Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Olá queridos e queridas nerds! Após um longo e nebuloso período sem escrever nada, estou de volta para partilhar com vocês o que conheci nesse meio tempo. Resolvi começar por As Crônicas de Artur porque de tudo que fiz, esse foi definitivamente o melhor emprego de meu curto tempo. Fazia zilênios que não lia algo tão emocionante, cativante e entusiasmante. Há um tempo atrás, em um dos Nerdcasts, o Azaghâl comentou que fica triste quando termina um bom livro. O o Sr. K completou, dizendo que é porque os amigos vão embora. Nada explica melhor a sensação que tive ao concluir a saga de Derfel, Arthur, Merlin e Cia. Sério mesmo; ao fim do livro a nítida impressão que tive foi de que um velho amigo partia, deixando saudades. Vamos começar pelos agradecimentos, afinal, provavelmente eu não teria conhecido essa maravilha literária se o Jovem Nerd não tivesse feito esse podcast, sobre a obra de Bernard Cornwell, ou se nossos amigos do Vertigem não tivessem disponibilizado os e-books. Juntamente com As Crônicas de Arthur eles postaram também A Demanda da Relíquia e As Crônicas Saxônicas, que pretendo ler assim que tiver mais tempo sobrando. E finamente agradeço ao próprio Cornwell por ter escrito essa grande saga dividida em três livros: O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Excalibur. Para quem não conhece, Bernard Cornwell é um FANTÁSTiCO escritor britânico, que já escreveu mais de 40 livros, que foram traduzidos para 16 idiomas. Em seus livros ele usa normalmente como base a Inglaterra medieval, colocando seus cativantes personagens em meio a grandes eventos históricos como a Guerra dos Cem Anos, as invasões saxãs, as invasões vikings, etc. O que mais me agradou no estilo de Cornwell foi a forma crua e realista como ele descreve eventos extraordinários, dando assim uma áurea altamente crível a toda a história. Seus personagens têm uma profundidade assustadora, e,como suas sagas percorrem gerações, cada parte do livro influencia diretamente nas decisões, amizades e amores de cada personagem. Dois amigos que iniciam sua jornada juntos podem muito bem tornarem-se inimigos mais para frente e depois voltarem a ser amigos dependendo do contexto. Apesar da grandiosidade dos acontecimentos, a forma como eles são contados, nos faz acreditar que eles são possíveis e que se você estivesse lá seria exatamente assim que agiria. São histórias de lendas interpretadas por homens. Agora, sem mais delongas vamos ao livro. A HISTÓRIA O Rei do Inverno – As Crônicas de Artur Vol. 1 As Crônicas de Arthur conta, mais uma vez, a já desgastada “lenda” do guerreiro que se tornou rei e trouxe paz a toda Inglaterra. Dentro desse universo temos vários filmes, como Lancelot, com Richard Gere; Excalibur, a adaptação de mais sucesso, com a famosa cena da mão saindo da água; King Arthur, uma bomba com Clive Owen e Keira Knightley; e mais trocentos outros que não me lembro agora. Mas fique claro que nenhum deles, mesmo com todos os recursos visuais e sonoros, conseguiu interpretar tão bem uma época como esse livro. Apesar de ser uma nova versão da história de Arthur, o personagem principal é Derfel Cardarn (lê-se Dervel). Ele é um garoto saxão que escapou da morte certa nas mão de um druida, e que foi acolhido por Merlin como um protegido dos deuses. Ele é um tipo de Forrest Gump medieval, percorrendo e atuando em grandes acontecimentos da história, sempre íntimo dos personagens mais conhecidos. A narrativa é construída à partir das memórias de Derfel, que no começo do livro está muito velho e mora num mosteiro, onde é visitado pela Rainha Igraine, que tem uma grande curiosidade pelas histórias de Arthur. Assim Derfel escreve tudo que se lembra em pergaminhos, e os entrega a rainha. Bernard Cornwel usou como base para a trama, o cenário político da época. A Bretanha está sendo constantemente invadida pelos saxões, e, além disso o Rei Uther, que é quem manda naquela porra, está morrendo. Seu filho ainda é uma criança e uma guerra entre os reinos pela sucessão do trono está próxima. Nessa época Derfel ainda é um menino de 12 ou 13 anos e vive no “Tor”, mais conhecido como “Avalon”; um pequeno vilarejo onde vivem os protegidos de Merlin. E é à partir da morte do Rei Uther que ele iniciará sua jornada para se tornar um grande guerreiro, e um dos mais corajosos generais de Arthur. MERLIN & A MAGIA O Inimigo de Deus – As Crônicas de Artur Vol. 2 Esse é definitivamente o personagem mas cativante do livro. Ao invés de um mago, Merlim é um druida, um tipo de “padre” pagão que sabe lidar com as ervas, fazer encantamentos de proteção, de sorte, ler o futuro e coisas do tipo. Mas em nenhum momento a magia é explícita; você não vai ver ninguém ficando invisível, nem soltando um kame hame ha nos outros. Aqui a magia é tratada como uma forma de influência, muitas vezes, mais fixada na crença das pessoas de que ela existe do que em sua real efetividade. Se um druida arrancar a cabeça de 10 mortos, pregá-las em estacas, amarrá-las umas nas outras com um amaranhado de ervas especiais e balbuciar meia dúzia de encantamentos, estará feita uma cerca fantasma, e nenhum guerreiro ousará atravessá-la sem a presença de um outro druida, para anular o feitiço. Antes de entrar em guerra o druida de cada exército deve ir até o meio do campo de batalha e jogar