Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr O dia quente contrasta com o frio na barriga do momento, um domingo quente em Curitiba e o ápice da ansiedade afligia meu corpo. Pernas tremulas, mãos inquietas e o suor frio escorria no rosto. Acho que desde meu primeiro vestibular que não me sentia assim. Para entender melhor tudo isso, vamos voltar a um pouco mais de um mês atrás, quando resolvi recuperar a forma física de alguns anos. Comecei com corridas, acompanhado por um amigo, duas vezes por semana e durante uma conversa na primeira corrida surge um comentário dele sobre um try out de Futebol Americano, ocorreria no dia 29/01, no Estádio Couto Pereira. Sabia que ele já praticava o esporte a uns seis anos, de forma amadora, e hoje joga no Coritiba Crocodiles e sempre tive vontade de jogar. Nesse momento nasceu a idéia de se dedicar um pouco mais aos treinos e se inscrever para a “brincadeira”. Duas semanas de caminhadas e corridas diárias, exercícios leves, pois, além de estar muito acima do peso, não praticava nenhum esporte de forma constante a uns dois ou três anos, e achava que estava pronto para um conhecer os fundamentos, os possíveis exercícios do try out e decidir a qual posição se candidatar. Escolhemos uma terça-feira no fim da tarde, mas, infelizmente, ao chegar no Parque Barigui, chuva. Muita chuva. Treinamos mesmo assim, mas sem a parte física, apenas noções de treino, posições e afins. Esse dia rendeu a decisão de qual posição escolher, Offensive Line ou Tight End. Ambas fazem parte da defesa do ataque, são os gordinhos que precisam impedir que o Quarterback ou os corredores sejam destruídos pela linha defensiva adversária. Para um gordinho como eu, seria o ideal, até por não ter preparo físico para ficar correndo como um louco pelo campo em outras posições (rs). Confesso que na primeira semana meus joelhos começaram a pedir arrego e já não sabia se conseguiria participar do evento. A vontade de desistir bateu a porta pela primeira vez. Mas apoiado pela minha esposa, Ivin, (@sweetiessss) e pelo Ericson (@ericsonfc), continuei firme. A segunda semana fui até o fim, peguei um pouco mais leve e atingi o objetivo. Na terceira semana tivemos um treino físico mais pesado na terça-feira e descanso até sexta, quando rolaria um futebol maroto a noite, só para descontrair, e o try out seria no domingo. Mas essa terça-feira foi complicada. Começamos a fazer um treino semelhante ao do time, quer dizer, aplicamos uns 30% do treino oficial deles. Nesse momento tive vontade de desistir pela segunda vez. Passei mal por conta de uma queda de pressão brusca em um dos drills que fizemos e capotei no gramado do Parque Barigui, enquanto ele e o irmão estavam lá, firmes e fortes. Sábado havia feito um dia nublado e aconchegante, tinha certeza que seria assim no domingo. Me enganei. Já nas primeiras horas da manhã um sol rachava o crânio dos pobres curitibanos que arriscaram vagar pelas ruas. Olhei pela janela, lembrei do try out. O nervosismo começou a chegar. Veio devagar, mas durante o almoço ele já me dominava. Uma da tarde eu já estava lá, na arquibancada, olhava os outros participantes chegando, agora eu deixava de ser o Sayron e passava a ser apenas um número, 250. Era isso que estava escrito no meu braço. Percebi que tinham quase 200 pessoas naquela arquibancada (tiveram quase 310 inscrições!), de todas as raças, credos e portes físicos. Estava me sentindo um pouco deslocado, nunca fui do tipo esportista, no máximo jogava uma partidinha de futebol de vez em quando. Então o que eu estava fazendo ali? Sei lá. Começam as instruções e somos encaminhados a parte de trás de um dos gols. É anunciado o começo do try out com um alongamento, seguido de um aquecimento. Lembrei das três semanas de exercícios diários, das dores nos joelhose dores