Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr O ano é 2002 e eu tinha 12 anos. Um acontecimento incrível estava para ser realizado: o Homem-Aranha finalmente ganharia um filme. Não uma animação, não um seriado japonês meio tosco, mas um filme. Pela Sony. Aquilo me animou demais. Li a revista Herói contando as novidades do filme. Li a Isabela Boscov comentando sobre isso na Veja. Não tinha um computador na época, ainda me informava assim. Nem sabia da existência da palavra “hype”, mas se soubesse, teria dito que “estava no hype”. Tudo o que eu via ou lia, falavam sempre de um senhor de cabelos brancos, óculos escuros e sorriso fácil. Esse homem era o responsável pelo Homem-Aranha ter nascido. Fiquei fascinado pela figura. Vi o filme em uma sala lotada. Praticamente sentado no chão. Aquilo me marcou de uma forma que eu não sei explicar. Obriguei a minha mãe ir comigo no Centro de São Paulo para comprar gibis do herói. Saí com um monte em mãos. Eu não sabia, mas nessa época o Aranha não passava por uma fase memorável nos quadrinhos. Mas o simples fato de abrir o gibi e ler “Stan Lee Apresenta” ou “Homem-Aranha criado por Stan Lee e Steve Ditko” já foi o suficiente para mim. Que gibi incrível! Ao ler as histórias de Peter Parker não foi muito difícil se identificar com o figura. Um menino de óculos (eu), fraco (eu), criado por parentes que o amavam acima de tudo (identificação) e que era um nerd na escola (olha só, de novo), e que sofria na vida. Como não se identificar? Como não torcer por esse figura? Corta pro final de 2002. A Panini lançou um encadernado chamado “Os Maiores Clássicos do Homem-Aranha”. Na época, um encadernado de luxo custando R$18,90, algo barato pra um típico leitor de gibis, mas e pra um menino de 12 anos? Fiz de tudo para comprar aquilo, juntei dinheiro de todas as formas e comprei. Novamente cruzava meu caminho com Stan Lee, só que dessa vez eram histórias 100% escritas por ele. E que histórias! Homem-Aranha vs Duende Verde! Norman Osborn perdendo a memória e o Homem-Aranha precisando tomar uma decisão: salvar seu inimigo e correr o risco dele relembrar tudo ou deixar ele morrer e se livrar dos problemas? E o que dizer de “Crise nos Campus” onde aprendi mais sobre racismo e a importância de movimentos estudantis do que nunca antes? E sobre poderes e realidades? E os horrores da guerra do Vietnã? Minha mente explodiu. Que homem incrível era esse Stan Lee! Tentei compartilhar da minha paixão com meus amigos de escola e não fui muito bem recepcionado. Poucos se animaram, os outros preferiram me zoar, me chamando de “Peter”, “Aranha” e por aí vai. Na época fiquei triste, mas sempre lembrava do que os gibis do Stan Lee ensinavam: respeite os outros, seja forte e não deixe “valentões” te intimidarem. Logo fui atrás de outros gibis do cara. Não é possível que ele tenha inventado um deus nórdico, um bilionário com armadura de ferro, um grupo de adolescentes com poderes incríveis, um monstro atormentado. Como pode ter tanta imaginação? E como esses gibis mudaram a minha pessoa. Aprendi com o Aranha a encarar a vida com humor. Com o Quarteto sonhei viver aventuras incríveis. Com o Hulk aprendi que ficar nervoso não era lá muito bom. Com os Vingadores sonhava em ser um Rick Jones rodeado de heróis incríveis. São lições pequenas e diria até bestas de vida, mas para um pré-adolescente aquilo teve um impacto sem precedentes na vida. Nunca fui muito leitor da DC, os heróis de Stan eram imperfeitos, sofriam, possuíam dilemas, assim como eu. Como se identificar com deuses perfeitos da DC? Não tinha como. Os anos passaram e a paixão por quadrinhos continuou. Outros filmes da Marvel apareceram ao longo dos anos e eu sempre fui ver todos. Esperando pelo velho simpático aparecer na tela e eu pensar mentalmente “tá aí o cara que mudou minha vida”. Depois descobri das histórias polêmicas dele envolvendo Jack Kirby e outras polêmicas. Admito que nossa “relação” se abalou um pouco por conta disso, mas o amor que eu sentia por ele era difícil de apagar. Acompanhei com dor no coração a morte de sua esposa e sua saúde se debilitando, é complicado você ver um deus enfraquecendo diante dos seus olhos. Um homem que deu tanta alegria para as pessoas ficando daquela forma. Como lidar? Um homem que tem um impacto cultural maior que presidentes. Um homem que alterou o destino da vida de milhões de pessoas, inclusive o meu. Uma força da natureza. Como mensurar? Existe uma escala? Um homem que sozinho criou uma nova forma de contar histórias. Que transformou vidas. E hoje ele se foi. Com 95 anos. Contou histórias incríveis. Inspirou outros artistas a continuarem o seu legado. Me ensinou muita coisa que eu levarei eternamente comigo. Com Grandes Poderes vêm Grandes Responsabilidades. Obrigado por tudo, Stan Lee.