Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr [ARTE DA VITRINE]: Thiago Chaves (@chavespapel) Texto publicado originalmente em: 10 de novembro de 2009 Nunca fui muito fã de música eletrônica. Sempre a encarei mais como um combustível para festas malucas do que como um movimento musical genuíno. Com exceção de um Prodigy aqui, ou um Fatboy Slim ali, considerava tudo genérico, nada mais que bate-estaca. Até que um dia um novo mundo se abriu e me fez olhar a música eletrônica de forma diferente. Tal dia foi quando me deparei com uma música do Ladytron, que se não é o melhor grupo de música eletrônica do planeta, é o que faz as canções mais belas. A minha sorte é que a música que acabei ouvindo, é justamente a mais linda balada que já tinha escutado em anos: um dueto com direito a assobios e alternância da voz masculina e feminina e diversas camadas sonoras sobrepostas. Ideal para ouvir naqueles dias chuvosos e solitários. A música em questão é Versus, e se você ainda não ouviu, considere-se um pecador e clique no link para pedir perdão. De volta? Pois bem, continuemos… O nome Ladytron faz referência a uma composição do grupo Roxy Music, que lá pela década de 70 já incluía em seu repertório canções quase que pioneiras contendo alguns elementos de punk e tecno, aliado a um pouco de world music. Em 98 o Ladytron, a banda, surge, quase que com a missão de causar barulho parecido com o de seus inspiradores. O resultado é ainda melhor que a encomenda, embora diferente. Enquanto o Roxy fazia um art rock lembrando algo parecido com o que o Beirut faz hoje, o Ladytron é uma mistura da rudeza sonora primitiva do Kraftwerk com elementos pop do Pixies, somados com pitadas de Portishead. A composição da banda – de Liverpool – é tão diversa quanto os arranjos aparentemente monocromáticos de suas músicas: metade do grupo é formado por homens – Reuben Wu, descendente de chineses, e Daniel Hunt – e a metade feminina é composta por Helen Marnie e Mira Aroyo. Com exceção de Mira, que é búlgara, todos são ingleses (Helen é escocesa). De um modo geral, o Ladytron é um Kraftwerk com um pouco mais de ênfase nos vocais. Ao menos foi essa a mensagem transmitida nos dois primeiros álbuns, 604 e Light & Magic. A história que cerca a gravação do primeiro álbum, inclusive, é lendária: os integrantes se reuniram em um estúdio primitivo com as canções já prontas, e juntamente com o produtor, gravaram os vocais, para logo depois usarem códigos de rascunhos de um software de edição de áudio e criarem os ruídos dos sintetizadores. Tudo num prazo de pouco mais de duas semanas. Com o lançamento de Light & Magic o grupo alcançaria o mainstream… A virada na sonoridade no quarteto veio em Witching Hour, que incorporou guitarras e uma metralhadora de singles que fez os álbuns anteriores soarem como experimentações (o que em essência realmente eram). As sonoridades novas, contudo, não serviram para expulsar o som mezzo industrial dark, com elementos de eletropop presente nos dois CDs anteriores, mas unicamente para somarem-se e formar algo quase novo. O resultado é que Witching Hour consegue superar todos os outros dois, e ainda marcar o início do que seria a estética visual do grupo: roupas pretas, e expressões robóticas. Tudo isso ocorreu devido ao trabalho do quarteto ter caído nas graças de um público que eles nunca gostaram: basicamente hits de Light & Magic (como a própria música título e Seventeen) viraram trilha sonora de desfiles de moda e festas adolescentes, o que levou a uma adequação nos elementos que compunham o som da banda, que receberam um upgrade de guitarras e canções ainda mais elaboradas. E embora se esperasse que a aposta causasse efeito contrário – já que teoricamente suas músicas deixaram o tom obscuro para trás e receberam algum movimento, aproximando-os um pouco mais das pistas de dança – a visão do grupo