Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Lançada em 2001, a linha MAX tinha tudo pra dar certo: a Marvel Comics havia acabado de se afastar do famigerado Comics Code Authority e resolveu lançar histórias adultas voltadas para um público maduro. Sucesso garantido, certo? Mas pra entender essa história temos que voltar um pouco no tempo pra ter um panorama melhor. O ano é 1982 e Jim Shooter tem um sonho e plano: lançar uma linha de quadrinhos dentro da Marvel onde os criadores teriam controle sobre suas criações. Esse projeto ganha vida e a Epic Comics é lançada com um gibi que atualmente é cultuado por milhares de fãs: Dreadstar de Jim Starlin. Algumas publicações depois a linha começou a capengar, pois não havia personagens famosos o suficiente para chamar a atenção do público. A Marvel rapidamente chamou Frank Miller e Bill Sienkiewicz para produzir Elektra: Assassina para ver se o selo conseguia respirar melhor (o que deu até certo), e a seguir vieram apenas materiais de super-heróis com uma roupagem “adulta”: Wolverine e Destrutor: Fusão, Homem de Ferro: Crash (com arte 3D!) e Surfista Prateado: Parábola. Porém o que foi um respiro voltou a ser um problema e a linha não caía no gosto do público. A editora até publicou materiais europeus de Moebius pra ver se revertia o quadro, mas nada. O tiro de misericórdia foi a publicação do cultuado Akira, de Katsuhiro Otomo, quando a Epic Comics foi encerrada em 1996. Essa foi a segunda experiência de selo fracassado que a Marvel experimentou. O primeiro foi New Universal (coincidentemente outra cria de Jim Shooter), fazendo com que a editora só lançasse uma linha nova no ano 2000, quando a Ultimate Marvel ganhou vida. Contudo, havia chegado o momento de uma linha adulta, já que a Marvel não seguia mais o Comics Code Authority e era hora de mostrar que estava disposta a fazer valer essa briga. O primeiro gibi da linha MAX foi Alias, do então escritor em ascensão Brian Michael Bendis e Michael Gaydos. Para provar que a HQ era “adulta”, a edição #1 de Alias já abre com uma cena de sexo anal da protagonista da série, Jessica Jones. O que veio em seguida no ano de 2002 não foi tão animador; materiais como Blade, Apache Skies, The Hood (origem do vilão Capuz, aquele que atormentou os Novos Vingadores por um tempo) e Black Widow não empolgavam. A mini da Viúva Negra ainda tratou de bondage, espionagem e outros temas, mas nada que chamasse tanta atenção. Cage da dupla Brian Azzarello e Richard Corben foi uma exceção. A linha começou a engrenar de verdade em 2003 quando John Michael Straczynski lançou Squadron Supreme e pôde brincar um pouco de ser Alan Moore e fazer o seu Miracleman (não com a mesma qualidade, claro). Entretanto, esse ano fica marcado por conta da entrada do único autor que entendeu a proposta MAX: Garth Ennis. Ennis, famoso por obras como Preacher e Hellblazer , deu o primeiro passo para tornar a linha MAX algo a se respeitar quando lançou a minissérie The Punisher: Born, contando a verdadeira origem de Frank Castle. O escritor irlandês, que também é conhecido pela sua habilidade de contar histórias de guerras incríveis, escreveu a origem definitiva do vigilante, explorando o lado negro, angústias e desejos do futuro Justiceiro. No ano seguinte o escritor fez aquela que é a publicação máxima de toda a linha e também do personagem: Punisher MAX. Nessa série, Ennis trabalhou diversos temas: máfia irlandesa, tráfico humano, Guerra Fria, vingança, paternidade, corrupção no exército americano e muito mais. Tudo isso sem precisar apelar para cenas gratuitas de sexo ou algo parecido; tudo foi construído respeitando a proposta da linha. O escritor já tinha experiência com uma linha adulta, pois ficou anos na Vertigo, talvez essa tenha sido sua grande vantagem em relação aos outros escritores. Depois do fim de Alias em 2004, e a transferência de Squadron Supreme pro universo 616 (o tradicional da editora) em 2006, a linha MAX ficou apenas vivendo de gibis de qualidade duvidosa e sendo sustentada por Garth Ennis e seu Justiceiro. Tanto que quando o irlandês saiu do título no número #60, o gibi foi rapidamente cancelado quando chegou à marca de 75 edições. A Marvel ainda tentou emplacar uma série do Deadpool, que é o novo Wolverine em se tratando de vendas e exposição, mas nem os talentos de David Lapham (da premiada Stray Bullets) e Kyle Baker conseguiram chamar a atenção do público. A linha ainda ganhou uma sobrevida com a volta de PunisherMAX (inclusive escrito dessa forma) mas dessa vez pelas mãos de Jason Aaron, que é bom, mas não é Garth Ennis. O próprio Ennis voltou pra escrever Fury MAX, que foi bastante elogiada pela crítica e fãs. Boa parte da culpa do fracasso da linha MAX deve-se ao editor Axel Alonso que não entendeu a proposta da própria linha, permitindo que todos os autores apenas escrevessem histórias ~~adultas~~ com mortes, sangue, alguns peitos e palavrões mas sem se preocupar em trabalhar temas que a temática permitia. O mais engraçado é que o próprio Alonso foi editor da Vertigo por anos, sendo o responsável por editar obras como Preacher, 100 Balas e Patrulha do Destino de Grant Morrison. Provavelmente ele deixou todo o know-how na DC Comics e apenas se preocupou em virar o Editor-Chefe da Marvel Comics. A Marvel ainda tem outra linha com uma proposta parecida, mas voltada pro material autoral, que é a Icon Comics, que basicamente é o playground do escritor Brian Michael Bendis pra ele escrever o que der na telha. Uma pena que a editora não sabe como fazer uma mina de ouro dessa funcionar. Quem perde somos nós, os leitores.