Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Há um ano, se você viesse perguntar minha opinião sobre compartilhamento – no sentido de distribuição digital gratuita -, eu lhe diria que era coisa de preguiçoso. Ou pior, coisa de pão duro/muquirana/canguinha. Pra mim, quem não levantava a bunda pra ir a um cinema ver um filme – ou uma locadora de vídeo que fosse -; ou a uma banca de jornal e/ou comic shop comprar um gibi, era por que tinha sérios problemas. Nunca me passou pela cabeça que talvez o compartilhamento fosse a única saída pra muita gente adquirir esse tipo de cultura. Sim, eu sou egoísta, qual ser humano não é? O engraçado é que usei, durante muito tempo, dois pesos e duas medidas. Achava o fim da picada quem baixava um seriado, eu era daquelas que por muito tempo comprei Box Original, em dia lançamento, pagando cem, cento e cinqüenta reais. Mas nunca fui capaz de dar cem reais num jogo original de Playstation. Podia comprar um DVD por trinta reais? Sim, porém em álbuns musicais dei por um tempo, mas depois do Napster e afins, eu desencanei mesmo deles e baixava tudo. Então ficávamos assim: eu podia comprar todos os jogos de Play piratas do mundo e enriquecer o marreteiro da Santa Ifigênia, podia baixar toda a discografia do Johnny Cash por torrent, mas outra pessoa não podia ler um scan de gibi ou baixar um filme. Era muito fácil pra eu agir assim, sempre tive acesso a muita coisa. Certa época, eu tinha todos os filmes que queria ver (de graça, na verdade me até pagavam pra isso), dinheiro suficiente pra comprar minhas séries, e acesso a todos os gibis que saíam no país, mais um bom número de importados. Então, se você não podia, foda-se. Até que as coisas mudaram bastante pra mim. Saí de São Paulo sem muita coisa e vim para o Rio Grande do Sul. Tudo o que eu tinha era uma mala e um notebook. Por só poder carregar 23 quilos em vôos domésticos, tive que me desfazer da maioria dos meus DVDs e gibis. Queimei coleções inteiras e TPs importados em sebos por que não tinha mais o que fazer com eles. Vendi muita coisa pela internet, dei alguns de presente. Enfim, estava me livrando do peso extra. Os mais de estimação consegui enfiar na mala – tirei dois ou três casacos pra isso, estou passando um pouco de frio aqui. Ok, uma mala, um notebook e um quarto de hotel com sinal wireless. Comentei que tinha pouco dinheiro? Pois é, tinha pouco dinheiro… e sem TV no quarto, minhas opções de distração pré-sono ficaram meio reduzidas aos DVDs que eu já tinha visto várias vezes e os gibis que já tinha decorado. Certo dia eu tive vontade de ver um filme. Mas vinte reais no cinema não era algo que eu podia gastar naquele dia. Locadora? Nem pensar, eles não aceitam quem não tem endereço fixo. Abri o Google e comecei a pesquisar. Pra vocês terem idéia, em pleno 2010, eu não fazia idéia de como baixar um filme ou episódio de série. Como colocar legenda? Torrent ou link direto? Sites bons pra isso? Codecs? Tive que aprender tudo. Fazia as perguntas mais estúpidas no Twitter. Comecei com um filme, dois, três, fiz uma lista imensa de tudo que queria assistir; passei pras séries, fechei temporadas inteiras por torrent, meu pendrive agora vive cheio de episódios (My Name is Earl, Assassin´s Creed: Lineage e Band of Brothers, no momento). Estou tirando o atraso de tudo que deixei de assistir. E eu não sou preguiçosa, muito menos pão-dura, eu só não tenho mais acesso fácil a esse tipo de coisa. É fácil criticar o compartilhamento quando você não precisa dele. É fácil falar que é catrevagem quando tudo cai no teu colo. Gibis são um caso a parte, não por eu ser contra o compartilhamento deles também, mas é por que realmente eu não me adapto a ler na tela do computador. Mas nem todo mês me sobra dinheiro pra gibi, então não tem jeito: tenho que apelar pro scan. Não sou a favor da pirataria, eu sei que todos os joguinhos de Play2 que eu comprei no camelô alimentaram o crime organizado, assim como um tênis falso, uma bolsa, qualquer coisa. Eu sou a favor do compartilhamento, do P2P, do cara que tem a boa vontade de scannear um gibi, de traduzir uma série, de perder tempo pra que gente como eu tenha o que fazer antes de dormir.