pragas indizíveis em seus adversários e o exército que não tiver um druida iniciará a batalha desmotivado. Um druida tem passe livre para ir e vir em qualquer reino, de qualquer exército, pois matar um druida é condenar sua alma – ou corpo sombra, como eles chamam – a vagar perdido pela eternidade, sem nunca encontrar a Ponte das Espadas (conhecido por nós como “a luz”). Um druida tem poder acima dos reis, e Merlin tem poder acima de qualquer druida, e ele sabe disso. A RELIGIÃO Um outro aspecto MUITO legal do livro é o religioso. Durante a jornada de Derfel, que cobre aproximadamente 70, 80 anos; nós vemos a invasão gradual do Cristianismo na cultura da epoca. No começo do primeiro livro, essa religião, trazida pelo romanos, mesmo ainda sendo muito fraca já está condenado fervorosamente as outras religiões e crenças pagãs. Essa disputa irá chegar a níveis impressionantes e, em muitos momentos, decidirá, para o bem ou para mal, o destino dos personagens. Outra questão curiosa, é que mesmo sendo uma religião estrangeira, seus membros pregam que somente ela está certa e que todas as outras devem ser dizimadas. Sendo que antes de sua chegada já existiam dezenas de deuses diferentes vivendo em harmonia. Isso forma um paralelo interessante com as condições atuais do mundo religioso. Não vou me estender nesse assunto, pois ele é muito controverso e pode gerar discuções não produtivas; mas que ele enriquece MUITO o livro, enriquece. ARTHUR Excalibur – As Crônicas de Artur – Vol. 3 De todas as interpretações que esse personagem já teve, essa é a que mais transmite realismo. Diferente do que ja foi feito, aqui Arthur é um homem real, com muitos defeitos e qualidades. Ele só quer um pedaço de terra e uma casa para viver tranquilo. Mas, por ser um filho bastardo do Rei Uther, se vê obrigado, em tempos de crise, a fazer juramentos que o distanciam mais e mais de seu desejo. Lógico que as características mais marcantes foram mantidas, como a coragem, justiça e lealdade. Mas seus defeitos também foram mostrados, pois mesmo as melhores intenções acarretam consequências nem sempre agradáveis. É difici explicar a sutileza com que Cornwell construiu seus personagens. Sua riqueza está nas pequenas coisas. Desavenças que são esquecidas com o tempo, juramentos calorosos que são quebrados por necessidade, decisões erradas, amizades sólidas construídas por muitos anos, e mais trocentos detalhes (às vezes não tão “detalhes” assim) que enriquecem a trama. Um fator muito bem utilizado pelo escritor foi o tempo; coisas que acontecem no primeiro livro só são explicadas no terceiro, por exemplo. E, com o decorrer a história, você passa a conhecer tão bem os personagens que suas ações se encaixam perfeitamente com suas personalidades. Como eu disse, é difícil explicar sem recorrer à exemplos que estragariam a história. A GUERRA Nem só de sutilezas e carisma se sustenta As Crônicas de Artur. As batalhas são pontos altíssimos da história. E elas não são poucas. Mas até as batalhas são diferentes nesse livro. Aqui não existe o glamour da guerra como é retratado em vários filmes e livros. Para montar esses conflitos, Cornwell fez uma extensa pesquisa para retratar, com máxima fidelidade, a forma como se faziam as guerras naquela época. O resultado foi uma violência extrema e gutural. Mas não pense em algo como Coração Valente ou Gladiador; está mais para 300 sem toda aquela plástica visual. Aqui cada exército luta atrás de uma barreira de escudos, que se chocam no meio do campo de batalha. É ali que a luta acontece; os dois lados empurram o inimigo enquanto tentam dar, por cima da barreira de escudos, estocas com lanças, espadas ou machados. O objetivo é furar a fileira inimiga e aí matar o máximo de homens antes que ela se feche. Como já disse mais acima, a realidade é o diferencial do livro. Antes de iniciar a batalha, nós vemos a dificuldade que os generais têm em juntar as tropas para formar um barreira sólida. Os guerreiros lutam embriagados, pois sair vivo da primeira fileira de escudos é muito raro. As espadas dos guerreiros não são compridas e majestosas como se imagina; elas são curtas, e depois de alguns golpes já perderam totalmente o fio, se transformando em “PORRETES DE METAL”. Elas são curtas pois, numa barreira de escudos não há espaço para gira-las no ar, tornando-se mais eficiente estocar do que golpear. Esses, e mais vários outros aspectos, deixam os relatos das batalhas mais emocionantes e reais. Só lendo mesmo para entender. ******* Bom pessoal, não consegui nesse curto espaço descrever todos os aspectos legais do livro. Faltou falar sobre vários personagens excelentes como, Nimui, Guinevere, Morgana, Galahad, Sagramor, Mordred, Cuneglas, Ceinwyn, Culhwch, o bispo Sansun; e mais dezenas de outros que mereciam ser citados. O que você pode ter certeza é que você irá se surpreender com todos eles. Para finalizar, uma dica: quem decidir ler os livros, baixe também os mapas e a lista de personagens (que são muitos), pois seus nomes são dificílimos de guardar, e os mapas vão ser muito úteis na hora de entender as batalha. Me arrependo de não ter pensado nisso durante o livro. Taí uma (grande) vantagem de ler o original impresso, quem sabe na próxima. Box: As Crônicas de Artur (3 volumes) Editora: Record (2011) Páginas: 1586 COMPRE AQUI: Submarino | Americanas | Saraiva | Amazon