Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Star Wars: O Despertar da Força foi o filme responsável por trazer de volta aos cinemas a franquia criada por George Lucas em 1977, mas, apesar de ser muito bom, não há como negar que ele era uma repetição de coisas já vistas em Uma Nova Esperança, primeiro filme da saga. Rogue One: A Star Wars Story foi o primeiro dessa nova leva de filmes a trazer algo realmente diferente do que conhecíamos, ao mostrar um lado da Aliança Rebelde que não era composto apenas de heróis altruístas, mas também de personagens repletos de tons de cinza. Com Star Wars: Os Últimos Jedi, o diretor e roteirista Rian Johnson parece querer seguir essa tendência ao mostrar que nossos heróis também possuem falhas, entregando um filme que é bem diferente de todos os outros da franquia, ao mesmo tempo em que mantém tudo muito familiar. Isso fica claro com a batalha espacial que abre o filme, algo que é corriqueiro na saga, mas que aqui serve para mostrar a irresponsabilidade de alguns personagens e as consequências das suas ações. Além disso, o filme traz uma carga extra de drama para a Resistência ao mostrar as naves deles sofrendo com falta de combustível, fazendo com que a fuga deles lembre um pouco o excelente seriado Battlestar Galactica. Os Últimos Jedi é provavelmente o filme menos aventuresco da saga, apostando muito mais no desenvolvimento dos personagens do que em ficar mostrando planetas e raças diferentes a todo momento. Poe Dameron (Oscar Isaac), por exemplo, deixou de ser apenas o clichê do piloto extremamente habilidoso e aparece aqui como alguém disposto a qualquer coisa para reerguer a Nova República, que foi destruída no filme anterior. Enquanto isso, Finn (John Boyega) continua demonstrando um certo egoísmo quando o assunto é tentar proteger Rey (Daisy Ridley), disposto até mesmo a deixar a Resistência para trás. Já no núcleo de usuários da Força, a história flerta com a possibilidade de Rey e Kylo Ren (Adam Driver) trocarem de lado e traz mais profundidade para ambos. Aliás, Kylo Ren se tornou um personagem muito mais interessante desde o filme anterior, com direito a um plot twist totalmente inesperado. Se em O Despertar da Força o personagem parecia muito mais um adolescente mimado e sem rumo, em Os Últimos Jedi ele está muito mais decidido e sabendo o que quer. E através de flashbacks (algo raro na saga), é possível entendermos os motivos que levaram Kylo Ren para o lado sombrio da Força. Já do lado da Rey, a revelação sobre os pais dela traz toda uma nova dimensão à saga e, apesar de polêmica, espero que mantenham essa revelação inalterada no próximo filme. Até mesmo Luke Skywalker (Mark Hamill) aparece como alguém repleto de dúvidas se deve ou não treinar uma nova aprendiz, principalmente depois de ter falhado com o sobrinho Ben Solo. E é interessante notar como ele parece ser uma mistura de Obi-Wan Kenobi e Yoda, uma vez que ele foi treinado por ambos. O modo como ele sacaneia a Rey no início do treinamento lembra muito o Obi-Wan brincalhão de Ewan McGregor, enquanto a explicação dele sobre a energia mística da Força soa praticamente idêntica ao Yoda de Frank Oz. Já um dos momentos mais importantes do personagem no filme é uma clara homenagem à Alec Guinness, primeiro intérprete do Obi-Wan. O roteiro de Rian Johnson ainda aproveita Luke para fazer referência à trilogia de prequels, quando o personagem explica que os Jedi eram arrogantes e que acabaram caindo devido ao próprio orgulho. Essa fala dele também é interessante por servir como dica do desfecho de um personagem dentro do próprio filme. Em meio a tantos personagens com dúvidas sobre o que devem ou não fazer, é interessante como a General Leia Organa (Carrie Fisher) continua como a grande força da saga. Assim como na trilogia original, em nenhum momento ela duvida de si mesma ou do que deve fazer. Liderando os remanescentes da Resistência, ela ainda se mostra confiante como sempre e capaz de se virar sozinha mesmo nas situações mais adversas. E devido à morte da atriz na vida real, é difícil não se emocionar nas cenas em que a personagem fala sobre vida e morte. O ponto fraco com relação aos personagens fica por conta de