Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr E ai seus cheirosos delicinhas? Fazia um bom tempo que eu não escrevia algum texto diferente de resenhas de filmes e bizarrices da internet, então é hora de mudar essa bagaça. Se você frequenta a MOB há algum tempo, então provavelmente ficou sabendo do motivo da minha ausência no ano passado e começo desse ano. Eu estava terminando a faculdade de jornalismo e trabalhando em um pesadelo acadêmico, conhecido como TCC. E como eu amo muito vocês, vou escrever hoje sobre o tema do meu livro reportagem “Não perturbe, jovens “trabalhando”: O mundo dos Hikikomoris e da Geração Nem-nem” (Fiz auto divulgação na cara de pau mesmo). Todo mundo já teve algum dia, ou alguma semana em que a última coisa na cabeça era levantar da cama e ir trabalhar ou estudar. A verdade é que a nossa rotina anda cada vez mais acelerada e louca, e não somos feitos de metal, então é normal desanimar de vez em quando. Mas, e se você simplesmente desistisse de tudo e nunca mais saísse do seu quarto? Não só por um dia ou semana, mas sim por meses ou até anos? Esses são, em uma versão bem resumida, os Hikikomoris. O fenômeno social surgiu nos anos 80 e foi o psiquiatra Tamaki Saito o descobridor de tudo. Vários jovens do sexo masculino entre 15 e 20 e poucos anos se queixavam de letargia, depressão, entre outros sintomas. Tamaki fez pesquisas e conversou com esses jovens e o resultado de tudo foram os Hikikomoris. O termo era antigamente usado para se referir aos trabalhadores aposentados que se mudavam para o interior com a finalidade de se distanciarem da vida agitada e frenética da cidade – Nota da edição: Tipo os velhinhos que moram no litoral -. Em uma tradução mais literal, Hikikomori significa “Afastado, isolado ou recluso”. E o que leva esses jovens a simplesmente jogarem a toalha e se fecharem em seus quartos? Primeiro de tudo, apesar de ser uma nação capaz de criar as coisas – cofPORNOGRAFIAcof – mais bizarras já vistas, a sociedade japonesa é extremamente severa. É tão rígida ao ponto de jovens se matarem por não passarem no vestibular logo na primeira tentativa. Sim, isso acontece com mais frequência do que você imagina. Basicamente a sociedade japonesa tem uma linha de pensamento “Você precisa ser o melhor em todos os campos possíveis e existentes”. Precisa ser educado, bonito, bem vestido, inteligente, popular, agradável, cheiroso, etc. E, convenhamos, ninguém consegue isso. Mas a pressão que os pais colocam nos filhos, principalmente os filhos homens, faz com que muitos não aguentem a bucha e desistam. De acordo com Tamaki Saito, o tempo mínimo que uma pessoa precisa passar dentro do quarto, sem qualquer tipo de contato físico e social com outro ser humano é de seis meses. Passou desse tempo você é oficialmente um Hikikomori. E o que essa galera faz trancada no quarto todos os dias? Muitos trocam o dia pela noite e isso tem um motivo. Durante o dia a sociedade está funcionando em sua capacidade máxima. Trabalhadores trabalham, estudantes estudam e por ai vai. Para um Hikikomori, ver toda essa atividade só o faz lembrar do seu fracasso como pessoa. Por isso eles se refugiam para as horas da madrugada para fugirem de tudo isso. A primeira associação que se faz com um Hikikomori é um Otaku. Mas pera lá amiguinhos, nem todo o Hikikomori é Otaku e vice versa. O que acontece é que esse jovem que quer fugir da sociedade de todos os jeitos possíveis, cria a sua própria utopia com animes, mangás, jogos, merchandising, etc. Um quarto de um Hikikomori Otaku é como a foto abaixo. Foto o quarto da Bia. =P Contudo, nem todo o Hikikomori é fã de animação japonesa. Muitos passam suas horas da madrugada comendo, vendo televisão ou fazendo qualquer outra atividade. A maioria nem limpa os quartos, porque, pra isso, eles precisam sair de seus bunkers e interagirem com a sociedade que tanto desejam esquecer. Eles se circundam de imagens e itens que os façam esquecer cada vez mais a sua própria situação. Nessa utopia pessoal eles são quem sempre quiseram ser, eles conseguem desenvolver o ser que desejam e não têm que se preocupar com as cobranças de seus pais o da sociedade. São bem sucedidos, populares e felizes. Muitos Hikikomoris recorrem a internet ou a MMORPG como válvula de escape. Assim como em sua utopia pessoal, eles podem ser quem bem decidirem e o anonimato da web é um grande aliado nesse quesito. Nenhum Hikikomori assume sua condição para ninguém, e no Japão, ser um jovem nessa situação é pertencer à camada mais inferior da sociedade. É pior do que ser um Otaku. Mais uma foto do quarto da Bia =D Os pais de um Hikikomori escondem o filho de todas as maneiras, o que acaba ajudando a piorar a condição do jovem. Se alguém descobre que você é mãe ou pai de um Hikikomori, sua reputação já era. E lá valores como honra e reputação são levados muito à sério. E, como os jovens não trabalham, os pais precisam pegar no batente mesmo depois da idade da aposentadoria para que possam sustentar o filho. E um jovem que não sai de casa custa caro. Não é surpresa que muitos Hikikomoris sejam diagnosticados com depressão profunda. O isolamento causa isso nas pessoas. E, infelizmente, também não é surpresa que muitos cometem suicídio como último ato de fuga. Porém, alguns Hikikomoris são tão absorvidos pela própria utopia que qualquer tentativa de tirá-lo de sua bolha pode acarretar episódios de violência extrema. Um jovem Hikikomori no Japão matou seu pai e sua irmã de 2 anos porque sua internet foi cortada. Outro caso extremo foi o de um jovem que escondeu o corpo da sua mãe no freezer para que continuasse a receber auxílio do governo e não precisasse sair de casa e trabalhar. Com o passar do tempo o fenômeno social dos Hikikomoris começou a ter representações na mídia. A mais famosa de todas, e a que me fez descobrir esses jovens e a ter a ideia para o TCC, é a série de Light Novels (que depois ganhou adaptação para mangá e anime) “Welcome To NHK!”. A história é sobre um jovem Hikikomori e os acontecimentos de sua rotina. O interessante dessa obra é que o protagonista acredita que a rede televisiva NHK é na verdade uma grande conspiração cuja a finalidade é alienar pessoas. E, para fugir disso, ele se isola em seu quarto. No entanto, esse comportamento só mostra o quanto o protagonista está absorto em sua condição. Muitos Hikikomoris criam muletas psicológicas para não saírem de seus quartos. O problema dos Hikikomoris no Japão ficou tão grande que começaram a criar centros de recuperação e reabilitação social. Alguns jovens demoram anos até saírem de casa e voltarem a encarar a socidade. Resumindo, os Hikikomoris são jovens que não aguentam a pressão de uma sociedade extremamente severa e que cobra os melhores resultados a todo instante. São garotos e garotas que desistiram de suas vidas sociais e buscaram refúgio em um mundo fantasioso onde nada pode os machucar. Se alguém quiser ler o livro reportagem que escrevi com a ajuda da minha dupla é só dar um grito nos comentários que eu mando pra vocês.