Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr – Sabe, eu culpo os filmes. – Hein? – É. Os filmes, os livros e a cultura pop em geral. A Ficção, sabe? – Culpa de quê? – Enganar a gente. – Só engana quem se deixa enganar. – E a ilusão de ótica? – É, nessa você tem razão. Mas enganar com o quê? – Ah cara, várias coisas. Descobrir que você não é um bruxo com 11 anos de idade, que não é um mutante, que no final dá tudo certo não importa o quão afundado na merda você esteja, que o cara esquisito sempre fica com a mocinha bonita, essas coisas. Se parar para pensar isso acaba deprimindo a gente. – Mas também pode servir de válvula de escape para algumas pessoas. Pra todas as pessoas acho. – O problema é qua a gente cria expectativa. Até hoje me sinto frustrado porque não descobri meus super poderes. Tá mais pra ilusão idiótica essa coisa toda. – Isso é sobre ela não é? – É tão evidente assim? – Por mais que a conversa esteja tomando um rumo antropológico e eu esteja gostando, eu sei o objetivo de tudo isso. Você sempre faz a mesma coisa, prepara o terreno com um assunto, faz uma associação com o tema principal da conversa e o diálogo segue dai. – Eu realmente preciso mudar de estratégia. – O que foi dessa vez? Desembucha ai – Eu a vi hoje de novo. – E? – Ele estava junto. – Conseguiu pelo menos tentar parecer tranquilo com a situação? – Por uns 10 minutos. Ai inventei uma desculpa e fui embora. Eu sou um idiota. – Às vezes você é, mas nesse caso dá pra entender. Aconteceu comigo uma vez, lembra? – É, só que no seu caso deu certo. Vocês estão juntos até hoje. – E por que não pode ser o mesmo com você? – Cara, olha pra mim. Você realmente acha que eu posso competir com ele? Ele é bonito, simpático, gente fina, conhece um monte de banda boa, é educado e tem um emprego mega respeitável. E tem todo aquele lance psicológico que eu já te expliquei. – Aquilo é hipótese sua. – Mas é plausível. – É, se parar para pensar é bem plausível. – E o que eu tenho pra competir contra um cara daqueles? Olha pra mim. Eu não sou bonito, não tenho um porte atlético, não tenho grana e meu repertório de piadas é de dar pena. – Mas você conhece uma porrada de banda boa. – Conheço mas até ai são 20 contra 1. Eu não tenho chance. – Você não sabe disso. – Claro que sei. Você já viu os dois juntos. Tá na cara que isso vai durar. – No The Office não foi bem assim. – No The Office tudo é de mentira. Minha vida não tem roteiristas. Esse final feliz tá fora de cogitação, pelo menos pra mim. – Você devia parar de ser tão pessimista. – Pode até ser pessimismo, mas tem realismo junto. Quais são as chances dela trocar aquele cara por um zé ninguém como eu? – Cara, as mulheres são um mistério e completamente imprevisíveis. E outra, perfeição demais não agrada ninguém. – Explica melhor isso ai. – É. Para pra pensar. O cara é perfeito, ele só tem qualidades. – Isso não tá ajudando. – Pera porra, deixa eu terminar. – Tá, continua. – Se uma pessoas é perfeita demais, ninguém vai querer ficar muito tempo com ela. – Como assim? Todo mundo sonha com o namorado perfeito. – Só é perfeito porque tem defeitos, mas não é esse tipo de perfeição que estamos falando. Estamos falando da perfeição simátrica, redondinha. A do tipo que irrita. – E? – E ai que no começo pode ser tudo ótimo. O cara é cuidadoso, atencioso, bom de cama, sempre lindo e arrumado. Nunca esquece uma data e sempre liga no dia seguinte, se você falar que isso não está ajudando de novo eu vou te socar. – O… kay. – Depois de um tempo essa perfeição vai te deixando maluco porque o cara não tem defeito algum e os defeitos da pessoa são uma parte importante no relacionamento. – Sem eles não existiriam as brigas ou DRs. – Não só por isso, os defeitos de uma pessoa dão um charme ao relacionamento. O tornam mais humano porque ele é composto por seres humanos e sentimentos humanos, não robôs e comando programados entende? – Isso faz sentido. – E outra coisa, os defeitos mostram que você tem personalidade. – E se for só composta de defeito? – É defeituosa mas não deixa de ser uma personalidade. – Então eu tenho chance? – Claro que tem. Só precisa esperar. – Eu devia deixar de ser tão antiquado e partir pro ataque. – Isso vai te causar uma surra e acusação de tentativa de assédio sexual. Ou estupro no pior dos casos. – Péssima ideia? – Preciso responder? – Então eu tenho que ficar na minha e esperar? – Sim. – Mesmo com os silêncios constrangedores que aparecem de vez em quando? – Isso pode ser um bom sinal. Ás vezes a timidez é uma coisa boa. – Queria que aquela fala da Mia Wallace fosse verdade, – Sei que parece impossível mas você precisa relaxar perto dela. Ou faça uma lista de assuntos de emergência pra quando o silêncio aparecer. – Filmes, livros, música e religião? – Sim, sim, sim e não. – Delicado demais? – Vocês podem se engalfinhar – Eu ai apanhar feio. – Ia. – E se eu adotasse uma postura mais Mr. Darcy? – Só deu certo com a Jane Austen. E com a Bridget Jones. – Ela gosta dos dois. – Então vá com calma, sua personalidade é legal. E outra coisa, ela não é um prêmio estimado e fodão, ela é um ser humano. – Ela é uma mulher, claro que ela é fodona. – Mas não é um prêmio. – É, nisso você tem razão. – Paciência, meu caro. Paciência. Se for pra acontecer, vai acontecer. Mas pode demorar. – Essa parte da demora é que me preocupa. – Foca sua cabeça em outra coisa. – Tipo video game? – É. – Eu precisava de uns jogos novos. – Dá uma ralada no seu trabalho. VOcê não estava prestes a ser promovido? Então, promoção é igual a mais grana. – E a mais trabalho também. – E a mais direcionamento e esforço mental para outra coisa que não seja ela. Vi por mim cara, continua falando com ela na boa e ocupa sua cabeça. – Tipo com uma ilusão idiótica? – É… Tipo com uma ilusão idiótica. O post Ilusão (I) de Ótica apareceu primeiro em Mob Fiction.