Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr [ARTE DA VITRINE]: Thiago Chaves (@chavespapel) Olá meu tchutchucos lindos e dengosos! Pra começar eu já vou avisando que a palavra “Diário” vai ser meramente ilustrativa, não registrei diariamente os acontecimentos do meu período da crise de privação. Se vocês um dia já chegaram a ler a minha mini Bio no rodapé dos textos, então sabem que sou mais uma vítima da indústria do tabaco. Bom, pelo menos eu era. Fiz uma tentativa de largar o cigarro e, depois da dica do Felipe Storino, escrevi esse texto sobre como foi todo o processo. Todo mundo tem um motivo para largar o cigarro, isso é fato. Alguns se cansam das roupas mal cheirosas, dos dentes amarelos ou da falta de fôlego e dizem “É, larguei essa porra. Vou ser mais saudável”. Mas assim que a abstinência bate, corre logo para a primeira barra de chocolate que consegue encontrar. Segundo livros/filmes junkies e a ciência, a crise de abstinência (ou popularmente conhecida como Cold Turkey) dura geralmente 3 dias. Você sente irritação, impaciência, depressão, ansiedade e, dependendo da droga e do nível de vício, chega até a suar frio e ter acessos de raiva. É, tirando a parte dos calafrios e de manchar camisetas de suor eu senti todos os sintomas acima. Caso você pense “Ah, então resolveu ter consciência do mal que estava fazendo para si mesma e resolveu parar com essa merda de cigarro?”. Não, amiguinhos, por mim eu continuaria fumando até o fim da vida, mas devido à forças maiores eu fui obrigada a parar. “Ou você corta o cigarro de vez, ou você tem um aneurisma.” Viu? Forças maiores. A.V.C. = Acidente Vascular Cerebral. Em outras palavras, uma hemorragia no seu cérebro que, se não for tratada rapidamente, te mata. Os sobreviventes geralmente têm sequelas que variam de intensidade. Eu sei disso tudo pois minha mãe sobreviveu a dois e está perfeitamente bem, tirando o fato de que não sente mais gosto nem cheiro de nada, ela é a mesma mulher de antes. “Mas Bia, se você der mais um traguinho a sua cabeça vai explodir?! Filma isso e joga na DeepWeb!” – Por mais terror trash oitentista que isso possa soar, não, minha cabeça não vai explodir se eu der UM trago. Histórico de família + Medicamentos + Aumento da probabilidade de hemorragia cerebral com o cigarro + Eu não quero morrer com 20 e poucos anos = É, hora de largar o cigarro. “Mas Bia, o que o aneurisma tem a ver com o maço de Malboro?” (Ah Malboro…) Se você já leu sobre os malefícios da nicotina/tabaco sabe então que o uso dessa “droga” ajuda no entupimento de veias e artérias. Coágulo de sangue + Veia/artéria semientupida = R.I.P Bia. Filmes e livros como o incrível “Trainspotting”, “Candy” e o famoso “Christiane F.” exploram em algum ponto da narrativa, a crise de privação. Alguns são mais leves do que outros mas a mensagem é a mesma. Você precisa, acima de tudo, de força de vontade se quiser largar o vício. Eu me lembro que tudo me irritava, tudo me fazia querer destruir o escritório onde trabalho e qualquer coisinha me levaria ao estágio Berserk se eu não me controlasse e buscasse refúgio em copos de água e Ed Sheeran. Dica para quem quer parar: distraia a sua cabeça o máximo que conseguir pois a vontade de fumar dura mais ou menos 2 minutos. Ocupe a mente. Escute música, jogue Freecell no computador da empresa, acesse a Mob Ground e leia o portal de cabo a rabo e, no último dos casos, trabalhe. [Nota da edição: Essa dica é aplicável a todos, mesmo os que nunca fumaram] Se a sua cabeça esquecer da vontade de fumar, os efeitos da crise de privação diminuem, mas isso não quer dizer que eles vão embora. O vício faz parte da sua vida. Ele está na sua rotina e uma vez abandonado se tem a sensação de que algo dentro de você sumiu. Numa visão bem dramática da situação seria a mesma coisa que se divorciar de algo ou alguém que você amava muito. Você acorda e nada do cigarro matinal junto da caneca de café fumegante. Está entediado ou esperando o ônibus e nada de cigarro para passar o tempo, está puto da vida e nada daquele trago longo pra te acalmar. Nada de cigarro pós refeição, acompanhado de uma cerveja, quando você está triste, como desculpa para puxar assunto com alguém ou pós sexo (Isso quando você consegue alguém que tope ir para a cama com você). Nada de cigarro para comemorar algo ou tomar uma decisão difícil/refletir sobre a vida. Acho que uma das piores partes foi o café. Para um jornalista, se privar de cafeína seria o mesmo que não respirar e, se você é fumante, o combo café + cigarro é uma coisa dos deuses. Imagina ter que comer um X-bacon sem bacon e você é viciado em bacon. Tá sentindo seu mundo cair? É tipo isso. Lutar contra a vontade de pedir um cigarro para alguém quando se está com um copo de café na mão é bem