Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Quando a Vida Imita a Arte Da Pior Forma Possível Foto: Chris Claremont Chris Claremont criou uma história que há 26 anos ainda faz sentido. O preconceito contra o diferente ainda está em pauta. Tudo começou de maneira inocente do lado de fora de uma festa. Lá estava Larry Bodine, um adolescente que esconde um grande segredo: ele é mutante. Larry não está muito a fim de curtir aquela noite. Do outro lado do salão, vemos Katherine Pryde, uma adolescente de origem judia que não está se dando muito bem naquela noite – ninguém quer dançar com ela. Ao sair para tomar um ar, ela acaba encontrando Larry e na mesma hora puxa o garoto para a festa. Ela quer dançar e se divertir e, claro, que ele não recusa o convite. Então eles dançam e se divertem como podem e logo surge uma atração entre os dois. Eles ainda não sabem como expressar esse sentimento, afinal, ainda são apenas adolescentes. Apesar de tudo isso, Larry está confiante e pretende beijar Kitty naquela noite. Em toda festa existem valentões e aqui não poderia ser diferente. Um grupo de garotos combina entre si que vão chamar Larry de mutante, sem saber que eles estão certos. O bullying começa e os garotos afirmam que irão chamar os caça mutantes para matar Larry. Trecho: Nós sabemos quem você é. Nós sabemos o que você faz! E nós vamos contar ao X-Factor, mutante! Ele entra em pânico imaginando como foi que eles descobriram a verdade, afinal, Larry sempre foi cuidadoso com seu segredo. Nervoso, ele vai para o lado de fora da festa junto com Kitty e seus amigos. São eles: Sam Guthrie, Rahne Sinclair, Illyana Rasputin e Amara Aquila. Kitty pensa que Larry é um garoto legal e decide que vai tentar dar um beijo nele depois. Todos conversam entre si e Larry resolve contar uma piada para animar ainda mais o ambiente. Quando começa a contar uma piada racista sobre mutantes, todos da mesa fecham a cara. Constrangidos com a situação, todos partem, deixando Larry só. Capa: Novos Mutantes #45 O que ele não sabe é que Kitty e seus amigos também são mutantes. Rahne Sinclair percebe o desespero de Larry e sente que o garoto não fez aquilo por maldade, ele queria apenas se enturmar. Quando Larry vai para casa, Rahne o segue. Chegando ao seu lar, Larry se questiona desejando perceber o que fez de errado e se ele deve falar com Kitty depois. Nessa hora, ele manifesta seus poderes e Rahne vê tudo. Feliz, a garota vai correndo contar para seus amigos a sua descoberta. Enquanto Rahne vai embora, Larry recebe uma ligação aterradora: amanhã ele será pego pelos caçadores de mutantes. Larry então comete suicídio enforcando-se. A história aqui contada foi brilhantemente criada por Chris Claremont para o título dos Novos Mutantes da Marvel Comics e saiu na edição #45 da revista do grupo. O ano da história? 1986. Claremont é famoso por ser o homem responsável por ser o criador máximo dos mutantes. Ele ficou mais de 20 anos nos títulos dos heróis, criando diversos conceitos. O principal mote das histórias dos mutantes é de que eles são o próximo passo da evolução humana e os humanos não aceitam isso fazendo com que eles sofram grande preconceito da sociedade que eles juraram proteger. O escritor trabalhou isso brilhantemente durante todo o seu longo run, tendo como outro exemplo a história “X-Men: Deus Ama, o Homem Mata” onde os X-Men são obrigados a enfrentar um fanático religioso. [quote_box_center]Leia também o review de X-men: Deus Ama, o Homem Mata! [/quote_box_center] Mas agora vamos fazer um rápido exercício mental aqui: leiam a história novamente trocando a palavra “mutante” por “homossexual”. Ou “obeso”. Talvez “negro”, se você preferir. Existe aquela máxima de que “a arte imita a vida”, mas atualmente estamos sofrendo um caso contrário disso. Cada dia mais somos bombardeados pela mídia com casos de bullying e de preconceitos contra homossexuais, negros, obesos entre outros. Seja o caso da garota californiana de 15 anos que cometeu suicídio após sofrer cyber bullying ou um caso aqui no Brasil do garoto homossexual que se matou após ser rejeitado pela família religiosa que não aceitava a sua opção sexual. E não podemos esquecer também do caso do neonazista de Minas Gerais (que felizmente foi preso) e do trote na Faculdade de Direito da UFMG. Se fossemos numerar aqui os casos do tipo, esse texto jamais teria um fim. É impressionante como casos de preconceito estão crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo. Uma história sobre preconceito que foi publicada há mais de 26 anos ainda faz total sentido na realidade atual. Infelizmente. Para fechar esse texto eu cito um trecho de Novos Mutantes #46, onde Kitty Pryde faz um emocionante discurso no enterro de Larry Bodine: “Vocês querem saber quem eu sou? Meu nome é Katherine Pryde. Isso é a única coisa que importa. O resto são rótulos.” Trecho: Novos Mutantes #46