Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Em uma época onde eu não fazia ideia do que era brigar ou lutar, na verdade eu nem era nascido ainda, Hélio Gracie transformava o jiu-jitsu japonês em algo muito mais refinado e técnico, onde você, rapaz franzino e considerado fracote, poderia facilmente derrubar e dominar aquele brutamontes que te importunava na escola, e isso lá por meados da década de 1970. Garanto que se soubessem disso teriam pedido a seus país para fazerem jiu-jitsu na época da escola e teriam inibido o bulling na base da porrada. Com isso, em 1993, surgia um evento que tinha o intuito de definir qual é o melhor lutador do mundo, no estilo Mortal Kombat e Street Fighter, então, juntando os melhores lutadores, cada um com a sua especialidade, saiam na porrada em um octágono rodeado por uma cerca de ferro com apenas duas regras, não morder e nem colocar os dedos nos olhos do adversário, no mais, valia tudo, inclusive soco no saco! Assim surgia o Ultimate Fighting Championship e o seu evento #1. Organizado por Rorion Gracie e Art Davie. Isso foi o mais perto que chegamos de um Clube da Luta legalizado. Claro que o evento tinha um foco em aumentar ainda mais o ego dos Gracie, mostrando que a sua técnica de jiu-jitsu era superior e blah, blah, blah, do que para achar o melhor lutador dentre todas as artes marciais existentes. E para provar isso o prodígio Royce Gracie venceu três das quatro primeiras edições do UFC. “Vem cá gordinho que te meto o pé na cara!!” Como a luta era sangrenta e o juiz não podia encerrar a luta – no máximo pedir tempo para a equipe tapar um buraco na cara de alguém – havia um risco sério aos lutadores e a mídia, as comissões atléticas e o senador John McCain – aquele que perdeu a eleição para o Barack Obama em 2008 – começaram a pressionar os organizadores para que regras fossem estabelecidas ou o encerramento do evento, mesmo que não se tenha registro de um caso de morte nos octágonos, mas isso gerou o declínio da empresa organizadora por conta dos contratos perdidos e/ou cancelados. E assim o UFC caia rumo a seu fim. “Mano! Ele bateu no chão!! Tenho certeza!” Juiz – “Eu não vi! E vocês nem estão sangrando porra! Continuem essa merda!” Estando prestes a abrir falência, ter muito degaste para a homologação dos seus eventos e total falta de vontade em continuar, o grupo responsável se reuniu com uma galera marota em 2000, onde inclusive Dana White, atual coordenador do evento, estava presente, para uma compra por 2 milhões de dóletas de todo o conjunto do UFC – dívidas, os problemas e toda a marca UFC. E assim o evento tomou o patamar em que está hoje, graças a um grande investimento em propagandas, regulamentação e melhorias nas regras para que o evento fosse socialmente mais aceito, como era o boxe na década de 1990. Depois de tudo isso, chegamos ao que conhecemos hoje como o novo esporte favorito do povo brasileiro o MMA, ou Artes Maciais Mistas, onde o povo se quebra na porrada, mas com regras mais claras. Vou confessar que acompanho o UFC desde 1998, onde via Tito Ortiz batendo tanto quanto era possível nos adversários, além de acompanhar alguns brasileiros no Pride – evento concorrente ao UFC, realizado por uma corporação japonesa e que posteriormente foi comprado por Dana White -, então estava meio por dentro dos assuntos, sabia alguns nomes e alguns campeões, apesar de ainda ser uma criança de 10 anos, curtia ver as lutas. Então posso dizer que acompanho o UFC desde seu período mais remoto e posso tentar dar uma opinião um pouco mais clara sobre os reais motivos do evento ter tomado tamanha proporção nas terras tupiniquins. O carismático Para começar, em todos esses anos acompanhando os eventos nunca vi um lutador que você olhasse e dissesse “cara, gostei de você”. Nunca. Eram brutamontes ou seres magrinhos que batiam mais rápido que o Jet Li em seus filmes e isso era assustador. São pessoas que você nunca gostaria de cruzar na rua, pois a cara de mal e o tamanho dos músculos provavelmente te fariam borrar as calças caso eles dissessem “oi”. Fora aquelas orelhas que mais parecem lesmas de tão deformadas e os rostos tão acabados e cheios de cicatrizes quanto o Deadpool. Mas