Não tenho mais vergonha de esconder, senhoras e senhores. Eu assisto True Blood. E tem mais: eu acompanho a série desde 2009 e, desde então, vejo os episódios quase conforme eles saem (talvez com um ou dois dias de atraso). Se não me conhecesse bem, eu diria até que espero por eles. Mas não seria totalmente verdade. Também não seria totalmente verdadeiro considerar que simplesmente tenho mau gosto. Vejam bem, eu acompanho e adoro diversas outras séries e considero que a maioria das que eu sigo há alguns anos sejam realmente de qualidade. O que não é o caso de True Blood. Eu sei que True Blood é ruim, é um fato bem conhecido, True Blood é ruim de dar dó. Acho que todas as pessoas que eu conheço que assistem True Blood fazem a mesma pergunta a cada novo episódio: “Por que eu ainda assisto True Blood?”.

E vocês podem achar que eu estou aqui escrevendo isso com o intuito de responder essa pergunta. Mas, infelizmente, eu realmente não sei porque eu assisto True Blood. Apenas suspeito. E posso apenas dar uns palpites furados. Mas vamos começar do começo: o que é True Blood, afinal? É uma série de TV, veiculada pela HBO, que a princípio se baseava em uma série de livros, chamada  The Southern Vampire Mysteries. A história, a princípio, era basicamente sobre Sookie Stackhouse (Anna Paquin) e vampiros. Ok, eu simpatizava muito com a Anna Paquin, especialmente por lembrar dela como “a Vampira de X-men”, que foi minha x-men preferida por muitos anos. ENFIM, logo descobri que Anna Paquin como Sookie era tremendamente irritante e que a personagem logo iniciava um romance com um vampiro (mas que grande bosta) e era simultaneamente desejada por praticamente todos os caras da cidadezinha onde morava, apesar de ser também tida como bizarra por seu dom de telepatia. No começo não existiam muitas criaturas “mágicas” além dos vampiros e a série era basicamente isso, além de né, passar na HBO e ser criada por Alan Ball (que criou também Six Feet Under, que também era conhecida por, além da pegada mórbida, muitas cenas de sacanagem e gente pelada e derivados). Então, eu tinha aí minhas razões (ainda que vergonhosas) para começar a ver isso. E no começo eu realmente gostava do tema de abertura.

A questão é que logo eu comecei a detestar a protagonista (e alguns outros personagens), me irritar com as 63 sub-tramas da série e ficar impressionada com a capacidade do roteirista de criar personagens, criaturas e situações absurdas, bizarras e apelonas. Sim, caros amigos, True Blood logo se mostrou nada mais nada menos que uma, em suas devidas proporções, telenovela do brasil-sil-sil, que tanto amamos odiar. Por um lado eu sei que só assisto True Blood meio que, ahn, por falta de opção. Sim, eu sigo um monte de séries, mas, de repente, as minhas queridinhas acabam ou ainda não saíram ou etc etc etc e aí lá estou, mais uma vez, vendo True Blood. O que suspeito que seja, basicamente, o mesmo caso de praticamente todo mundo que assiste alguma telenovela brasileira: pura falta de opção.

E aí passamos para o conteúdo: seria assim tão diferente? Tirando as criaturas mágicas e situações sobrenaturais, o que resta em True Blood?

– Um par romântico que falha em continuar junto até um provável famigerado final;

– Diversas e mais diversas sub-tramas;

– Mocinhos (geralmente o par romântico) e vilões;

– Mais sub-tramas;

– Situações exageradas, ridículas e absurdas;

– Cenas de sexo, pessoas nuas, semi-nuas, corpos “exuberantes”;

– Fillers, também conhecidos popularmente como ENCHEÇÃO DE LINGUIÇA e por aí vai!