difícil. Acredite. Depois da irritabilidade veio a apatia e a depressão. Tudo o que eu tive vontade de matar no começo, eu tive de morrer depois. Agora eu sei mais ou menos como os blazés se sentem, e para ajudar era quarta-feira, o dia mais morto e maçante da semana. Nada era interessante, nada me agradava e tudo era irrelevante ao ponto do desespero. Algo do tipo “ARGH POR QUE EU NÃO DEITO E MORRO?!” Aí eu lembrei do aneurisma. Ah, a ironia. Manter conversas era difícil, se mostrar interessada e entretida era pior ainda. Até os meus poucos amigos de faculdade que mais me divertiam pareciam chatos. Eu tinha consciência de que estava num péssimo estado para ser uma boa companhia. Uma coisa somou à outra e eu tive ainda mais vontade de dar um trago num cigarro qualquer, até naqueles de cravo ou mentolados horríveis. A tática da água e da distração mental deu mais certo depois da raiva, mas assumo que tremia na base quando minha colega de trabalho fumava enquanto batíamos papo na hora do almoço. Na faculdade a coisa foi ainda mais pesada uma vez que 99% dos meus amigos lá eu conheci na área de fumantes. Sentir o cheiro da fumaça já era o suficiente para atiçar minha vontade, ver uma embalagem amassada na rua ou uma bituca jogada no chão não foi nada fácil. Tudo me remetia ao cigarro. Não pesquisei a fundo os sintomas da crise de privação, estou apenas relatando a minha experiência. Acho que para cada ex-viciado a variante é diferente, mas a base é a mesma. Vale a pena perguntar para algum amigo seu ex-fumante, isso se você tiver um, quais foram as sensações. Mas uma coisa é final: A reta final é a pior parte de todas. A ausência do tabaco é muito mais forte e a falta que ele faz na sua rotina aumenta. Não acender o primeiro cigarro do dia era horrível, não fumar enquanto andava até o trabalho virou uma tortura e você tentar esquecer de todos os jeitos a vontade de tragar. Você se sente pelado sem o maço no seu bolso ou ao alcance das mãos. Por várias vezes ao longo do cold turkey eu achava que tinha esquecido meu Malboro Light no bolso da jaqueta ou me peguei fazendo contas matemáticas para ver se a grana que eu tinha era o suficiente para comprar cigarro e voltar para casa. Mas na minha opinião, o pior teste de todos foi o da cerveja com os amigos. Se você é um fumante e está lendo esse “diário” por pura curiosidade então você entende a minha situação. Para os leitores “limpos” eu explico melhor. Acho que todo mundo tem pelo menos um amigo que diz: “Ah, eu só fumo quando bebo” Tenho notícias para você amigo, é só uma questão de tempo até que a cerveja vire acessório e o cigarro a atração principal. Quando o álcool começa a fazer efeito, um fumante sente mais vontade ainda de fumar. Deve ter uma explicação científica para isso mas em poucas palavras é mais ou menos assim: Fumante + Quantidades variadas de cerveja = Cigarros à granel A fase final do cold turkey pode ser comparado a um fenômeno comum para os praticantes de corrida. É o chamado “Paredão”. Esse estado faz com que corredores sintam desgaste emocional, exaustão e vontade de desistir. Depende somente deles ultrapassarem esse obstáculo e seguir em frente. Assumo que a parede que vejo diante de mim é bem grande. Dizem que tudo melhora a partir do momento em que você sai desse estado. Escrevi esse texto durante a pior parte de todas e continuo sabotando meu cérebro para que se lembre das sensações ruins que o cigarro me causava (enjoo, dor de barriga, tontura, entre outros) nesse meu curto 1 ano de fumante. Estou bebendo água como louca, ouvindo música, trabalhando (mas olha só!), roendo unhas e usando batom para lembrar de como eu não fumava quando usando o cosmético para não sujar os dedos. Mas o curioso é que eu não ataquei muito a comida. Conforme foi mencionado previamente, a ansiedade é uma das características básicas do Cold Turkey e, na maioria das vezes, os recém ex-fumantes tentam calar a condição com comida. Por isso é normal pessoas que largaram o cigarro ganharem peso. Se você também é dependente da nicotina e quer parar com isso, espero que esse texto dê alguma luz sobre o que te espera. E se você ainda fuma e queria saber o que acontece no Cold Turkey, acho que fiz um bom trabalho em relatar as sensações e acontecimentos. Se quiser uma opinião diferente, pergunte a algum amigo ex-fumante como foi a crise de privação dele. Eu ainda tenho um paredão para escalar e crises para reprimir. Antes ter uma camiseta suja de pó de tijolo e as mãos raladas e calejadas de tanto escalar, do que vocês se depararem com um post da Mob Ground em minha homenagem. Se é que o restante do pessoal daqui vai se dar ao trabalho de fazer isso. (Nota do editor: acho que faríamos no máximo um post no twitter relatando o falecimento =P )