Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr [ARTE DA VITRINE]: Thiago Chaves (@chavespapel) Olá leitores tchutchucos da tia! Hoje é terça feira e isso significa que é dia de (trabalhar, ir pra faculdade, fazer a janta, terminar aquele trabalho gigantesco pra entregar amanhã, tomar banho…) post novo! A maioria dos nossos leitores já passou dos assombrados e nada legais 3 anos do ensino médio. Se você é novo no Paraíso dos Insanos e está cursando essa sombria parte da sua vida, keep calm (and fuck you) que uma hora isso passa. E se você já se livrou do colegial e esta na faculdade parabéns, você descobriu que o colegial nunca acaba! Carrieta White também é uma estudante do ensino médio de 16 anos. Ela é estranha, esquisita e tem uma mãe severa e extremamente religiosa ao ponto de não deixar a menina usar calças, cortar os cabelos ou desabotoar o colarinho da camisa. E vamos combinar, se você não é aceito por alguma turma no colegial, você não é aceito por ninguém, principalmente se você não se encaixa no padrão dos estudantes “legais”. É assim com Carrie. Ela não tem amigos, não tem com quem conversar na hora do intervalo e não tem com quem voltar para casa. É uma garota extremamente fechada, tímida e sozinha, mas a culpa disso tudo não é dela e sim dos fatores externos, como a selvageria do colegial americano e seus estudantes elitistas e cruéis e sua mãe caoticamente obcecada com religião ao ponto de ter um gigante crucifixo de gesso na parede da sala. Stephen King toca num ponto interessante em Carrie, ele escreve sobre um assunto que só agora veio à tona na sociedade e já chegou a proporções alarmantes. King escreveu sobre bullying. Mas eu não estou falando das zoações que fazemos ou fazíamos quando éramos mais novos, a famosa tiração de sarro que nos ajudava a revidar e adquirir a agressividade necessária para sobreviver nesse mundo de ninguém, ou o “Mal necessário” por mim explicado na resenha do livro de Burges. O bullying gringo é muito mais hardcore que o brasileiro, qualquer um que já viu algum filme americano relacionado ao assunto sabe do que eu estou falando. E como Carrie é uma residente da terra do tio Obama, então vocês já perceberam o inferno que essa menina sofre diariamente. É chamada de nomes, escrevem coisas ofensivas na sua carteira entre episódios piores, como a famosa cena do chuveiro. Quero deixar bem claro que Carrie é uma vítima. Não só dos outros adolescentes, mas de sua própria mãe. Histórias de pais abusivos são de ciência da sociedade, algumas mais fortes do que outras, mas a mãe de Carrie usa de uma violência mais intensa do que a física, a violência psicológica por culpa da religião. Não vamos entrar no assunto da ditadura das igrejas que data de muito tempo antes de nós, mas se você já deu uma pesquisada sobre o assunto ou tem uma cabeça mais aberta pro tema tem noção do que acontece. Agora imagine isso vindo da sua própria mãe? Carrie é trancada num armário escuro e abafado onde é obrigada a rezar toda a vez que “peca”, e por pecado me refiro até a coisas biológicas mas que a bíblia transformou em atrocidades. Como a menstruação. Não é spoiler então posso contar (Pra você que é novo nos meus posts aqui vai a dica, minha política não permite spoilers, então pode ler tranquilo que eu não conto com quem o bandido acerta as contas no final do filme). Logo no começo da narrativa, Carrie tem a primeira menstruação no chuveiro do vestiário feminino. A garota entra em pânico achando que ia morrer de hemorragia sem causa aparente, as demais garotas se deliciam com o ataque histérico e a alvejam de absorventes internos gritando impropérios. Ao voltar para casa com uma dispensa e sentindo pela primeira vez as terríveis dores das cólicas (as leitoras entendem), a garota é agredida pela mãe que sai citando a passagem do livro sagrado referente ao primeiro pecado cometido por Eva: “Eva foi fraca e soltou o corvo no mundo, e o corvo se chamou pecado, e o primeiro pecado foi o coito. E o Senhor infligiu uma