isso tudo mudou com a chegada de Anderson “Spider” Silva. Carismático, com uma voz engraçada, simpático e campeão. Palavras que o povo brasileiro tanto gosta “carisma, simpatia e um título”. Foi assim quando o Brasil foi o país da Formula 1 com Ayrton Senna – o que apaga tudo o que Rubens Barrichelo construiu e fez na categoria -, foi assim com o país do vôlei quando as seleções feminina e masculina ganhavam tudo o que viam pela frente, com o Guga no tênis e com o boxe na época do Popó. Agora todos querem praticar MMA e as crianças brigam por quem será o Anderson Silva nas brincadeiras. Mas até quando? Até o Anderson Silva abandonar a carreira e/ou não manter mais seu cinturão. Infelizmente é assim, os esportes são completamente descartáveis no Brasil. Um ponto negativo disso é que mostra que o Brasil nunca terá outro esporte tão amado e cultuado quanto ao futebol e nos mostra até uma falta de capacidade em assimilar e apreciar outros esportes, exceto quando há um brasileiro vencendo. Uma pena, pois poderíamos aproveitar mais o que outros esportes tem a nos oferecer. Não estou generalizando, pois conheço pessoas fãs de diversos esportes, inclusive alguns nem praticados no Brasil são, mas essas pessoas são exceções. São pessoas com visão aberta e não apenas curtindo aquilo que a Globo enfia goela abaixo. Hoje a Globo faz com os esportes mais ou menos o que a MTV fazia com a música, criava fãs temporários de qualquer coisa, mas isso seria um assunto para outro artigo. E esse é o nosso segundo motivo do esporte estar se tornando mais “popular”. A Globo resolveu transmitir algumas lutas – da primeira vez foi só a luta principal – depois de ver o quanto de audiência a Rede Tv havia conquistado durante o UFC Rio e audiência significa bons contratos e que nos leva ao maior anseio deles, dinheiro. O mesmo conseguido pelo Big Brother Brasil, pelas transmissões quase exclusivas de campeonatos estaduais e o brasileiro de futebol, além de roubar da Band as transmissões da Champions League – que a anos eles faziam, mas o olho cresceu e pouco a pouco a Globo vem adquirindo os direitos dos jogos. Nada contra sabe, mas é como você gostar de System of a Down e acompanhá-los desde o início da carreira e um dia surgir o clipe de Byob na MTV e nascer diversos “fãs” da banda que só conhecem a porra da música que toca na MTV! Acho que a informação dos outros esportes devem sim passar pelas emissoras abertas, senão o povão nunca irá conhecer nada de novo, mas agora mostrar duas lutas ou dois jogos e passar a impressão aos espectadores de que agora eles são grandes fãs e especialistas nos esportes apresentados ou parar de transmiti-las após não haver mais um brasileiro carismático participando é sacanagem. Eu não sou um especialista em UFC, mas posso dizer que tenho um conhecimento muito maior do que alguém que assistiu três ou quatro lutas ou posso dizer que acompanho o futebol europeu muito antes de existir Messi ou Cristiano Ronaldo, quando Ryan Giggs ainda tinha uns 25 anos. E olhe que as vezes tenho a impressão que esse cara vai jogar até os 50 anos de idade. Quero muito que outros esportes desconhecidos apareçam, como Rugby ou mesmo o Futebol Americano, e possam se tornar agraciados pelos brasileiros e que ganhem campos, arenas ou qualquer outro investimento que atraia novos adeptos e praticantes aos esportes, mas sem hipocrisias. Não se intitule especialista ou fã caso não conheça o suficiente para tal, pesquise, leia, assista, entenda as regras e converse com colegas que conheçam o esporte, além de praticar se tiver a oportunidade. Agora, finalizando, eu espero muito que o UFC – e outras franquias de MMA – continuem a crescer, pois é uma modalidade muito mais interessante e disputada que um boxe ou um – chato pra caralho – campeonato de judo, além de estimular a galera a praticar esportes. O problema será quando, se é que isso já não está ocorrendo, começar a ser banalizado como foi quando começaram a surgir os criadores de pit bulls – que por sinal é umas das raças mais belas que conheço – e que a televisão e a população prejulgavam os cachorros como se todos fossem monstros violentos e sanguinários. Aprendam a diferenciar babacas de atletas.