se mostrou verdadeira: as canções de Witching Hour fizeram absurdo sucesso em subúrbios londrinos, mas abandonou os ambientes que queriam deixar para trás. Mas se Witching Hour é uma obra-prima, assim como 604 (Light é o mais fraco do Ladytron, mas ainda muito bom), ele serviria apenas como uma preparação para o melhor álbum de música eletrônica na minha modesta opinião (opinião de quem não tem tanto conhecimento assim, como deixei claro): Velocifero, que justamente termina com Versus! É quase dicotômico ouvir músicas românticas como They Gave You a Heart ou petardos Predict The Day, embalado por batidas secas, aliadas a conjuntos sonoros pouco usuais. Tudo somado a a alguns esparsos vocais em búlgaro cantados por Mira. No fim, o resultado se mostra bem bastante interessante. 604 A primeira audição pode causar estranhamento para quem não está acostumado a experimentalismos eletrônicos. É uma barulheira só, com vocais carregados, sujos – mas belos, presente de Helen, que canta a maioria das músicas – e diversos, com momentos em que não tocam nada mais que ruídos bizarros como microfonia. Parece uma conversa de robôs inteligível, mas é apenas o inventivo álbum de estréia de uma das bandas mais intrigantes da música eletrônica. Logo de cara, com a música Mu-Tron, um instrumental que parece uma série de ruídos saídos de uma competição de Super Truck, cadenciado por uma bateria eletrônica, se tem a impressão de que não se chegará ao final do disco. Discotraxx continua o estranhamento, com uma abertura ditada pelos vocais da Mira, em búlgaro, sucedido por minutos de diversas camadas sonoras prensadas como um sanduíche (recomendo um fone de ouvido) preparando o momento em que a robótica voz de Helen é escutada pela primeira vez. É sombria e ao mesmo tempo, bela, como é mais ou menos o tom de todo o álbum. Another Breakfast With You é como uma continuação, mas com barulhos um pouco mais elaborados. Depois, outra instrumental: CSKA Sofia. Pule essa, esses pouco mais de dois minutos não vão fazer falta. Logo após esse quarteto de músicas pouco balanceado – duas instrumentais e outras duas que mais parecem continuações uma da outra – o CD se enche de referências. Paco! é como uma versão latina de uma canção cheia de sintetizadores, com alguns sons que lembram batidas carnavalescas. Logo depois ela dá lugar a Commodore Rock, que cumpre mais ou menos o que a canção diz: é rocker, mas sem precisar dar lugar a potentes guitarras. Os vocais também acompanham a proposta, soando como as últimas palavras de um robô antes de um curto circuito, mas entoado num forte e carregado linguajar búlgaro (ou algo assim, já que joguei no Google Translator e nada de tradução). Zmeyka é como uma marcha instrumental do Nine Inch Nails, mas um pouco menos climática. Serve como um interlúdio para a segunda parte do disco, mais redonda que o experimentalismo inicial – o que de cara vai contra as “regras” mais tradicionais dos álbuns. Playgirl é o mais próximo que o álbum tem de um single, com uma letra sobre uma garota dançando num mundo desolado. A canção é adocicada, e mesmo sendo unicamente eletrônica, tem uma levada meio retrô. Essa segunda metade é com certeza mais balanceada: I’m With Pilots é outra grande canção, com temas futuristas e tudo mais; porém a próxima música, This is Your Sound é mais agitada, sexy e ritmada – mas nem por isso tão melhor. He Took Her to a Movie é um conjunto de frases hipnóticas, com barulhos de aquário ao fundo, e um clima meio agitado como uma cidade no fim da tarde. Depois outra instrumental: Laughing Cavalier. É como o som da tensão pré-guerra, mas bem curta. Da trinca final se destaca Ladybird, a mais pop do CD, e faria uma bela dupla se viesse logo após Playgirl. Jet Age é apenas OK, e bem parecida com Discotraxx. A despedida vem com Skools Out…, que e é perfeita, com ruídos em um tom único, somente servindo de acompanhamento para o tom gospel da voz de Helen, que foi devidamente duplicado na pós-produção. 