Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Todo mundo diz que crianças são inocentes, mas esses seres são verdadeiras crias do inferno. Bem já cantava o eterno Sérgio Mallandro em seu saudoso programa do SBT: “conheci um capeta em forma de guri”. Afinal, crianças são a humanidade em sua forma mais básica e primitiva, ainda sem noção do que é certo ou errado e sem noção do que pode acabar com a sua vida. Então, como nesta sexta-feira é Dia das Crianças, nós nos reunimos aqui na redação da Mob Ground e resolvemos contar algumas pequenas lembranças de nossas infâncias. São histórias de luta pela sobrevivência, relatos de quase morte e lições de que, em alguns casos, é melhor recusar um desafio. Se vocês vão gostar, nós não sabemos, mas nos divertimos muito lembrando dessas histórias. E não esqueçam de contar suas próprias histórias nos comentários. _________________________________________________________________________________________________ Beatriz Paz Bom, como o Storino deu a idéia e todo mundo resolveu aceitar essa doidera, estou aqui para compartilhar com vocês uma das minhas pérolas de infância. Ou melhor dizendo, da minha experiência de quase morte. Segundo minha mãe eu tinha 2 anos e meio quando tudo aconteceu. Morávamos numa casa onde a porta da sala era de ferro com um retângulo de vidro no centro. Duas barras de ferro fino ficavam no meio do vidro nos dois lados da porta. De acordo com a idéia de design da peça, as barras seriam para evitar que o vidro quebrasse e machucasse alguém. “Desafio aceito.” Após tomar banho, eu brincava distraidamente com uma bexiga vermelho sangue na sala, meu irmão gêmeo estava em algum lugar fazendo alguma coisa e minha mãe preparava a janta na cozinha. Estava eu lépida e serelepe brincando de evitar que a bexiga caísse no chão quando a mesma começou a ir na direção da porta. O que uma criança sensata faria, chutaria a bexiga para longe? Daria um tapinha para que ela fosse na outra direção da porta? Deixaria cair no chão e começaria tudo de novo? Sim. Mas eu nunca fui uma criança sensata. A última coisa que eu me lembro é de ver uma bexiga vermelha indo na direção dos meus olhos e, depois disso, tudo fica preto. Sim, eu dei uma cabeçada na bexiga. E sim, eu estourei o vidro da porta com a investida. A minha sorte foram as duas barras de ferro que me impediram de atravessar a porta e me machucar mais gravemente. Eu já tinha um talho aberto na testa e até hoje tenho uma depressão discreta perto da linha capilar indicando onde uma das barras bateu. Abri a minha testa, e segundo minha mãe, eu fiquei consciente enquanto meu irmão ia avisá-la e ela fazia, desesperada, uma compressa com o pano de prato na minha cabeça sangrando. Moral da história: Minha mãe não queimou a janta e vôlei de bexiga pode ser muito mais hardcore do que se imagina. _________________________________________________________________________________________________ Thiago Chaves Eu e meu primo estávamos lavando a bicicleta quando ele me fez um desafio: “Duvido você descer a ladeira com a bicicleta!” No primeiro momento eu disse: “Ficou louco? Eu vou me quebrar inteiro!” Essa ladeira era na verdade a rua das Piaparas, que de rua não tinha nada, já que era uma grande subida. Eu era vizinho do meu primo, isso era bem legal, quer dizer, quando meu time perdia pro time dele não era, mas isso quase não acontecia. A nossa casa ficava mais ou menos na metade da ladeira. Ele já tinha descido a rua de bicicleta algumas vezes, então eu topei o desafio. Mas ele teria que ir correndo do lado pra segurar a bicicleta, caso eu não conseguisse parar ela. Isso porque ela estava quase sem freio. É ou não é uma idéia de tonto isso? Saímos com a bicicleta e eu pacificamente disse: “Se você me soltar eu te mato” Subi