Olá seus cheirosos e bem vestidos!

Hoje é dia de post meu e não falaremos sobre zumbis, seres sobrenaturais ou criaturas que podem facilmente dilacerar seus corpinhos sensuais com uma unha só. Falaremos de um ser muito pior que todos esses predadores fictícios/reais.

O foco da vez é o próprio ser humano. Isso mesmo, nós.

Se não conferiram meu texto sobre o filme de Satoshi Kon, Perfect Blue, eu sugiro que deem uma olhada antes de prosseguirem. Só para terem uma explicação um pouco mais detalhada do universo em que o filme da vez se desenvolve. Agora, se você está com preguiça, o que é perfeitamente aceitável, eu dou uma pincelada pra vocês.

 

O mundo do entretenimento e das celebridades é glamourizado constantemente pela mídia e pela população. Todos temos esse delírio de que a fama e o reconhecimento são a definição do paraíso. Todos nós queremos fazer parte desse clubinho privado de artistas, músicos, escritores e pessoas que não se caracterizam mais como meros mortais.

Assim como na prole de desconhecidos que vivemos, na sociedade dos famosos também existem suas frutas podres. A fama e a ganância por dinheiro são um vício. A cobiça humana não conhece limites e se você não sabe como segurar a onda, pode causar a própria ruína.

O mundo das celebridades pode ser lindo, cheio de roupas caras, joias, ternos e carros que no mínimo custam 5 órgãos internos, todas as suas economias de vida e a sua mãe. No entanto ele pode ser bem feio. Mika Ninagawa explicita essa que pode ser a realidade do seu ator favorito no filme “Helter Skelter”.

Pra começo de conversa o título da obra já explica muita coisa sobre a trama e sobre a personagem principal, Lilico. “Helter Skelter” é uma expressão da língua inglesa que significa falta de organização ou confusão. Também é uma música dos Beatles que um dos mais famosos seriais killers do mundo, Charles Manson, interpretou como sendo uma profecia que previa uma guerra mundial entre brancos e negros.

Com o título do filme já explicado, vamos seguir em frente. Em HS somos jogados de cabeça nos bastidores do mundo do entretenimento japonês. A Terra do Sol Nascente é uma máquina de produzir It Girls numa escala gigante, seja com suas bandas pop com 892347293862 integrantes, ou com modelos de todo o tipo de comercial existente.

Só pra vocês entenderem, uma It Girl é uma “Garota do momento”. Sai em todas as capas de revista de moda, usa as últimas tendências da estação e até mesmo antecipa a próxima. É uma menina que todas as demais adolescentes aspiram ser no futuro e todos os meros mortais são incondicionalmente apaixonados por ela.

Lilico é a It Girl mais famosa de Tokyo sendo capa de literalmente TODAS as revistas de moda, estrelando novelas, fazendo comerciais, aparecendo em programas de entrevista, falando com a imprensa entre outras funções de uma celebridade. Lilico é amada por todos, Lilico é linda, Lilico é magra, tem a pele pálida (o que para eles é um padrão de beleza e significa status de rico. Pele bronzeada é para a prole que trabalha debaixo do sol nos campos de arroz) e é graciosa e cheia de energia.

Lilico é uma fraude.

“Somente seus glóbulos oculares são verdadeiros, o resto é cirurgia plástica”

Geralmente as It Girls japonesas são garotas muito novas, vide Nemmy, uma menina de 12 anos que rapidamente está caindo nas graças de Tokyo. E em plena puberdade/adolescência, é muito difícil ter psicológico pra conseguir suportar a pressão do mundo do entretenimento. O famoso “Você precisa estar nos holofotes e no pedestal mais alto pra ter mais dinheiro” além de claro, ter o biotipo aceito pela elite dos famosos.

Como foi dito previamente, Lilico é uma fraude. Desde o começo de sua carreira, a garota foi fazendo uma cirurgia plástica atrás da outra para que sempre tivesse a aparência perfeita. Tudo culpa de sua agente que, gananciosa que só, faz de tudo para que Lilico continue na frente das lentes e câmeras. Custe o que custar.