maldição a Eva, e a maldição foi a maldição do sangue. E Adão e Eva foram expulsos do Jardim para o mundo e Eva descobriu que tinha um filho crescendo no ventre”. A reação normal de qualquer mãe seria, antes de tudo, ter aquela famosa conversa sobre “Virar mocinha” ou pelo menos explicar por cima pra menina que ela sangraria uma vez por mês, mas que não morreria de hemorragia. Ou, parabenizá-la por agora ser uma mulher (Não vejo motivo pra isso, porque é um negócio nojento, dolorido e o único ponto positivo é não estar grávida), porém a mãe de Carrie não é uma mãe normal e acontece que nem a própria garota o é também. Pra um livro de Stephen King, esse abuso psicológico, e às vezes físico, já seria o suficiente para uma obra. Como no caso de Angústia, mas como Carrie foi o primeiro bebê do Rei, a ideia ainda não havia lhe passado na cabeça. Essa história não era nem pra ter sido publicada, pois o autor desistiu no prólogo de escrevê-la, foi só depois que sua esposa o convenceu a continuar com a intenção de vendê-la para conseguirem o dinheiro do mês que King deu vida a um dos clássicos de terror da literatura. Carrieta White não é só uma menina estranha por ser extremamente fechada, usar roupas comportadíssimas e ter uma mãe doida. A protagonista é possuidora de um dom que muitos de nós gostariam de ter. O interessante desse ponto do livro é que não só a parte da superstição tem voz, a ciência pode dar seu pitaco sobre a existência desse fenômeno ou não. Ao longo do livro, aparecem vários trechos científicos sobre o assunto e de como isso poderia ter sido ativado na garota. Achei muito legal da parte de King explorar esse lado da adaga sendo que na maioria dos livros relacionados ao assunto, a ciência é totalmente deixada de lado. Vamos usar a nomeação dada no livro , o dom de White já apareceu em diversas obras, como X-Men, Heroes e até mesmo Star Wars. Carrie pode DOBRAR, mas não vão pensando que é a mesma coisa da adaptação catastrófica de Avatar: A lenda de Aang. O mais engraçado é que no caso de Carrie, a causa que acarretou o fenômeno é extremamente atual (O que é uma pena porque se isso fosse de verdade, a minha vida seria muito mais fácil) e pode atingir qualquer um. Depois da descoberta, você acha que as coisas vão melhorar para Carrie e você torce por isso. Você quer que a garota se dê bem, se livre da mãe e tenha uma vida tranquila longe do bullying e da ditadura religiosa maternal. O motivo disso é que você simpatiza com ela, Carrie é uma menina diferente da maioria, ela é uma excluída na sociedade elitista do colegial, é tímida e não consegue fazer amigos com facilidade. Não tem como não se identificar com White em pelo menos um fator, as garotas principalmente, tendo em vista que a guerra pela popularidade e por fazer parte de uma turma que te entenda é muito maior. Mas como a vida pode ser uma vadia das mais sacanas na maioria das vezes, a pobre Carrieta White se vê mais uma vez vítima do sadismo de terceiros só que dessa vez as consequências são imprevisíveis. Vou parar por aqui porque do contrário me empolgo e acabo contando mais do que devia, caso você tenha ficado curioso corra pra livraria ou pro sebo mais próximo e coloque suas garrinhas paranormais nessa obra. E se você é um dos preguiçosos que prefere ver a ler, já fizeram 2 filmes sobre a garota, um em 1976 com Sissy Spacey, outro em 2002 com Angela Bettis e um novo remake (ai meu deus) vai pras telas em Março de 2013 e terá Chloë Moretz no papel de Carrieta White. Apesar de ter sido escrito em 1976, Carrie, A Estranha trata de assuntos atuais que poderiam acontecer com qualquer um, exceto a parte do DOBRAR é claro, como o bullying e a maldade dos adolescentes que vem assustando ao longo dos anos, além de abuso psicológico, ditadura religiosa e o que o amor incondicional pode nos levar a fazer. Deus abençoe a mulher de Stephen King. Carrie, A Estranha Autor: Stephen King Editora: Suma de Letras (2013) Páginas: 200 COMPRE AQUI: Amazon | Americanas | Submarino | Saraiva