Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr O Corinthians fechou 2012 com chave de ouro. Depois da conquista da tão sonhada Libertadores, atravessou o oceano pra ser campeão do Mundial Interclubes. Ao contrário de vários outros clubes brasileiros, o time conseguiu manter seu elenco vitorioso e ainda trouxe Alexandre Pato para disputar as competições em 2013. Parecia que o novo ano seria tão bom quanto o anterior, até que, logo na sua estreia na Libertadores deste ano, uma tragédia: um sinalizador partindo da torcida corinthiana matou um garoto boliviano de apenas 14 anos. Não demorou para que surgissem os inquisidores com tochas em suas mãos querendo queimar TODOS os corinthianos. Pior ainda, logo em seguida surgiram os ~~intelectuais~~ com sua frase clássica “torcedor brasileiro é violento, tem que banir as torcidas organizadas”. Calma aí né pessoal, esse tipo de generalização só beneficia justamente os preguiçosos responsáveis pelas leis neste país. Ou vocês acham que proibir torcida organizada vai impedir algum desses “torcedores” de ir ao estádio e brigar do mesmo jeito? Os caras simplesmente vão deixar de ir com a camisa da torcida, mas vão continuar indo e brigando. O que precisa acontecer é fazer as leis serem cumpridas e que os brigões comecem a ser punidos. E nada de lei específica pra estádios não, se um cara comete assassinato, ele deve ser punido por isso independente da briga ter sido por causa de futebol. Pedir a proibição das organizadas é tudo que os políticos mais querem, afinal, é muito mais fácil proibir algo do que investigar caso a caso. Depois, quando a violência não diminuir, eles ainda podem dizer “fizemos o que vocês queriam, o que mais vocês querem?” No caso específico do que aconteceu na Bolívia, o torcedor que soltou o sinalizador teria deixado de viajar se as organizadas fossem proibidas? Eu acredito que não. Até porque eles viajariam como torcedores normais e ainda iam colocar as camisas da torcida lá no local. Mas o pior mesmo foi simplesmente julgar o cara como um assassino sangue frio simplesmente por ele fazer parte de uma organizada, sem nem saber direito ainda o que tinha acontecido. Quando eu soube da parada e vi muita gente com sangue nos olhos, minha primeira reação foi “calma, caras, pode ter sido briga entre as torcidas, mas também pode ter sido um acidente”. E pelas imagens da TV boliviana parece ter sido justamente a segunda opção, já que é possível perceber que o sinalizador quase atinge os próprios corinthianos, alguns deles chegam a se descolar para o lado para não serem atingidos. Um repórter do Lance!, em entrevista para a ESPN, disse ainda que o clima entre as torcidas era de amizade, os bolivianos estavam gostando de receber o Corinthians lá. Tudo levando a crer que tenha sido um triste acidente. [Update: Uma rádio boliviana identificou o suposto autor do disparo e o acusou de agir com intenção de ferir, além de fugir logo em seguida ao disparo] Fonte Claro que o fato de ser um acidente não exime o tal torcedor da culpa. Levar um sinalizador utilizado em pedreiras é, no mínimo, falta de bom senso. Ele deve sim ser julgado, seja por homicídio culposo ou doloso (as autoridades vão decidir isso), mas não por ser torcedor do Corinthians ou por ser torcedor simplesmente. Porém, é muito fácil julgar apenas o imbecil que leva um artefato desses pro estádio e esquecer dos outros envolvidos na tragédia. A começar pela Conmebol, que deixa rolar solto o uso de sinalizadores nos estádios sul-americanos, embora a Fifa proíba o uso desse tipo de coisa. Mas não dá pra esperar muita coisa de uma entidade que acha bonito os jogadores precisarem de proteção policial para cobrar um simples escanteio. Outra investigação que deve ser feita é com os responsáveis pela segurança no estádio boliviano que, segundo relatos de quem estava lá, nem se preocupou em revistar os torcedores. Claro que eles podem dizer “sinalizadores são permitidos aqui”, mas e se no lugar do sinalizador o torcedor estivesse com um revólver? Infelizmente, essas punições provavelmente cabem à Conmebol, então não vão dar em nada. Fonte: