The Snare, roteirizado e dirigido por C.A. Cooper, pode ser resumido em uma única palavra: pretensioso. Desde o primeiro minuto de filme, com a imagem de um coelho morto coberto de moscas e larvas, o diretor/roteirista deixa claro que quer contar uma história perturbadora. O problema é que, ao invés de utilizar o artifício da nojeira como um complemento para a história, ela acaba sendo protagonista do filme em diversos momentos. Até em uma conversa no carro ela está presente. Com uma protagonista claramente com problemas mentais, o filme possui a pretensão de ser um terror psicológico, porém acaba descambando simplesmente para a escatologia e degradação humana.

A história gira em torno de três amigos que viajam juntos para um prédio vazio e acabam ficando trancados lá dentro, aparentemente por forças sobrenaturais. A partir daí, eles precisam tentar sobreviver a todo tipo de provação, como a falta de comida e água. Aqui o filme consegue impressionar negativamente pelo fato de não conseguir desenvolver todos os seus personagens, mesmo que sejam apenas três. A única que possui algum desenvolvimento é a protagonista Alice. Isso faz algum sentido quando coisas estranhas estão acontecendo apenas com ela, já que ela possui problemas, o que faz com que o espectador fique na dúvida se é tudo real ou coisa da cabeça dela. Porém, quando os outros personagens começam a sofrer, isso pouco importa para o público, já que não sabemos nada sobre eles. Quando o personagem Carl chega a uma situação limite, ficamos chocados mais uma vez com a nojeira da situação, não porque gostamos dele.


O personagem em questão se resume ao velho estereótipo de “namorado babaca da melhor amiga da protagonista que em algum momento vai dar em cima dela”. Já Lizzy (a melhor amiga) passa praticamente o filme inteiro deitada em um canto, surpreendendo quando surge na tela novamente, já que a gente nem lembrava mais dela. Enquanto isso, a atriz Eaoifa Forward parece levar a sério demais seu papel como protagonista ao interpretar Alice sempre com os sentimentos à flor da pele. Qualquer pequeno evento que acontece na tela a personagem reage com diversas caras e bocas, olhares assustados e frases ditas pela metade. A interpretação dela é tão exagerada que, desde a primeira cena, já fica escancarado um segredo da personagem que só é revelado na metade do filme.

A direção de C.A. Cooper até possui alguns momentos inspirados, como a cena no elevador em que Alice é vista de frente e seus amigos de costas, mostrando a desconexão dela com eles. As cenas com a idosa que apenas Alice enxerga também são boas, apesar que aqui ele basicamente copia o que David Lynch cansou de fazer com o espírito Bob na genial série Twin Peaks. Ou seja, ele só acerta quando imita um grande diretor. O momento mais interessante de todo o filme é uma quebra de quarta parede, quando Alice olha diretamente para a câmera e parece implorar para que o espectador acabe com todo o sofrimento. Infelizmente a cena parece ter sido colocada ali apenas porque Cooper achou que isso seria bacana, não possuindo nenhuma função narrativa no resto do filme. No fim das contas, somos nós que imploramos para que The Snare chegue logo ao fim e acabe com a nossa tortura.

[quote_box_center]The Snare (EUA/2017)

Direção: C.A. Cooper

Duração: 1h 30min

Elenco: Eaoifa Forward, Dan Paton, Rachel Warren.[/quote_box_center]

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais por Felipe Storino
Load More In Filmes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Confira também!

God of War | Novo game da franquia traz várias inovações, mas mantém seu espírito hack and slash

Quando o primeiro God of War foi lançado, em 2005, ele praticamente ressuscitou o gênero h…