Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr A minha primeira impressão de Lena Dunham não foi necessariamente boa. Quer dizer, a visão do rosto dela na tela desempenhando o papel de protagonista de uma série (Girls, HBO), que prometia ser boa, me incomodou um pouco. Não me orgulho em dizer isso agora, mas tive uma “reação” bastante instintiva em relação à aparência dela. Ainda que a coisa penda para padrões mais exóticos, como a Kat Dennings, por exemplo, nossos olhos querem ver beleza. É triste, mas a verdade é essa. Como quando falam na faculdade de jornalismo (por exemplo) que alguém tem (ou não tem) rosto “para a TV”. Significa, em palavras relativamente sutis, que seu rosto não é exatamente aquilo que as pessoas querem ou esperam ver na TV. Não que ter rosto “para a TV” signifique que você seja exatamente bonito, mas que pelo menos você tem um rosto normal o bastante (e não feio o bastante) para que as pessoas não se sintam incomodadas e desconfortáveis com ele. Simples. Alguém já viu uma “moça da previsão do tempo” fora dos padrões de beleza? Uma âncora não-bonita? Uma atriz feia ou gorda no papel de protagonista de um filme ou seriado? E essa se tornou uma das principais razões para que eu passasse a admirar e idolatrar Lena Dunham cada vez mais. Porque, como se não bastasse não ter um rosto bonito, ela está acima do peso. Bastante fora dos “padrões”. E faz questão de tirar a roupa tanto quanto possível, de preferência em cenas de sexo, em geral desconfortáveis de assistir, ou em uma gratuidade que beiram o patético em alguns momentos. Como em uma das primeiras cenas do seriado, em que ela aparece pelada em uma banheira comendo um cupcake. E não é no estilo Bridget Jones. Hannah Horvath não está tendo um colapso, não está em uma luta contra a balança, ela parece simplesmente não se importar. Ela come um bolinho apenas porque sim. Não que seja algo completamente ignorado. Lá pelo final da temporada ela grita, em meio a uma discussão com o rolo/namorado, que está uns 15 kg acima do peso e isso foi horrível por toda a sua vida. Além disso o tópico “aparência” não parece estar lá. Não é uma série sobre a inadequação estética da personagem. Isso é só um detalhe simples, mas importante, que ajuda Hannah a se tornar ainda mais real. Não é como assistir a uma série que tenta representar uma personagem com a qual eu deveria me identificar, até o momento em que ela está em uma determinada situação na qual eu não estaria, pelo simples fato de que eu não tenho rosto para a TV. A razão mais sensacional pela qual Girls está fazendo um tremendo sucesso, e pela qual Lena Dunham ganhou dois Globos de Ouro, é que é tudo muito real. Além de ser largamente baseado na vida da própria Lena, Girls mostra quatro meninas (umas mais, outras menos), ali pelo começo dos seus 20 anos, passando por uns perrengues em Nova York. Elas não são bem sucedidas, elas não têm emprego ou, se tem, não há segurança ou satisfação neles. Algumas nem sabem o que querem da vida ainda. É a vida real no começo da casa dos 20. É a crise econômica, a falta de preparo, de não saber o que fazer, pra onde ir, como reagir. Hannah tem formação acadêmica, mas a questão que paira no ar é simplesmente “e agora?”. Ela quer se tornar escritora, mas isso não parece ir a lugar algum. Ela precisa se sustentar, mas parece ser inadequada para os trabalhos que a aceitam no momento, ela é irresponsável e sempre toma decisões, no mínimo, idiotas. Sem falar na “vida amorosa”. Na primeira temporada ela insiste em um pseudo-relacionamento com um cara para o qual não parece fazer muita diferença se ela está ali ou não. Hannah faz coisas que me fazem gritar “nãããão, sua burra”, mesmo que eu já tenha feito algo tão idiota quanto (e talvez justamente por isso). Infelizmente ainda não aconteceu aquela brecha nos padrões. Lena Dunham, seu rosto não-bonito e seus quilos a mais não são aceitos pela sociedade e padrões de beleza impostos pela mídia. Isso aí entra em todo um assunto muito maior e mais difícil e incômodo, mas a questão aqui é que ela lida com tudo isso de modo adorável e digno de admiração e respeito. Howard Stern, personalidade do rádio nos Estados Unidos e jurado do America’s Got Talent, comentou que ela é uma “garotinha gorda que parece com o Jonah Hill”, e disse ter se sentido incomodado com as cenas de sexo da série e “não querer ter visto isso” [Lena nua]. Mas ele também disse algo como “parabéns pra ela, é tão difícil para garotinhas gordas conseguirem fazer as coisas acontecerem nos dias de hoje”. E a resposta de Lena Dunham foi ver o lado bom da coisa e declarar que é isso que ela quer escrito em seu epitáfio: ela era uma garotinha gorda, mas ela conseguiu fazer as coisas acontecerem. E isso é uma grande inspiração, não só para todas as garotinhas gordas que estão por aí tentando fazer algo acontecer, mas basicamente pra todo mundo que está tentando alguma coisa e tendo sua aparência como um dos fatores da equação. Não acho que Girls vá representar um símbolo da revolução estética da mídia (ainda), mas já ajuda bastante. O assunto está aí, sendo debatido. Lena Dunham está aí, contando em entrevistas sobre o quanto é legal que ao menos esteja no ar uma mulher de tamanho normal, de vida real. Seja para admiradores de garotinhas gordas que conseguiram algo na vida ou não, a série é altamente recomendável. Especialmente se você gosta de entender do que é que todo mundo está falando no momento. Sem contar que é tudo deveras divertido e a trilha sonora é ótima. Aliás, já que estamos aqui e este site é visitado (imagino) majoritariamente por rapazes: e aí, caras, o que vocês acham de Girls? Esses dias entrei em uma discussão twitterística com um amigo, na qual eu defendia que Girls é uma série da preferência de meninas, sendo que eu não conheço muitos caras que curtem. Alguém aí já assistiu? O que vocês acham? Não esqueça de participar da nossa promoção de aniversário!