Celebridades são seres humanos e seres humanos podem quebrar. Nosso corpo não é uma máquina e nossa mente uma hora cede de tanta pressão. Lilico não pode mais fazer cirurgias plásticas pois seu corpo não aguenta mais o tranco e isso acarreta na garota uma queda vertiginosa pra longe da sanidade.

Pra início de conversa, Lilico usava uma fachada tanto física quanto psicológica. Na frente das câmeras é um anjo de menina, mas trata a produção do programa no bico da bota sendo somente educada na frente das pessoas importantes do meio. Não precisa nem dizer que a pessoa que mais sofre nessa história é a assistente pessoal de Lilico, Hada. Eu fiquei com dó porque já passei por uma situação parecida.

Assim que os primeiros hematomas decorrentes das cirurgias em massa aparecem, Lilico tem um surto. E logo depois descobrimos que a polícia está investigando a clínica que a It Girl usa para dar uma recauchutada na aparência, mas não posso revelar nada além disso.

Não contente em ver sua vida desmoronar após o surgimento de uma outra It Girl, Lilico entra numa espiral de loucura com direito a mudanças de humor bruscas, episódios de violência, depressão, insanidade e delírios de grandeza. A garota então começa a montar uma lista de possíveis “ameaças” à sua carreira e manda Hada dar um jeito nisso.

Um ponto interessante é que a outra It Girl, Kozue, é totalmente honesta quanto ao mundo dessas garotas do momento. “Claro que vomito depois de comer. Como você acha que eu permaneço magra desse jeito?”. A bulimina e anorexia são doenças mentais muito presentes no mundo da moda. As modelos arranjam meios de perderem mais peso mais rápido. Desde comerem só uma porção de comida por dia, até fumarem um cigarro atrás do outro. Ou vomitarem.

Enquanto Lilico tenta manter a pose de moça elegante, graciosa e delicada mas na verdade é um demônio, Kozue é fria longe das câmeras. É brutalmente honesta sobre o universo em que agora vive e não se importa que algo aconteça com ela. Quando sofre uma ameaça de morte ela fica indiferente. Para Kozue, essa ganância não existe. Ela faz os comerciais e sessões de fotos por diversão. Ela se sente entediada com tudo. Além disso ela sabe que será substituída e entende o mecanismo desse mundo de glamour.

“O desejo não se importa, continuará com uma nova cara e um novo nome.”

Já Lilico vai caindo em desgraça e tenta levar quem está com ela junto.Não suporta a ideia de ver sua equipe feliz enquanto ela está coberta de hematomas horrendos e tem fios enfiados na cara para manter a pele no lugar. Devido à loucura de seu novo universo, Lilico não se reconhece mais. Ela não lembra de sua vida de menina do interior que foi achada por um dos olheiros da moda na cidade. Lilico se perdeu para essa nova mulher.

Baseado no mangá de Kyoko Okazaki, Helter Skelter tem um visual de cores vivas e cenários que oscilam de exuberante e intenso, como o quarto de Lilico, para simples e minimalista, como o camarim de Lilico. Achei interessante o uso de cores fortes até nos menores detalhes, sejam as unhas da protagonista, até os cigarros que ela fuma.

Só pra quem ficou curioso e já viu na foto, Lilico fuma  Sobranie, uma das mais tradicionais marcas de cigarros do mundo. Essa edição é feita para mulheres justamente por causa do filtro cor de ouro e do papel que envolve a nicotina ser colorido. Achei uma graça.

O andamento do filme pode te fazer dar umas bufadas de tédio. Realmente, Helter Skelter martela na mesma tecla por um tempinho, isso é, na loucura de Lilico. Acho que poderiam ter usado mais recursos visuais para mostrarem a decadência da it Girl.

Se você for dar uma chance pra esse filme, o faça pelos cenários e pela mensagem subliminar. Helter Skelter é uma crítica à indústria de celebridades e o que houve com Lilico aconteceu com a atriz que a interpreta, Erika Sawajiri, só que com menos intensidade. Esse filme é a volta da atriz para as telas depois de um hiato de 5 anos após uma punição decorrente de mal comportamento num evento. A mídia/população japonesa não perdoa seus ídolos.

Título: Helter Skelter

Diretora: Mika Ninagawa

Duração: 127 minutos

Nota: 5

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