Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Para início de conversa, vou tratar de deixar uma coisa bem clara: acho os filmes de Terrence Malick bem chatos. Ele é basicamente um Stanley Kubrick pelo seu estilo caaaaaaaaalmo, com cenas longuíssimas, um belo trabalho com planos e movimentos de câmera e um senso de estética perfeccionista quase absoluta. O resultado é uma filmografia curta, com apenas seis filmes, apesar dos quarenta anos de trampo do texano. Porém, Malick passa uma imagem de inocência – assista O Novo Mundo e me diga o que achou -, além de dar a impressão de que acha que seus filmes são maiores do que ele próprio, o que sempre resulta em falta de coesão em seus trabalhos. A Árvore da Vida, seu mais novo filme, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, é um filme bem estranho. Ao mesmo tempo em que mantém o estilo visual-contemplativo clássico de Terrence Malick – em dose suficiente para ser incensado pela crítica -, o filme não possui uma linha narrativa linear, ou mesmo qualquer vestígio de uma história definida – o bastante para atrair pedradas de detratores do diretor. O resultado é um filme excelente em diversos momentos – ao ponto de se aproximar do incerto status de obra-prima – que é entrecortado por cenas bem entediantes. O filme narra a relação familiar de Jack – uma espécie de personagem clássico da psicologia freudiana -, espremido entre a autoridade excessiva do pai e a bondade da mãe. O longa-metragem não possui uma história central, mas é uma construção muito bem feita de memórias e divagações de Jack, no presente um adulto amargurado, ao mesmo tempo que mostra a origem do Universo e da vida. Em outras palavras, o filme tinha tudo para ser uma obra-prima inesquecível, mas não passa de uma tentativa de Malick de repetir o sucesso do igualmente arrastado Além da Linha Vermelha – filme com o melhor elenco já reunido na história do cinema, colado com O Poderoso Chefão. A primeira coisa que vem a mente com o estilo adotado por Malick é 2001 – Uma Odisséia no Espaço, mas sem a carga filosófica universal empregada por Stanley Kubrick para construir sua jornada que percorre toda a história do mundo – embora empregando Douglas Trumbull, supervisor de efeitos especiais de… 2001. Porém, Malick utiliza diversos truques técnicos para demonstrar de que forma seu filme se diferencia do épico de Kubrick. O mais aparente deles é a câmera, sempre à altura dos olhos de um adolescente, uma forma clara de ressaltar mais uma vez o peso da autoridade hierárquica paterna na formação da personalidade humana. Outra delas é a narração filosófica dividida entre Jack e sua mãe, polos quase opostos de um cabo-de-guerra familiar. Apesar do notável equilíbrio entre esses dois conceitos relaxadamente abordados pelo filme, o destaque de toda a obra é a relação familiar, que se sobressai até mesmo às ótimas interpretações de todos os atores – que poderiam ser mais notáveis se o tempo em tela dado a eles fosse maior. Pela forma mostrada por Malick, o peso autoritário da relação pai-e-filho é viva, não depende de agentes para ser passada adiante… é quase uma obrigação na criação de rebentos. Na visão do filme, o autoritarismo não provém do pai de Jack – vivido por Brad Pitt -, ou mesmo da rigidez social dos anos 1950, ainda mais no Texas, mesmo estado onde foi criado o próprio Malick, acrescentando toques autobiográficos ao longa-metragem; mas sim da própria relação orgânica entre pais e filhos. Nesse cenário, Pitt se destaca por conseguir criar um personagem aprofundado, pois mesmo com modos próximos aos militares – ressoados pelo passado dele, que foi marinheiro -, seus momentos carinhosos são redentores, e se somam aos seus discursos sobre querer fortalecer os filhos para a vida. Ou seja: o autoritarismo não parte dele, mas da própria vida, de forma muito mais cruel. O pai é como uma vacina para a vida, um mal menor para evitar que o filho seja destroçado por ela. A visão do filme é abertamente religioso-monoteísta, uma espécie de equilíbrio entre castigo autoritário e redenção, uma dicotomia exposta na relação entre os caminhos da vida – o amoroso da Graça e rígido da Natureza. Entretanto, mesmo os não-religiosos terão uma experiência reconfortante, embora em níveis de intensidade diferentes, já que toda a estrutura do filme é baseada no uso de símbolos nem sempre universais, mas que buscam provocar reações adversas nos expectadores. Apesar dessa porção religiosa, o próprio Deus Todo-Poderoso é uma ausência no filme, mesmo que algumas cenas desempenhem um papel mais metafísico, por exemplo quando a Sra O’Brien é vista voando em uma dança particularmente envolvente ou na aparição de vitrais espiralados. O “Deus” do filme é a relação paterna exposta na dicotomia do carinho da mãe e a rigidez do pai, uma mostra das faces divinas do “deus” cristão, em sua construção do Velho e do Novo Testamento. Para uns, A Árvore da Vida é uma sucessão de imagens de primeira que carecem de conteúdo que as tornem vívidas, enquanto para outros é como um despertar místico-religioso completo. Para mim, o filme ficou no meio do caminho e fugiu do rótulo de “ame ou odeie” – é uma bela construção visual e estética, mas é desnecessariamente enfadonho em outros momentos, o que contribui para tornar o filme uma experiência interessante, porém esquecível. Uma pena, pois a forte pretensão de Malick parecia que finalmente ia tornar um filme dele excelente.