Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Para contar essa teoria eu preciso começar com uma pequena história: em 1929, meu avô saiu do Líbano em um navio com destino ao Brasil, onde, anos depois, formou uma família, para a qual passou traços inconfundíveis e muito da cultura árabe. Enfim, de volta para o presente: em 2011 eu fui ao cinema ver Enrolados, a mais nova (na época) animação da Disney. Por coincidência, uma amiga, que também descende de árabes, me acompanhava. E acontece que em dado momento do filme olhamos para a vilã, depois uma para a outra e tivemos um estalo: puxa, ela parece com algumas parentes nossas. Parece muito. O que é um tanto estranho em uma história que se passa em uma ilha povoada por gente loira de olhos claros. Na hora demos muita risada de qualquer maneira, até mesmo da constatação, pois o filme é realmente bem legal e engraçado. Dias depois, totalmente por acaso, encontrei um tumblr dedicado a vilões da Disney, cheio de imagens e gifs dos referidos. Foi então que comecei a observar que muitos deles poderiam ser parentes meus. Traços como narizes aduncos, sobrancelhas grossas, escuras e arqueadas, queixos pontudos, cabelos escuros, peles de tons levemente pardos (ou apenas diferentes do branco), rostos angulosos, olhos geralmente grandes e, nas mulheres (e alguns homens), o famoso delineado “gatinho”, maquiagem marcante que remete ao Oriente Médio de modo geral. E, como se não bastasse, até mesmo em animais: em O Rei Leão, o vilão, o tio Scar, tem a juba preta, mesmo sendo parente de Mufasa e Simba, que têm as jubas cor de caramelo. Além disso, sua pelagem forma um queixo pontudo e ele tem até mesmo sobrancelhas escuras, grossas e arqueadas. “Peraí, e o Aladdin, que é árabe?”, você, querido leitor, pode estar pensando. Bem, ele pode ser árabe, mas tem o rosto ocidentalizado, assim como a princesa Jasmine. Eles têm cortes de cabelo que parecem ter sido meticulosamente desenhados para cobrir metade das sobrancelhas, disfarçando esse traço tão árabe e fazendo com que pareçam no máximo indianos. Sem falar que o Sultão é tão ocidentalizado que parece mais um Papai Noel do que um senhor árabe. Enquanto o vilão, Jafar, tem todos aqueles traços muito bem reforçados, sendo que até o papagaio dele tem sobrancelhas escuras e arqueadas. Mas será que esse é o único jeito de representar vilões? Será que os árabes realmente têm cara de vilões? Talvez tenhamos mesmo. Embora a quadrinista iraniana Marjane Satrapi tenha conseguido representá-los muito bem, com todos os traços inconfundíveis, mas sem as caras de mau, apesar de todas as críticas que ela mesma aponta para seu povo e seus costumes. Há também Joe Sacco, pai do Jornalismo em Quadrinhos, que desenha reportagens sobre áreas de guerra e conflitos, que acontecem em diversos países árabes, e também representa-os com todos os seus traços e sem nenhuma cara de mau. E basta observar outros estúdios de animação ou histórias em quadrinhos, outras produções em geral, que mostram vilões de diversos outros jeitos. Quando me dei conta disso comecei a procurar algum artigo ou texto que falasse algo sobre, mas não encontrei absolutamente nada, mesmo depois de “varrer a internet”. É claro que eu posso estar alucinando ou ter desenvolvido algum tipo de paranoia, sei lá. Mas também pode ser que a Disney esteja plantando direitinho essa semente nas cabeças das crianças (e, por que não, adultos?), mostrando a elas quem são e como se parecem etnicamente os vilões ou, pior: como se parecem as pessoas nas quais eles devem, eventualmente, atirar. E fazem isso de modo evidente o bastante para fomentar a ideia inconscientemente, mas não descaradamente a ponto de serem acusados de racismo. Essa teoria desmembra-se em diversas outras, que alucinam um pouco sobre conspiração, ideias plantadas, dominação global, entre diversas outras coisas que podem ser ilustradas com links e vídeos e requerem um pouco de boa vontade e interesse do interlocutor. Mas, por enquanto, eu vou parando por aqui – pra não assustar ninguém e, principalmente, pra não acordar com a boca cheia de formiga tão cedo.