musculares. Motivei-me. O alongamento confesso que foi tranqüilo. Já o aquecimento… Ah! Aquele aquecimento. No melhor estilo Tropa de Elite, um rapaz coordenou o nosso aquecimento. Cem polichinelos. Aguentei setenta e cinco. Nisso a turma começou a fazer pressão para a galera desistir, confesso que cogitei sair daquilo ali rapidamente, mas não queria sair como um covarde, alguém que nunca consegue terminar o que começa. Vamos adiante. Os três outros exercícios de aquecimento não lembro os nomes, mas garanto para vocês que nunca senti tantas dores me exercitando, quer dizer, apenas aquecendo! Sobrevivi ao aquecimento. Digo sobrevivi porque nunca passei por tanto perrengue como nesse momento. Dor, aflição, desmotivação, tudo isso te consome, físico e psicológico fazem de tudo para que você vire e saia do campo. Já imaginava que não passaria para a segunda fase, mas coloquei como objetivo terminar, ir até o fim. Depois do aquecimento, fomos liberados para beber uma água e descansar. Lhes garanto que foram os cinco minutos mais bem usados durante minha vida. Isso tudo começou as 15 horas. O próximo passo eram os drills gerais. Correr quarenta jardas como se não houvesse amanhã, pular o mais longe possível sem correr, séries de flexões e abdominais e os três cones, talvez o drill mais divertido do treino. Lógico que comecei pelo pior, o que não era de todo mal, mas após um aquecimento agradabilíssimo, fica complicado correr, praticamente, 37 metros como um louco. Fiz até que um bom tempo para um cara de 110 kg, mas meus joelhos imploraram por misericórdia. Na segunda corrida não consegui manter o mesmo ritmo. Depois meu grupo foi para o salto. Quase consegui atingir os dois metros, fiquei no 1,97m mesmo. Do pulo para os três cones. Tranquilo, mas cansativo. Ninguém quis me passar o tempo e fiquei curioso para saber qual a marca que atingi. E, por fim, pegamos as abdominais e flexões. Nunca fui muito fã desses exercícios, até porque sei o quanto sou pesado e a dificuldade de levantar esse corpinho esbelto. Não passei vergonha, mas não fui, nem de longe, um dos melhores. Depois desse empenho todo você pensa “porra, já estou no final”. Nope. Falta ainda os drills das posições especificas e ai veio a surpresa. Nunca me senti tão magrinho. Os caras que estavam lá querendo uma vaga no time eram todos muito maiores do que eu, tanto em altura quanto em peso. Nos drills específicos não consegui dar o meu melhor. Os braços já quase não respondiam aos comandos, as pernas estavam bambas e o cérebro estava esgotado, mas fiquei firme até o fim, inclusive a tempo de ser atropelado umas três ou quatro vezes pela galera da Defensive Line no desafio de defesa contra ataque. Além de me ajudar a aumentar a autoestima e começar a acreditar mais nas minhas capacidades físicas e psíquicas, esse try out demonstrou que, mesmo com o esporte ainda no nível amador e sendo pouco difundido no país, a galera que pratica leva a sério e faz todo o possível para continuarem evoluindo. Já sei que não estou pronto para uma outra, mas quem sabe se eu continuar os exercícios e focar em condicionamento eu não consiga participar de um próximo try out com maiores chances de ficar no time (sim, eu não passei no teste.). Nota O Futebol Americano, assim como o Rugby, vem crescendo de forma fantástica no Brasil e para quem curte NFL ou qualquer outra liga profissional não deveria perder a oportunidade de assistir a um jogo, é garantia de emoção e diversão, além de proporcionar uma outra visão sobre um esporte que não é apenas contato físico como muitos acham, mas sim muita estratégia e inteligência. O campeonato paranaense está sendo organizado pela Federação Paranaense de Futebol Americano (FPFA), enquanto o brasileiro será organizado pela Associação de Futebol Americano do Brasil (Afab). Fotos: Coritiba Crocodiles