A trilogia Bourne foi uma das melhores coisas que surgiram no cinema nos últimos tempos, sendo responsável pela revitalização do gênero superespião. É impossível não se empolgar com suas cenas de luta muito bem coreografadas e perseguições automobilísticas de tirar o fôlego. O sucesso foi tanto que até mesmo o clássico 007 sofreu alterações em sua encarnação mais recente. Daniel Craig é o James Bond mais porradeiro de todos, ficando conhecido entre os fãs como o “Bond que sangra”. Mas claro que Hollywood não podia deixar a trilogia em paz e inventaram de fazer uma história paralela. Estrelado por Jeremy Renner, O Legado Bourne nem de longe lembra os bons momentos da franquia. Se não tivesse o nome Bourne no título é bem provável que passasse batido por todo mundo.

O filme já começa fazendo uma referência óbvia à Identidade Bourne (primeiro filme da franquia), com um corpo boiando na água. Porém, não se trata de uma recapitulação, mas sim a apresentação do protagonista Aaron Cross, que está passando por uma espécie de treinamento no Alaska. Isso é até interessante, pois já deixa clara a diferença do novo personagem para o agente desmemoriado. Enquanto Bourne tentava descobrir quem era e o que tinham feito com ele, Cross sabe exatamente o que faz ali e gosta disso. Talvez se a produção se concentrasse mais na história do novo personagem, o filme fosse mais divertido. O problema é que o roteiro se prende demais à franquia original, o que dificulta o entendimento para quem não assistiu aos outros filmes. Se a ideia era recomeçar, não estão fazendo direito.

Após a rápida cena no Alaska, o protagonista demora a aparecer novamente e começamos a assistir toda a conspiração que envolve os programas secretos do governo. Além do programa Treadstone – do qual Bourne fazia parte – ficamos sabendo do programa Outcome, que criou Aaron Cross. Pelos diálogos dos personagens, é possível perceber que a nova história acontece ao mesmo tempo que os eventos de O Ultimato Bourne. São vários minutos mostrando discussões a respeito da captura de Jason Bourne e as consequências que a revelação do programa Treadstone pode acarretar. Até mesmo algumas cenas do terceiro filme são reaproveitadas. Para o mais fanático, isso tudo pode ser bem divertido, mas quem está chegando agora vai ficar bem perdido com a coisa toda.

Sem dar muitos spoilers, quando já está plenamente estabelecido que a fuga do Bourne vai dar merda pra todo mundo, começa uma queima de arquivo em todos os programas secretos. Claro que Aaron Cross sobrevive e começa sua fuga, exatamente como Jason Bourne. E este é outro grande problema do filme, ele emula demais a franquia original. Poderiam ter aproveitado a ideia de vários programas diferentes e fazer uma história que mostrasse um desses agentes atuando em uma missão para o governo. Seria a oportunidade de mostrar que nem todos são como aqueles que caçavam Bourne, que mais pareciam robôs do que humanos aprimorados. Infelizmente, não é o que acontece. Este filme acaba se tornando um Identidade Bourne de segunda categoria. Temos ali a fuga inicial do protagonista, a busca por algumas respostas, o resgate da mocinha que vai ajudá-lo etc…etc…etc.

A princípio, seguir uma fórmula que já fez sucesso pode parecer uma boa ideia, mas é necessário executá-la direito. Por exemplo, a pior cena de ação dos três filmes anteriores ainda é melhor do que as melhores cenas de O Legado Bourne. Além de bem coreografadas, as lutas protagonizadas por Matt Damon eram extremamente viscerais, você podia sentir cada soco sendo desferido, ficava angustiado com as porradas que o protagonista levava. Já as lutas deste novo filme possuem cortes rápidos, muitas vezes nem deixando que o espectador veja direito o que aconteceu. Sem contar que são todas muito rápidas, com Cross vencendo facilmente. E quando finalmente parece que o agente Cross encontrou alguém à sua altura para enfrentar, a coisa toda é muito anticlimática. Com Aaron Cross e seu perseguidor utilizando motos, as perseguições pelo trânsito também não estão lá essas coisas, se resumindo a saltos por cima dos carros e muretas. O pior é que, quando eu achei que o filme ia engrenar, ele acaba de uma forma bem besta.

O trio principal de atores é bom, porém nenhum deles apresenta algo de excepcional neste filme. Edward Norton interpreta o clássico personagem responsável por algum programa secreto, sempre querendo tirar o seu da reta. A bela Rachel Weisz interpreta a médica genérica que está ali pra ser protegida por Cross e responder às dúvidas que os espectadores possam ter. Já o protagonista Jeremy Renner não demonstra nenhuma diferença interpretando Aaron Cross ou Clint Barton. Talvez Cross até já tenha feito alguns trabalhos pra SHIELD. O que me pareceu mais interessante na história quase não é mostrado: o passado de Aaron. Infelizmente, são mostradas apenas algumas cenas de flashback bem rápidas a respeito disso, provavelmente com o objetivo de mostrar mais coisa em possíveis continuações. Vamos torcer apenas para que eles consigam se desligar um pouco mais da trilogia estrelada por Matt Damon.

The Bourne Legacy. (EUA, 2012)

Direção: Tony Gilroy

Duração: 135 min

Nota: 6

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No Comments

  1. Roberttojr

    28 de setembro de 2012 at 09:43

    Também achei o filme MUITO dependente da trilogia original, digamos assim, o que no meu ponto de vista acabou cagando completamente esse novo filme. Acho que parte disso se deu pela expectativa que ele gerou nos fãs.

    Quando eu saí do cinema a única frase que ecoava em minha mente era: “Terei que assistir ao segundo filme para me convencer”.

    Cara, e o que foi aquele final?! Parece que os caras não pensaram em um final e jogaram na cara da galera aquele final ridículo!!!

    O jeito é esperar pelo segundo. Texto show!

    Reply

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