Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr A essa altura do campeonato, é muito improvável que alguém ainda não tenha ouvido falar dessa série. Mas como apenas recentemente eu resolvi assistir, então não custa nada indicá-la para mais algum atrasado assim como eu. Community é simplesmente uma das melhores e mais inteligentes séries de comédia que surgiu nos últimos anos na tv americana. E talvez justamente por isso ela seja ameaçada de cancelamento desde o final da segunda temporada, afinal, o americano médio costuma não gostar de pensar muito. Com a simples premissa de um grupo de estudos de uma faculdade comunitária, Community consegue criar situações repletas de referências à cultura pop sem nunca parecer forçado demais. Tudo começa quando o advogado Jeff Winger perde o direito de praticar a profissão após a a Ordem dos Advogados descobrir que ele não possuía um diploma. Ele resolve então frequentar uma faculdade comunitária (que nos EUA são conhecidas por serem fáceis) na qual trabalha um conhecido com quem ele espera obter algumas facilidades. Tentando se dar bem com uma garota que ele conhece no primeiro dia (Britta), Jeff inventa que sabe espanhol e que possui um grupo de estudo. O que acaba acontecendo é que outros alunos com dificuldade em espanhol acabam aparecendo para estudar e um grupo é realmente formado. Além de Jeff e da feminista Britta, o grupo conta com a CDF Annie, a dona de casa Shirley, o atleta Troy, o nerd Abed e o idoso, preconceituoso e politicamente incorreto Pierce, interpretado por Chevy Chase. Além dos sete protagonistas, a série conta com alguns dos mais sensacionais coadjuvantes já vistos na tv. A começar pelo professor de espanhol Señor Chang, interpretado com uma maluquice sensacional por Ken Jeong. Ele aparece poucas vezes nos episódios, mas é sempre de uma forma épica, como o mergulho que ele dá para dentro do duto de ventilação, com o objetivo de capturar um macaco. Além disso, as aulas de espanhol dele são qualquer coisa, “movimentem mais os braços, espanhol é 90% formado de gestos”. Outro que merece atenção é Craig Pelton, o reitor mais maluco que uma faculdade poderia ter. Um homossexual que ainda não saiu do armário, Pelton não perde uma oportunidade de se vestir de mulher e está sempre dando um jeito de passar a mão em alguma parte do corpo de Jeff. Por último, temos o professor Duncan, um alcoólatra que ensina psicologia e qualquer outra matéria que esteja sem professor. Com isso, a série poderia ser como qualquer outra sobre um grupo muito diferente de pessoas, mas que acabam se tornando grandes amigos. Apesar deles realmente se tornarem uma grande família, uma das coisas que diferencia Community das outras sitcoms é que os personagens realmente evoluem. Claro que eles mantém suas principais características, mas acabam mudando o modo de pensar sobre certos assuntos, ao contrário de séries nas quais os personagens são totalmente previsíveis. Na verdade, alguns episódios até fazem piada com esse tipo de situação, como quando os personagens fazem marcas na mesa ou marcam em um bingo sempre que alguém diz um bordão. Aliás, um dos personagens secundários da série aparece em cena algumas vezes apenas para dizer o bordão dele que não faz sentido nenhum. Porém, por mais carismáticos que os personagens sejam, nada disso adiantaria se a série não tivesse bons roteiros. E Community brilha nesse quesito. A maioria dos episódios começam na sala de estudos, mas a série não mantém uma fórmula que é repetida a cada semana. Em um episódio podemos ver a dificuldade do grupo para fazer um trabalho de espanhol, enquanto no episódio seguinte somos apresentados a uma paródia de filmes de máfia. Com direito a cenas que fazem referência direta à O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros. Até mesmo filmes pós-apocalípticos e de zumbis já foram homenageados, mostrando que não existem limites na série. Impressiona como os roteiristas conseguem fazer tanta coisa e com tanta competência em episódios de apenas 20 minutos de duração. Tem muito filme com quase duas horas por aí que não consegue passar a mensagem com clareza. A grande sacada de Community é sempre tentar surpreender o espectador com situações inusitadas e muitas vezes fora da realidade. Até mesmo filmes catástrofe no estilo Armageddon já foram homenageados em um determinado episódio. Mas no lugar de um ônibus espacial, o grupo de estudos estava dentro de um trailer com um simulador para crianças. Um dos especiais de natal da série foi totalmente feito em animação stop motion, enquanto em outros episódios tivemos os personagens transformados em um game 8 bits, ou em fantoches no melhor estilo Muppets. Outro episódio fantástico é um no qual os personagens são levados a acreditar que estavam internados num hospício, mostrando várias cenas antigas como se tudo ocorresse durante a internação. Além das referências à cultura pop, Community é repleta de metalinguagem, sempre utilizando o personagem Abed (viciado em filmes e séries) para fazer essas referências. Em um determinado episódio, um dos personagens secundários diz “não acredito que eles vão tomar toda a atenção para eles de novo”, numa clara referência a todos os eventos importantes acontecerem justamente com aquele grupo de pessoas. Como espectadores não pensamos muito nisso, mas existem outras pessoas vivendo naquele universo. A sala de estudos, por exemplo, sempre é ocupada por eles e achamos aquilo a coisa mais normal do mundo. Mas em um episódio nos são mostrados vários eventos importantes sob a perspectiva de outros personagens, quando fica claro que o grupo simplesmente monopolizou a sala de estudos, trazendo transtorno para vários outros alunos da faculdade. Community conta ainda com vários easter eggs que muitas vezes só podem ser percebidos quando assistimos uma segunda vez. Mais interessante que isso, porém, é o conceito de piada secundária. Em alguns episódios, enquanto a trama principal se desenrola, é possível perceber outras coisas ocorrendo em segundo plano. O caso mais sensacional é um episódio no qual Abed praticamente não aparece e, ao final do episódio quando perguntado o que andou fazendo, ele simplesmente responde “nada importante”. Mas quem assistir ao episódio com atenção verá que ele aparece no fundo de várias cenas, sempre ajudando uma mulher grávida e até mesmo fazendo o parto dela dentro de uma van. Alguns episódios depois, no qual uma personagem vai ter um filho dentro da sala de aula, Abed até diz “deixem comigo, eu ajudei em um parto recentemente”. Genial. E temos ainda a já clássica piada envolvendo Beetlejuice – Beetlejuice, Beetlejuice –, que levou TRÊS anos para ser concluída. O nome Beetljuice foi mencionado uma vez por temporada em conversas aleatórias e, como todos sabem (ou deveriam saber), quando o nome é mencionado três vezes, o personagem aparece. Assim, em um episódio da terceira temporada, quando o nome dele é finalmente mencionado pela terceira vez na série inteira, alguém fantasiado de Beetlejuice aparece atravessando o corredor no fundo da cena. Mais uma vez é uma piada extra, já que ele aparece bem rápido, mas é o tipo de coisa que te faz querer rever todos os episódios para saber se perdeu mais alguma coisa pelo caminho. [Nota do editor: Hahahahahaha] Community é de longe umas das melhores séries de comédia que surgiu nos últimos anos, mas que infelizmente acaba não agradando a todos, já que muitas piadas dependem de uma certa bagagem para serem entendidas. Mas para quem está afim de fugir das sitcoms que não saem do lugar (como Two and a Half Men e a péssima The Big Bang Theory) e quer rir de verdade, sem situações repetitivas, precisa dar uma chance a esta grande série.