Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Há que trabalhar, ainda que não seja por gosto, ao menos por desespero, uma vez que, bem vistas as coisas, trabalhar é menos aborrecido do que divertirmo-nos. A frase acima é de Charles Baudelaire, um francês do século XIX, poeta, teórico das artes, pensador, chato pra dedéu. Baudelaire era extremamente ligado à estética, moda e modos (recomendo a leitura do Sobre a Modernidade). Talvez o primeiro hipster e santo padroeiro do Instagram. Mas Baudelaire sabia, que pra ser hype, era preciso ser infeliz. Ou no mínimo, andar com a cenoura no cu #mário #gomes. Todos temos modas, modos e costumes. Gosto não se discute, se lamenta. Eu mesmo gosto de coisas que muita gente gosta, como futebol e Grey’s Anatomy, e outras que ninguém gosta, como Pepsi com Yakult e tocadores de banjo dos anos 20. Não é o gostar que me preocupa, não é a moda. É apenas a babaquização da humanidade. E quando digo babaquização não é algo estilo Idiocracy (filme de 2006 que faz dura crítica ao Americano médio e o que pode se tornar a humanidade), nem mesmo a babaquização adolescente. Adolescente, é por definição, babaca. Está em processo de formação de personalidade e eu acho ótimo que consumam produtos nitidamente voltados a eles, como bandas coloridas e literatura romântica com vampiros, zumbis e fantasmas (embora ache que isso esbarre na necrofilia, mas quem sou eu pra julgar não?!), o que me incomoda é a babaquização do ser humano adulto. Ou o que deveria ser um adulto, né? Cada vez mais a gente assiste um processo de infantilização do adulto. As pessoas saem cada vez mais tarde da casa dos pais, ficam cada vez mais tempo sendo sustentados, cuidados e amparados pelos véios e por diversas vezes, não têm a mínima noção da vida adulta aos 30 anos. Pense que aos 30 anos, seus pais já tinham filhos, empregos, casas, contas pra pagar, cachorro, papagaio…seus avós então já tinham tudo isso aos 20. Se tu for do leste europeu, eles já tinham isso aos 13 kkkk. A babaquização desconhece limites, ela invade tudo, toma de assalto diversos níveis da sociedade sem que a gente não perceba. Ou perceba e a acolha como algo normal. Há cinco anos atrás, achávamos normal e socialmente aceitável comer um brigadeiro (negrinho se tu for do Sul) da padaria por R$1,50. Afinal, é um brigadeiro, chocolate, leite condensado e manteiga (sei nem a receita gente), típico de festas infantis, festa de aniversariantes do mês da firma e mulheres deprimidas num domingo à tarde. Agora existem lojas somente para brigadeiros, com diversos sabores, côco (que pra mim chama beijinho ou branquinho), ervas, pimenta, azeite, flor de sal (não sei o que é isso mas tem em todo lugar também. Só conheço Sal Cisne. Deve ser a babaquização do iodo), amêndoas, esperma de sapo cururu e sabe Deus mais o que. E eles custam, tipo, 500 Farrapos Gaúchos uma caixinha mixuruca com 6. Meu companheiro, eu como 6 brigadeiros de uma vez, tendo ele flor de sal ou a flor do Jorge Tadeu. A babaquização do brigadeiro me preocupa. Aliás, já que estamos tratando de culinária, terreno amplamente babaquizado, e em padarias, eu gostaria de lembrar da babaquização delas próprias. Há 15 anos atrás padaria vendia cacetinho (pão francês para vocês, pessoas sem costumes), leite tipo B no saquinho, bala Juquinha, frios e picolé. Hoje padaria tem iluminação especial sobre a mesa de brioches, doces franceses, sorvete só se for Haagen Dazs, sei lá como escreve, e baristas para servir o pingado. A babaquização da padaria me preocupava, mas infelizmente perdemos essa luta. Tirando a gastronomia, não há terreno com mais babaca por metro quadrado, do que rede social. Não me entendam mal, eu adoro redes sociais, uso todas (menos Linked In por que ninguém em sã consciência me contrataria vendo como me comporto na internet), uso Instagram sim, diboua. Mas olha é um tal de ser viciado em café, insone, nerd, geek, indie, analista de mídias sociais, fotógrafo, que eu vou te contar. Falar que a mãe ta pelada na fila do SUS ninguém quer, né?! A babaquização das redes sociais já me preocupou mais, estou convivendo com isso. Porém o risco dessa babaquização das redes é a babaquização da mobilização política em consequência. Por que para o babaca moderno não basta ser babaca e ficar três horas na fila pra comer uma coxinha, ou pagar R$7,00 num copo de café com leite, o babaca tem que se engajar. Mas o bbk não quer sair da zona de conforto dele, então ele posta uma hashtag no Twitter, e compartilha uma imagem no Facebook. Pronto, o babaca vai dormir tranqüilo por que fez a parte dele para um mundo melhor. Aí sim, a babaquização da consciência social é que deveria preocupar a todos nós. Mas eu acho que nenhuma babaquização me dói tanto quanto a do boteco. Há 10 anos atrás um boteco era um lugar pequeno, de higiene duvidosa, com uns três bebaços no balcão tomando pinga, torresmo frito e ovo cor de rosa pra comer, garrafas de Pitu e a cerveja mais gelada e mais barata que tu podia encontrar. Hoje o conceito de boteco, do grego boteko, do latim botecum, do francês, botequê…os senhores estão anotando? Vou pedir isso na prova…Enfim, o conceito de boteco se perdeu. É claro que ainda existem os botecos de raiz, mas se tu leu na Veja São Paulo, ouviu numa conversa de uma grupo de pessoas num restaurante da região da Av. Paulista, pode ter certeza absoluta que não é boteco. É um ambiente, caro, e milimetricamente pensado para parecer um boteco, os banheiros são limpos, o chão é limpo, e por Tutatis, o balcão é limpo!!!! Esse ~~~boteco~~~não serve torresmo, mas sim faz releituras babacas, como confit de torresmo com molho de feijoada. Não tem ovo cor de rosa, mas tem bruschetta de ovo de codorna. Não tem pinga nem Pitu, mas tem sakêrinha de kiwi. Juventude, isso não é um boteco! Isso não é nem bar! É só um lugar pra ser babaca. Não me importa se tu quer ser babaca. A babaquice é democrática, desconhece raça, religião, classe social ou opção sexual. É muito, mas muito fácil ser babaca, por isso tanta gente se deixa seduzir pelo lado babaca da Força. Mas apenas parem com a babaquização das coisas simples do trabalhador brasileiro. Deixem eu comer brigadeiro na festa da firma, daqueles com bastante gosto de gordura hidrogenada, me deixem comer ovo cor de rosa e me deixem beber Pepsi com Yakult antes que babaquizem isso também. ARTE DA VITRINE: Thiago Chaves (@chavespapel)