Ou seja, a mesma merda que você encontra nas novelas. A pequena diferença é que as novelas passam seis dias por semana durante alguns meses (sem, entretanto, sair do lugar) até que acabam e, embora eu não assista nenhuma, fico aqui achando que não tenho esse tipo de problema enquanto passo cinco anos vendo 12 episódios semanais por temporada de True Blood, que, aliás, está ficando pior, mais ridículo, absurdo e sem graça a cada temporada, com louros especiais para esta última que está incrivelmente ruim e sem graça e sem trama. Então, considerando que o primeiro passo para resolver um problema é admiti-lo, venho por meio deste reconhecer que assisto True Blood, ainda que não saiba por quê.

A season finale da 5ª temporada de True Blood vai ao ar neste domingo e eu ainda me pergunto por que (POR QUE, DEUS, POR QUE?) vou assistir. 

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  1. Nathália Figueiredo

    25 de agosto de 2012 at 20:22

    Há duas formas de se assistir à série True Blood. Em uma delas, o telespectador concentra-se nas aventuras e desventuras dos personagens oriundos dos livros de Charlaine Harris, ou seja, Sookie, Bill, Eric e cia. Mas muito mais do que traduzir para linguagem televisiva as histórias de Souhtern Vampire Mysteries, Alan Ball escreve sua série utilizando-se destes argumentos para ir mais além. É claro que tudo tem como ponto de partida o vampirismo e tudo à ele associado (sexo, hedonismo, imortalidade, etc.), sendo o gancho para atrair inicialmente a audiência, que sempre esteve interessada no modus operandis destas criaturas tão fantásticas e ao mesmo tempo tão fascinantes. Porém, são tecidas pouco a pouco metáforas com situações bem reais e presentes na sociedade norte-americana. As alusões ora diretas, porém nas entrelinhas (subtramas), ora bastante amplificadas e um tanto quanto exageradas em figuras de linguagem demasiado absurdas, são nada mais do que formas de se criticar posturas americanizadas de uma sociedade vista pelo mundo como ‘exemplo de nação civilizada’, mas que possui em suas entranhas contrastes e contraturas históricas, modernas, e reais, de difícil convivência nos dias de hoje. Assim são criticados vários aspectos como: os dualismos regionais do país (a Louisiana é demonstrada como um lugar de caipiras atrasados do sul). O machismo da sociedade (mulheres bonitas vistas como objetos sexuais e sem livre-arbítrio para viverem suas vidas da forma que desejam e julgam ser o melhor). Os casos de assassinatos em série tão comuns àquela nação (como retratado na 1a temporada). O consumo de drogas (em alusão ao sangue vampiro que vicia humanos e lobos, chamado V). A homofobia (tão explorada em personagens como Lafayette), bem como a guerra entre as diversas facções em que se divide a sociedade nesta 5a temporada (humanos X vampiros X lobos X metamorfos). O dogmatismo das religiões capaz de cegar as pessoas e fazê-las crer naquilo que lhe é incutido na mente (como na 2a temporada e a fallowship of the sun). A manipulação de forças ocultas e nem sempre controláveis mesmo que por aqueles que possuem dons especiais para tanto (os bruxos e as feiticeiras da 4ª temporada). Mais ainda a disputa por poder e o papel do governo em manipular e manter as massas sob controle (vistos na 3a e nesta última temporada). E também as implicações da participação em situações extremadas por pessoas que vivenciam síndrome de estresse pós traumático (no personagem Terry, ex-soldado que lutou na guerra do Iraque em 2001). Enfim, tantas outras situações que poderia aqui enumerar. Acima de tudo, True Blood é um convite para que as pessoas possam se rebelar contra o status quo dominante e se libertar para viver uma vida livre de repressões, intransigências e pensamentos arcaicos, convivendo com a diferença em uma sociedade de fato mais moderna e avançada… mesmo que para tanto seja necessário, atualmente, se valer da fantasia dos vampiros para ao menos refletir sobre tudo isto. É ou não cult?!

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