ir após a morte. O céu e o inferno. E será o seu comportamento nessa vida o teu passe para um deles. Tudo o que você tem de fazer é seguir o livro sagrado e trazer outras pessoas para esse caminho também, para assim, todos irmos juntos curtir a eternidade no paraíso. Francamente, né!? É sério que bilhões de pessoas têm fé nessa histórinha? Sim, é sério. E o que é pior, as pessoas passam as suas vidas inteiras seguindo esse caminho “do bem” por apenas estarem com medo de irem para o inferno. E levam suas vidas seguindo um livro escrito há milênios atrás, cheio de preconceito, ódio e violência. Mas com a diferença de que é a palavra de Deus. Enfim, vou terminando por aqui e espero que vocês tenham gostado tanto do George Carlin assim como eu gostei na primeira vez em que o conheci. Claro que, muitos devem estar putos da vida, porque a verdade dói na maioria das vezes. Para estes, deixem o ódio de lado e reflitam um pouco sobre os temas abordados. E para todos, eu mais que recomendo que vocês busquem assistir a todos os especiais dele da HBO. E percebam que além de um texto genial, ele tem uma interpretação à altura. Só sei que, aonde quer que ele esteja, seja no céu ou no inferno, na certa ele deve estar fazendo ótimas observações a respeito do cotidiano do lugar. Fiquem agora com uma última observação do Carlin a respeito do amor de Deus para com nós. Fiquem com Deus! “Religião chegou a convencer as pessoas de que existe um homem-invisível morando no céu, que vê tudo que você faz, todo dia, a todo instante. E esse homem-invisível criou uma lista de 10 coisas que ele não quer que você faça. Se você fizer uma dessas 10 coisas, ele tem um lugar especial cheio de fogo, fumaça, ardor, tortura e angústia, para onde ele te envia para sofrer e se queimar e se sufocar e gritar e chorar para todo o sempre até o fim dos tempos… mas ele te ama! Ele te ama e precisa de dinheiro!“