na bicicleta e depois de alguns instantes de lucidez eu corajosamente desci ladeira abaixo. Nos primeiros 2 metros lá estava meu primo correndo ao lado, sem nenhuma preocupação na face. Quando então, a bicicleta atingiu uma grande velociade e ele ficou pra trás, é claro. Eu me apavorei, não conseguia controlar o guidão direito. Era questão de segundos para acontecer o óbvio. Nesse momento eu me arrependi profundamente de ter aceitado o desafio, até porque eu não iria granhar nada com isso (esse é na verdade o prêmio oferecido para cerca de 90% de todos os desafios já feitos a alguém). Olhei pra trás e lá estava ele cascando a risada e gritando: “Aperta o freio, Thiago!” Eu até que tentei, mas não funcionava. Alguns pensamentos vieram à minha cabeça naquele momento: “Se eu conseguisse guiar a bicicleta até o fim?” “Lá embaixo pode ter um carro, eu vou acabar batendo nele ou pior, ele vai bater em mim!” Era uma mistura de fé com fédeu-se. Após um solavanco no guidão lá estava eu tomando ares diferentes. Eu voei da bicicleta e o pouso forçado não foi nada agradável. Momentos depois chegou meu primo, rindo como nunca! E lá estava eu com o corpo todo ralado, ardendo, sangrando, com a bicicleta entortada. Pelo menos eu não machuquei a cabeça! Passei vários meses acusando meu primo de ter me empurrado ladeira abaixo. Ele negava. Mas ambos sabemos, ele me soltou de propósito no começo da descida! _________________________________________________________________________________________________ Sayron Schmidt A minha infância foi algo engraçado, entre o futebol no campinho de areia e as jogatinas no meu Snes guerreiro não havia muito o que fazer a não ser estudar – ou ir para a escola, depende do ponto de vista. Sempre tirei boas notas, era considerado o nerd da sala, mas gostava de uma bagunça, brincadeiras, atualmente ditas perigosas, e muita conversa desde aquela época. O meu futuro na #zuera começava a se formar ali. O primeiro acidente que tive na escola foi algo entre 1996/1997 – não lembro ao certo em qual ano foi. Estava tendo um dia normal e feliz na escola, comendo meu lanche no intervalo, formado por um pãozinho francês com margarina e um copão de suco, e me preparando para brincar nos últimos 10 minutos disponíveis do recreio. Optamos então por pega-pega. Uma correria e eis que sinto um empurrão. Acordo sendo carregado pela escadaria do colégio, como um ferido de guerra. Apago. Abro os olhos e estou sentado em uma poltrona dentro da sala da coordenação. Meu pai está lá. Sinto um pano úmido sobre minha cabeça, eu o tiro e olho. Sangue. Muito sangue. Então começo a entender o ocorrido. “Corri, alguém me empurrou e caí de cabeça no chão, desmaiei, fui carregado e agora estou aqui, sentado numa poltrona com a cabeça aberta. Ótimo! Não vou assistir mais aulas!” Ganhei de brinde seis pontos e alguns dias de atestado. Uns dois ou três anos depois, já com um pouco mais de aptidão na arte de provocar as meninas, mexi com alguém que não devia e paguei por isso. No colégio havia um time de vôlei feminino. Ele sempre participava de jogos intercolegiais e tínhamos o clássico Dom Pedro II Vs Medianeira. O primeiro representando o nosso colégio e o segundo o grande colégio particular de Curitiba. Aconteciam dois ou quatro jogos no ano, sempre variando em um jogo no nosso campo e outro no campo do adversário e em uma dessas partidas estava eu numa mureta no corredor do colégio, onde deve ter uns 2 metros de altura, sentado, observando o massacre sofrido pela nossa equipe. E eis que resolvo sacanear uma colega de sala, que acabou de ser derrotada pelo maior adversário dela e que, provavelmente, estava em uma de suas primeiras TPMs. Resultado? Ganhei um baita empurrão, que fez com que me estatelasse no chão. Mas fui rápido