Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Hoje em dia as pessoas reclamam do preço do tomate, reclamam do preço da gasolina, reclamam do preço da passagem de trem/ônibus. Reclamam pois viver hoje em dia, é algo que somente poucos podem fazer. Viver está muito caro. E por vezes, pagamos o preço. Nossos pais sempre fizeram do impossível possível para que tivéssemos uma vida de reis. Para que tivéssemos tudo o que eles não puderam ter quando eram da nossa idade. Comparam aquele brinquedo um pouco mais caro, nos fizeram uma festa em buffet infantil, nos deram roupas de marca ou nos levaram para um passeio num parque de diversões. O mínimo que devemos ser, é gratos por tudo isso. Acredito que, com uma certa idade, chega a nossa hora de retribuir o favor e começar a arcar com nossas próprias despesas ou as que pudermos pagar. Uma faculdade, um livro, um corte de cabelo, uma tatuagem. O que seu bolso permitir. Nunca se sabe quando o orçamento pode apertar e é hora de dizer adeus aos luxos. Samanta tinha uma vida razoavelmente boa. Seus pais sempre foram trabalhadores e desde nova aprendeu o valor do dinheiro e o quão é importante o uso sábio do mesmo. Nunca teve medo de correr atrás de emprego e já nova entrou de cabeça no mercado. Queria sua independência, queria retribuir o favor. A conta saudável começou a emagrecer, o dinheiro chegava em menos quantidade, as contas continuavam a chegar todo o mês e a geladeira aos poucos foi esvaziando. Samanta se limitava a comer macarrão e frango na maioria das vezes. Isso quando comia. Samanta frequentava a faculdade. Pagava suas mensalidades logo no início do mês por causa do abatimento de 30 reais. Para Samanta, 30 reais é muito. Segundo seu pai é o preço de uma ida à feira. Comida. Trinta reais era preço de vários itens alimentícios juntos. Não podia se dar ao luxo de desperdiçar essa quantia por preguiça ou procrastinação. Sentou na cama, tirou um caderno, uma caneta e uma calculadora da mochila e começou a fazer contas. Transporte público, idas ao trabalho, idas à faculdade, retorno pra casa. Tudo vezes cinco. Mensalidade. Subtração. Samanta segurou as lágrimas e tomou uma decisão extrema. Samanta teria uma refeição por dia. Uma e somente uma. Quando chegasse em casa. Se seus pais perguntassem, diria que tinha almoçado bem e que conseguiu achar um lugar barato. O estômago se revirava, produzia grunhidos, sons guturais e sua boca salivava. Mas Samanta não comia. Sabia que a situação em sua casa estava difícil, sabia que seus pais também precisavam se alimentar. Muniu-se de cigarros e usou as substâncias tóxicas da nicotina a seu favor. O cigarro inibe o apetite. Samanta buscava na ficção um refúgio contra a fome. Durante seis meses Samanta foi forçada a almoçar com um colega de trabalho pois ele já se encontrara na situação da garota. Ela, engolindo o orgulho, aceitava contra a vontade, os pratos de comida que apareciam em sua frente. Passou todo esse tempo dizendo “Não estou com fome.”, “Eu já comi” ou “Podem ir almoçar, eu vou depois” e saia da sala por 20 minutos para fumar um cigarro. Quando chegava em casa, jantava e ia dormir, Samanta pensava no restante do mundo. Tinha em mente que, essa sua situação seria passageira, tinha fé nisso. No entanto, sabia que existem pessoas que, por mais que tenham esperanças, vivem uma realidade muito mais dura do que ela. Desde então, Samanta nunca mais jogou comida fora. O post Fé apareceu primeiro em Mob Fiction.