globo.com E eis que nessa bagunça toda surgem os torcedores rivais exigindo que o Corinthians seja punido com a exclusão do time da Libertadores 2013. Mais uma vez eu digo: CALMA. O regulamento realmente prevê que, em caso de morte de torcedor, o clube pode ser punido, mas não diz especificamente que deve ser expulso da competição. Claro que para algo como a morte o que todos esperamos é a punição máxima. O problema é que grande parte das pessoas pede essa punição não porque morreu alguém, mas porque querem ver o clube rival se dando mal. Todo mundo sabe que os clubes brasileiros muitas vezes auxiliam as torcidas organizadas, então se o Corinthians de alguma forma financiou a viagem do torcedor e, por consequência, a compra do sinalizador, aí sim deve receber a pena máxima. Se não foi este o caso, o clube estaria apenas servindo de exemplo para todos os outros países mesmo sem ter culpa de nada. [Update: A Conmebol decidiu que o Corinthians jogará sem a presença da sua torcida até o final da competição. Nos jogos em casa, as partidas serão com os portões fechados. Já nos jogos fora, o mandante não poderá vender ingressos para os corinthianos. A punicção será mantida por no mínimo 60 dias, que é o tempo que deve levar a investigação da morte do adolescente. Agora os diretores do Corinthians têm três dias para apresentar uma defesa.] Fonte Quando eu penso que a coisa vai terminar aí, vejo gente no Facebook dizendo que não apenas os corinthianos deveriam ser punidos, mas sim todos os torcedores brasileiros. Porque, de acordo com eles, TODO torcedor que frequenta estádios é um arruaceiro sem mãe que só quer matar os outros. Sinto muito em desapontá-los, mas o cara que se dispõe a ir no estádio, mesmo com todos os problemas que existem, é o verdadeiro torcedor. E não você que fica aí apenas assistindo jogo pelo sofá. É óbvio que os brigões chamam mais atenção do que os torcedores comportados, mas eles ainda são em menor número do que o torcedor verdadeiramente apaixonado. Se tiverem 40 mil pessoas no estádio (atualmente consideram isso muito) e mil brigarem, ainda restam 39 mil pessoas que estão ali por causa do jogo. Sem contar que, atualmente, é raro acontecerem brigas dentro dos estádios brasileiros. Geralmente essas gangues travestidas de torcedores têm marcado seus encontros de guerra em locais afastados, onde sabem que não terá policiamento. E nesse caso só vai quem quer brigar mesmo. Como se não bastasse o rídiculo de dizer que TODO torcedor brasileiro é violento, ainda precisam dizer que em outros lugares como a Europa o pensamento é outro. Ora, se não acontecem brigas nos estádios ingleses é porque a lei na Inglaterra funciona e pune qualquer marginal que utiliza o futebol como desculpa pra violência. O que não significa que, não existam torcedores violentos. Os temíveis hooligans realmente não atuam mais na Inglaterra, mas tocam o puteiro quando seus times jogam em outros países da Europa. Quando a Copa do Mundo acontece fora do continente europeu então, é uma festa pra esses caras. Um exemplo mais próximo da gente foi quando torcedores argentinos (acho que eram argentinos) chegaram a enfrentar a PM de São Paulo, até mesmo roubando o capacete de um dos policiais. Frequento estádios de futebol desde que me entendo por gente, já fui no Maracanã com mais de 100 mil pessoas, já vi brigas, nunca me envolvi em nenhuma delas. E lá dentro dos estádios acontece o mesmo que acontece na sociedade de forma geral, existem pessoas boas e pessoas ruins, como em qualquer lugar. A maior parte dos membros das torcidas organizadas fazem um trabalho sensacional animando a festa, muitas vezes sem nem conseguir assistir ao jogo. Os briguentos algumas vezes nem fazem parte das T.Os, mas fazem questão de afirmar que sim, pois se sentem mais confiantes pra arrumar suas confusões. Antes de julgar qualquer pessoa que vá ao estádio apoiar seu time de coração, é importante saber como as coisas são de verdade lá dentro. Ficar no sofá de casa criticando e pedindo proibição a torto e a direito é muito fácil. Mas proibição não é solução pra nada, a punição aos infratores sim.