Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Sobre a Ganância e a Semente Certo criticismo envolve a franquia O Hobbit desde seu início. Alguns acusam ela de oportunista, por diluir o conteúdo de um livro em três filmes, outros taxam a escolha dos 48fps como um erro, e que o resultado é estranho e decepcionante. Outros ainda afirmam que o desenvolvimento de Thorin Escudo de Carvalho ficou de dar sono. Exageros à parte, é certo dizer que a história de O Hobbit, no cinema, não é tão cativante como, por exemplo, a de O Senhor dos Anéis. Esta é uma comparação que parece justa e injusta ao mesmo tempo. Mas é preciso lembrar que ambas as trilogias foram gravadas de forma semelhante, pela mesma equipe, nos mesmos sets, e mesmo assim uma é superior a outra, pelo menos em termos narrativos. Mas isso é fácil de entender, pois afinal, na sacrificante epopeia de Frodo e Sam, existem mais personagens, com diferentes objetivos, divididos em mais núcleos, o que consequentemente gera mais plot twists e mais fluidez para a trama. Já todo pensamento de O Hobbit aponta para a mesma direção, e isso em tela, promove um desenvolvimento moroso do roteiro, que exige um pouco mais de imersão voluntária do público, por assim dizer. E se fosse apenas um filme, ou dois, isso aconteceria? Talvez não. Afirmar com toda certeza do mundo que, se O Hobbit fosse apenas um filme, sua recepção seria melhor, que não enfrentaria críticas e que o resultado seria superior, é apenas presunção. No entanto, mesmo que as motivações por trás dos três filmes fossem financeiras – pois nada acontece apenas por causa dos belos olhos da Tauriel –, erguer uma produção como essa não é nada fácil, ainda mais rodeado por inúmeros problemas judiciais envolvendo a “marca” Tolkien. Devemos lembrar que há uns cinco anos atrás, a realização de O Hobbit era praticamente um sonho utópico, que meio que renasceu como trilogia. Ainda assim, com problemas narrativos e acusações diversas, a mensagem do roteiro, ironicamente de repúdio a ganância e toda a ignorância que ela proporciona, é tão emblemática em O Hobbit que se torna mais abrasiva do que em O Senhor dos Anéis, este que por sua vez dá mais ênfase a seus personagens. A loucura de Thorin pode ser considerada uma analogia perfeita do maior e mais corrosivo mal de nossa história como sociedade: a corrupção desmedida pelo poder. E recompensando a atenção dos fãs, o alquimista Peter Jackson novamente transforma sua Nova Zelândia na Terra Média de Tolkien, como em um passe de mágica. É um prazer incomensurável acompanhar o deslumbre visual proporcionado pelo diretor em A Batalha dos Cinco Exércitos. Os 48fps demonstram o quão perfeito é todo o trabalho de cenografia e figurinos. Tudo é feito com uma riqueza de detalhes reveladora, uma opção corajosa, que ao expor demais, exige atenção redobrada. Os efeitos especiais incríveis misturam realidade e magia, igualam dragão e executor como se os dois fossem feitos da mesma matéria, montam ambientes colossais, dão vida a criaturas assustadoras. De olhos arregalados vemos humanos fugirem do fogo da morte, magos lutando contra os espíritos dos homens, orcs enfrentando anões e elfos em massivas batalhas, talhadas com esmero. O final de A Batalha dos Cinco Exércitos emociona bastante, não pela trilha sonora impecável de Howard Shore, nem pela atuação auspiciosa de Martin Freeman e todo elenco, mas sim pela mensagem, pelo justo preço da ganância, pela semente que será plantada e trará lembranças, pela amizade de Bilbo e Thorin. Recomendado.