e ~esperto~ e me apoiei no braço esquerdo evitando que eu me chocasse com o chão igual a um mamute caindo do alto de um prédio. Ao voltar para sala de aula, com muita dor no pulso, comecei a sentir minha pressão despencando e a professora – não lembro o nome dela, mas era uma aula de Geografia – achou melhor eu ir até a coordenação. Chegando lá a pressão estava tão baixa que apaguei, acordei com o socorrista chegando e pedindo para eu acompanha-lo até a ambulância. Analisou, olhou e colocou uma faixa e disse: “Vá para um hospital tirar uma radiografia, pois acho que você quebrou o braço.” “Vadia!! Me derrubou e ainda quebrei o braço!” Saldo de 45 dias de gesso, alguns de atestado e a amarga lembrança de nunca provocar alguém enquanto você estiver em algum local alto sem nenhuma proteção ou que não dê tempo suficiente para sair correndo. _________________________________________________________________________________________________ Felipe Storino Eu cresci morando em apartamento, nunca morei numa casa com quintal, mas ao contrário do que reza a lenda, eu me diverti muito nessa época. Talvez até pelo fato de não ter quintal eu tivesse mais liberdade do que muita gente. Vivia atravessando a rua correndo pra ir jogar Mortal Kombat no fliperama que ficava do outro lado. Uma vez quase fui atropelado, mas continuava com minha rotina. E minha rua era relativamente perigosa, quase todo dia tinha acidente na esquina e, geralmente com vítimas fatais. Aliás, essa era outra ~~diversão~~ da criançada do prédio: ir na esquina ver os acidentados. O prédio no qual eu morava tinha sido o primeiro da rua a ser construído e ele não foi pensado para crianças. O parquinho era inexistente e tínhamos que brincar entre os carros no estacionamento. Mas isso era legal, a gente tinha bastante lugar pra se esconder quando brincava de pique-esconde. Sem contar que brincar de ninja era extremamente divertido, pois a gente andava pelos tetos dos carros, até aparecer algum adulto e todo mundo desaparecer com medo. Porém, a coisa que eu mais lembro da infância é das guerras de gangue contra os prédios vizinhos. Como eu falei, a gente não tinha parquinho, mas os dois prédios do lado tinham. O nosso prédio ficava entre os dois e era zuado o tempo todo por conta disso. Mas beleza, a gente era da paz e aguentava a zuação, sumindo com alguma bola de futebol que caía na nossa garagem. Até que um belo dia uma menina do nosso prédio foi na casa de uma amiga em território inimigo e voltou de lá chorando porque os moleques ficavam xingando ela. A porra tinha ficado séria, os caras tinham mexido com ~~nossas mulheres~~. Com sangue nos olhos, tratamos de colocar a vingança em prática. Um dos nossos entrou no prédio do lado (nem lembro como) e ficou encarregado de nos avisar quando os inimigos estivessem no pátio deles. Do outro lado, nós enchemos vários sacos plásticos com mijo. Com o aviso dado, começamos a provocá-los para que aparecessem no muro. Quando isso aconteceu, os moleques levaram o maior banho de mijo e daí pra frente a merda só ficou pior. Além de contra-atacarem com mijo, eles começaram a tacar pedras que atingiram alguns carros. Com a gritaria começou a aparecer um monte de gente e deu a maior merda. Os síndicos dos dois prédios falavam em multar os pais dos envolvidos, mas acho que acabou nem dando em nada. Mas claro que histórias sobre ser expulsos do prédio nos foram contadas e muita gente apanhou de cinto nesse dia (naquela época era permitido), fazendo com que o medo nos impedisse de aprontar outra dessas. Sem contar que, de certa forma, saímos vitoriosos, já que não limpamos nada, enquanto as crianças do outro lado tiveram que limpar o playground inteiro. E pensar que quando tudo isso aconteceu tínhamos apenas uns sete anos de idade.