Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Quando escrevi sobre Clinical, comentei o fato de que o diretor daquele filme parecia ter saído da faculdade com vontade de usar de uma vez tudo que aprendeu e que o resultado foi terrível. Talvez ele devesse ter assistido The Autopsy of Jane Doe, que é uma verdadeira aula de como criar suspense em um filme de terror. Dirigido pelo norueguês André Øvredal, a partir do roteiro de Ian B. Goldberg e Richard Naing, o filme mostra os esforços de dois legistas (pai e filho, interpretados por Brian Cox e Emile Hirsch) para conseguir determinar a causa da morte de uma jovem que foi encontrada numa cena de assassinato sem nenhum tipo de ferimento aparente. Conforme a autópsia avança, os dois vão descobrindo que a jovem Jane Doe pode ter sido vítima de algo muito maior e mais sombrio que um assassinato. Uma das grandes qualidades do filme é que ele não se apressa em querer assustar o espectador, se preocupando em apresentar os personagens ao mesmo tempo em que vai criando um clima crescente de tensão. Com isso, em poucos minutos já estamos completamente envolvidos naquela atmosfera de mistério que parece envolver o necrotério. É impressionante como o diretor é hábil em criar tensão durante uma autópsia aparentemente normal. Ele investe longos segundos em tomadas que mostram o rosto do cadáver de Jane Doe com os olhos abertos, como se a qualquer momento ela fosse piscar. E quando os legistas abrem a boca da jovem é difícil não ficar apreensivo e esperando que ela comece a falar sempre que a câmera se fixa nela durante alguns segundos. É como se a cada corte feito na Jane Doe algo horrível fosse acontecer com os próprios legistas. André Øvredal também é hábil ao utilizar o sistema de “pista e recompensa”, inserindo sutilmente, no começo do filme, um elemento que será utilizado perto dos momentos finais da produção. São tantos minutos passados dentro da sala de autópsia que, quando um dos personagens precisa sair dela, é interessante perceber o quanto isso nos deixa perturbados. Grande parte desse mérito vai para o design de produção que criou um ambiente sombrio mesmo quando tudo está normal. São longos corredores mal iluminados, com tapetes antigos e paredes de madeira bem gastas. O próprio elevador do local, de tão antigo, parece uma armadilha mortal. Além disso, espelhos posicionados na junção entre os corredores deixa tudo mais assustador, com a sensação de que algo vai aparecer ali a qualquer momento. Todo esse investimento na criação da tensão é recompensado quando coisas estranhas finalmente começam a acontecer no necrotério. O diretor parece saber exatamente quando o público vai se cansar daquela rotina de autópsia e começa a investir em alguns pequenos sustos no momento exato em que estamos começando a ficar relaxados. André Øvredal se mostra habilidoso ao transitar entre o suspense e o terror, nunca apelando para os sustos fáceis, aqueles em que algo simplesmente pula do nada na tela. Pelo contrário, tudo que é mostrado segue uma lógica dentro do que foi apresentado tanto na história quanto no cenário. Aliás, os corredores apertados e cortinas são muito bem utilizados para criar momentos realmente tensos. E quando a distância dos corredores já não parece tão grande, o diretor coloca fumaça como obstáculo, transformando em um verdadeiro martírio uma simples caminhada de cinco metros. Também é interessante notar que não existem sustos apenas para o público, como o manjado vulto que passa atrás do personagem e ele não vê. Em The Autopsy of Jane Doe todo elemento utilizado para assustar o espectador também está assustando um dos personagens. É quase como se nós também fizéssemos parte daquela história, pois nunca ficamos sabendo de nada que eles não sabem. The Autopsy of Jane Doe fica ainda mais interessante quando lembramos que ele possui todo esse clima de suspense e terror utilizando pouquíssimos cenários. Grande parte do filme se passa dentro da sala de autópsia e, mesmo assim, ele nunca fica cansativo. Tudo graças à excelente direção de André Øvredal que sabe exatamente o que fazer com a câmera e onde posicioná-la para cada situação. O filme consegue se manter interessante até os seus momentos finais, apresentando um final que é, ao mesmo tempo, óbvio e surpreendente. [quote_box_center]The Autopsy of Jane Doe (2016) Direção: André Øvredal Duração: 1h 26min Elenco: Emile Hirsch, Brian Cox, Ophelia Lovibond.[/quote_box_center]