Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr O cinema surgiu feito apenas por imagens em movimento. Histórias inteiras eram contadas praticamente sem diálogos, com exceção de algumas inserções de texto de tempos em tempos. Por isso, mesmo que hoje em dia ele seja considerado uma arte audiovisual, o cinema sempre vai pender um pouco mais para as imagens, afinal, essa é a sua origem, sua raiz. Enquanto isso, o teatro vive de diálogos e expressões exageradas de seus atores. Não existem movimentos de câmera ou cenários muito elaborados que ajudem a contar a história, então tudo fica a cargo do que os personagens dizem. Quando uma peça é transportada para o cinema, é necessário fazer várias adaptações para que ela se adeque à nova mídia. E é este o principal problema de Um Limite Entre Nós, dirigido e protagonizado por Denzel Washington. Basicamente ele é uma peça de teatro que foi filmada e levada aos cinemas. Quando o personagem Troy Maxson (interpretado pelo próprio Denzel) começa a falar no início do filme, ainda com a tela totalmente escura, os diálogos só dão uma chance do espectador respirar depois de 20 minutos de projeção. São 20 minutos de conversa ininterrupta entre o protagonista, seu amigo Jim Bono (Stephen Henderson) e sua esposa Rose Maxson (Viola Davis). Troy e Bono trabalham como catadores de lixo e o papo entre eles começa ainda enquanto estão trabalhando pelas ruas da cidade. Depois passam pela empresa de lixo e seguem conversando até a casa do protagonista, onde a esposa se junta à dupla no quintal. A partir daí a conversa toda se desenrola quase o tempo todo no mesmo cenário e com poucas mudanças no ângulo de câmera. E quando ocorre alguma mudança é como se o espectador estivesse apenas trocando de lugar dentro de um teatro. Ao longo das mais de duas horas de duração do filme vemos poucas coisas além do quintal, da sala e da cozinha da casa de Troy. Sempre permanecendo longos minutos em cada cenário, já que cada personagem possui falas intermináveis. Estes dois fatores acabam deixando o filme muito maçante em diversos momentos. É interessante notar ainda que até mesmo quando algum personagem está sozinho em cena, refletindo sobre alguma coisa, ele revela seus pensamentos em voz alta, como se existisse uma plateia bem ali à sua frente. A teatralidade de Um Limite Entre Nós acaba indo além dos cenários limitados e da verborragia. Até o modo como os personagens se movimentam pela tela soa artificial demais algumas vezes, é como se eles estivessem caminhando em cima de um palco. Felizmente esse aspecto de teatro diminui um pouco (não muito) após a primeira hora, deixando a produção com mais cara de filme. Embora continue sem variar os seus cenários. Claro que os diálogos exagerados e a falta de cenários diferentes poderiam ser obstáculos facilmente superados por uma boa direção, assim como acontece em Locke que possui apenas o interior de um carro como cenário. O problema aqui é que Denzel Washington acaba apresentando uma direção pouco inspirada, sem criatividade alguma. A sensação é que na maioria das cenas ele simplesmente posicionou a câmera em algum canto, gritou “ação” e filmou até que todos terminassem suas falas. Assim como acontece nas novelas brasileiras. Não existe nenhum ângulo ou movimento de câmera diferente que ajude a contar a história. Basicamente, Denzel deixa que apenas o roteiro conte toda a história para o espectador, sem utilizar nenhum recurso visual mais interessante para auxiliar a narrativa. Até mesmo histórias do passado do protagonista são contadas por ele, em vez de serem mostradas com flashbacks, indo contra uma das regras da narrativa que diz “mostre, não conte”. Para completar, o roteiro possui referências demais ao beisebol, algo que acaba incomodando quem não é familiarizado com o esporte. Felizmente, o filme conta com um elenco excelente que consegue prender a nossa atenção, muito mais pela atuação do que pelo que os personagens estão dizendo. Denzel Washington interpreta o seu Troy Maxson com um olhar vazio (mesmo quando está sorrindo) típico de um homem que nunca conseguiu realizar seus sonhos e agora quer apenas levar a sua vidinha até o dia em que morrer. Frustrado por nunca ter conseguido se tornar jogador profissional de beisebol, ele tenta frustrar os sonhos dos filhos e demonstra nunca ter muito apego aos dois. Assim, é impressionante a transformação de Denzel quando Troy precisar dar uma notícia ruim para sua esposa. Acostumados com um personagem que parece não se importar com ninguém, acabamos nos espantando quando ele nem consegue olhar direito nos olhos dela ao falar. Aliás, apenas um ator fantástico como Denzel Washington para fazer o espectador se importar com o destino de um personagem tão asqueroso como é Troy Maxson. Já Viola Davis interpreta Rose como uma mulher que tenta manter a família unida apesar de tudo. O modo como ela tenta repreender o marido sem que ele perceba isso é algo que só uma grande atriz consegue fazer. E a cena em que ela recebe a tal notícia ruim provavelmente foi a que rendeu a ela sua indicação ao Oscar. Com dois atores fantásticos protagonizando a história, Um Limite Entre Nós poderia ser um grande filme caso tivesse uma direção mais criativa e um roteiro que não se limitasse a simplesmente transportar a peça de teatro para os cinemas. https://www.youtube.com/watch?v=JhnQ3_oPUi4 [quote_box_center]Um Limite Entre Nós / Fences (EUA/2016) Direção: Denzel Washington Duração: 2h 19m Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Russell Hornsby, Jovan Adepo, Mykelti Williamson.[/quote_box_center]