indivíduos como a vice-almirante Holdo (Laura Dern) que toma algumas decisões que acabam não se justificando, parecendo muito mais uma decisão de roteiro apenas com o objetivo de criar algum conflito. O mesmo acontece com o personagem de Benicio Del Toro, que parece mais um recurso de roteiro do que um personagem realmente interessante. Já a Capitã Phasma (Gwendoline Christie) continua subaproveitada e aparece bem pouco no filme, sendo uma personagem de visual cool, mas que acrescenta pouco à saga. Apesar desses personagens mais falhos e de ter menos viagens entre diversos planetas, Os Últimos Jedi ainda mantém o espírito de Star Wars, com batalhas sensacionais e que surpreendem justamente por não entregarem exatamente o que os fãs esperam. O combate envolvendo Rey e Kylo Ren com seus sabres de luz, por exemplo, está entre as cenas mais bonitas e empolgantes de toda a franquia, com o mérito de não repetir o que já foi feito em qualquer dos outros filmes. Sem dar spoilers, é surpreendente o modo como o combate se inicia e como ele se desenrola. Tão empolgante quanto, é um combate envolvendo Luke Skywalker, que também consegue ser bastante original, ao mesmo tempo em que mostra o quão poderoso Luke se tornou no uso da Força ao longo dos anos. Já nos confrontos entre a Resistência e a Primeira Ordem, o destaque fica por conta da batalha em um planeta cuja superfície é coberta de sal e cheia de trincheiras com soldados, remetendo à Primeira Guerra Mundial. E não posso deixar de mencionar uma belíssima cena no espaço envolvendo uma grande nave da Resistência contra a frota do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). Além de todas as batalhas e desenvolvimento dos personagens, o roteiro de Star Wars: Os Últimos Jedi também é interessante por trazer para a franquia a discussão sobre quem são os verdadeiros vilões em uma guerra de grandes proporções. Quando Finn e Rose Tico (Kelly Marie Tran) estão no cassino de Canto Bright, é possível ver diversas pessoas ricas se divertindo sem preocupações, mesmo que uma guerra gigantesca esteja acontecendo pela galáxia. Não demora para que Rose explique que ninguém ali faz parte da Primeira Ordem, mas que são apenas pessoas muito ricas e que simplesmente não se importam com o que está acontecendo no resto da galáxia, desde que mantenham seu status social. É a elite econômica não se importando com quem está na base da pirâmide, chegando ao cúmulo de utilizar trabalho escravo infantil. Já em outro diálogo é revelado que muitos desses milionários fizeram fortuna justamente vendendo armas tanto para a Primeira Ordem quanto para a Resistência. “Para algumas pessoas é importante que sempre exista uma guerra acontecendo”, diz o personagem interpretado por Benicio Del Toro. Assim, é interessante notar que até mesmo personagens extremamente cruéis, como Snoke, Kylo Ren e General Hux (Domhnall Gleeson), acabam sendo meros peões em um jogo comandado pela milionária indústria armamentista. Com um bom equilíbrio entre ação e humor, Star Wars: Os Últimos Jedi é um dos melhores filmes da saga iniciada por George Lucas em 1977. Diferente de O Despertar da Força, que apenas reciclava ideias para ressuscitar a franquia nos cinemas, o filme dirigido por Rian Johnson traz realmente algo de novo. Mesmo com diversas referências à trilogia clássica, como rimas visuais (Luke olhando o horizonte em Ahch-To, assim como fez em Tatooine no Episódio IV, é lindo demais) e diálogos repetidos, além da participação de antigos personagens, a saga parece cada vez mais preparada para se despedir do antigo e dar espaço para o novo. E isso é ótimo. Além disso, em tempos de ódio cada vez maior entre as pessoas por causa de simples diferenças ideológicas, o filme traz, na fala de um dos personagens, uma mensagem que deveria servir de conselho para qualquer pessoa: “Para vencer esta guerra devemos parar de destruir o que odiamos e começar a salvar aquilo que amamos”. Star Wars: Os Últimos Jedi (EUA,2017) Duração: 2h 33min Direção: Rian Johnson Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Oscar Isaac, Andy Serkis, Domhnall Gleeson, Anthony Daniels, Benicio Del Toro, Laura Dern, Kelly Marie Tran, Gwendoline Christie, Frank Oz.