604 é o debút que meio mundo de artistas da música eletrônica dariam todos os seus iMacs para ter igual. Feito artesanalmente (ao menos é o que diz a lenda), mas com identidade própria, não devendo em nada (tá bom exagero, mas deixa pra lá) a outros lançamentos do gênero. Não chega a ter UM hit supremo, daqueles que vão te fazer apertar repeat por dias, mas com certeza é um trabalho balanceado, que vai exigir um pouco de tempo para ser devidamente assimilado. Lançamento: 1999 Top 3 do Álbum: Ladybird, Skools Out e Playgirl Nota: 8 Light & Magic Pra vocês verem como o mundo é estranho: esse segundo álbum foi o responsável por levar o Ladytron ao status cool que ele tem, espalhando sua música por tudo quanto é canto, inclusive em lugares moderninhos, como boates e desfiles de moda… mas é o mais fraco deles, com certeza. Motivos para isso não faltam: o clima dark e rústico deu lugar a batidas um pouco mais envolventes (a própria capa branca, em contraste com feiosa capa do CD anterior, com jeitão de pôster de filme da Europa Oriental), vários hits (inclusive um chamado Seventeen), e o nascimento da “Onda Electro” pelo mundo. Tudo isso contribuiu para o sucesso de Light, sucesso muito maior que o do lançamento 604. A abertura é contida, com True Mathematics, que não faria feio numa pista de dança, se colocada a todo volume. Destaque para os vocais da Mira (precisa dizer que é em búlgaro?!), soturnos e românticos. A segunda música é logo o petardo que espalharia Ladytron pela cena, como catapora se espalha em creche: Seventeen. A música é basicamente a repetição de um mantra falando sobre a adolescência e a idade adulta, criando um aparente contraste. É o tipo de música que toca em bares “sofisticados” e não fez sucesso à toa. Mas ainda assim está longe de ser a melhor do álbum. Flicking Your Switch forma dupla com Fire, e soa como Kraftwek com um pouco mais de ritmo vocal – graças ao fato de termos mulheres cantando, mas não chega a incendiar (toma trocadilho!). Turn It On é Daft Punk purinho, com uma overdose de distorção… e ainda assim é chata. Na verdade, com exceção de Seventeen, todas as músicas desse início o são. São mais sofisticadas, mas passam longe da primazia que foram as músicas de 604, soando genéricas e contidas. Blue Jeans melhora a coisa, apesar do seu clima de festa adolescente, e de ser um pouco maior do que deveria. A primeira música foda de verdade do álbum é Cracked LCD. É provavelmente o mais próximo que o pop-robótico do Ladytron pode chegar do psicodelismo, com vocais duplicados, sons meio transcendentais e indecifráveis. A letra segue essa linha, com relatos sobre o tempo e estações do tempo, e o mantra Cracked LCD sendo repetido todo o segundo. Daí para frente há uma explosão das batidas, o que não é necessariamente bom. Black Plastic e Evil são boazinhas e podem servir como trilha sonora para aquela noite de falatório regado a bebidas com os amigos. Startup Crime é tão fodona quanto Cracked LCD, e tem uma guerra de sintetizadores que se impõem. Tudo embalado pela voz calma e doce de Helen. É a melhor música até aqui. Nuhorizons explode tudo de novo, e expõe um pouco de influências do hip-hop, acompanhadas de mais distorções. É boa, mas não se sobressai. Cease2exist é um lindo convite a reflexão: Você vive na canção de alguém/Você já foi há muito tempo/ ou não é suficiente?. Tudo com um vocal arrastado, sensual e distorcido ao extremo. Re: Agents também é fantástica. É dançante, mas ainda assim reserva umas boas inovações na instrumentação do grupo, além de contar com uma letra interessante sobre a vida na cidade e das rotinas de trabalho, que são piores que seu tempo de criança. Na verdade infância e adolescência são temas recorrentes do álbum. Light & Magic é a melhor música do álbum, fácil. Agitada, ousada e consistente. Mais uma vez soa como um aviso sobre a situação da vida adulta, e de como ela é um marasmo nos dias de hoje. O encerramento vem menos climático, porém muito melhor que qualquer coisa do início desse CD. E é de The Reason Why essa missão, a qual cumpre com louvor. O clima é alegre se permite até um lálálá, no final da música. No geral o álbum é bom, mas é inferior a todos os outros. Parece que nasceu da vontade do Ladytron de cobrir o mundo com seu eletropop, o que de certa forma eles conseguiram. Mas analisando a discografia como deles como um todo, fica claro que L & M foi um passo para a qualidade colossal que eles atingiriam daí por diante, elevando sua sonoridade para praias que ninguém conseguiria alcançar. Foi quase uma saída à la Lênin: Um passo atrás, para dois à frente! Lançamento: 2002 Top 3 do Álbum: Cracked LCD, Startup Crime e Light & Magic Nota: 7 Witching Hour Após dois álbuns diferentes-mas-parecidos entre si, o Ladytron foi navegar em águas ainda mais longínquas das que adentrou no seu CD de estréia. Com a jogada, eles acabaram se tornando mais pops e com mais personalidade, deixando para trás, em parte, toda a estética puramente eletrônica, e incorporando inclusive guitarras em suas canções. O resultado é belo, na verdade uma semi-obra-prima, mesmo com o grupo continuando sua trajetória bebendo em fontes como Depeche Mode, Massive Attack, New Order e pitadas de Joy Division. As portas são abertas com High Rise, uma balada espacial etérea que já escancara que a proposta desse novo álbum é possuir arranjos mais orgânicos, limpos, menos soturnos e obscuros. A música também é agitada, deixando pra trás o estilo meio estáticos dos discos anteriores. Destroy Everything You Touch surge e mostra ser o hit para as multidões que o grupo estava buscando. A fórmula das novas músicas não tem mistério: é electro acelerado, mas mantendo uma veia andróide que o Ladytron imprimiu nos álbuns anteriores. É basicamente um massacre de batidas aceleradas e melódicas, exatamente o que o povo das pistas estava esperando. E exatamente por esse motivo a música virou aquele hit que DJs mais antenados usavam para alegrar festas. A beleza volta com International Dateline, uma balada linda, envolvente, calma, porém ainda levemente agitada. Perfeita para se ouvir a dois, apesar da letra pesada. Os tempos ruidosos de 604 definitivamente ficaram pra trás, o que não necessariamente é ruim. AMTV é chatinha, e não fique de consciência pesada se sentir vontade de pula-la, embora depois da metade ela se torne uma boa música. A recompensa vem logo depois com CMYK, curta e instrumental. Boa para trilhas sonoras de suspenses. Soft Power é tão boa quanto International, o que não é uma missão muito fácil. A voz de Helen está no ápice, sensual, porém passando longe de cantoras sexistas, como Peaches. A voz contemplativa se soma aos ruídos e backings vocais meio assustadores de uma forma interessante, formando bolos sonoros ideais para serem ouvidos várias vezes no fone de ouvido, para explodir num final abrupto, que lembra os melhores momentos de Amnesiac, do Radiohead. Sugar é potência pura. É mais uma canção rocker e agressiva do grupo, com vocais distorcidos e ruídos mais longos substituindo as batidas. Fighting in Built Up Areas é como um rap feito na Europa Oriental seria, com alternância de vozes entre Mira e Helen, e batidas mais cadenciadas. É chata, mas não totalmente dispensável. O bom que ela dá lugar a melhor música do disco, e uma das coisas mais lindas que o Ladytron já fez: The One Last Standing! Ouvindo da primeira vez parece ser uma música das mais genéricas, sem identidade. Mas aos poucos, quando estiver plenamente gostando dela, vai ser difícil parar de ouvi-la. A letra é quase uma canção de amor, que fala sobre fugas e reencontros. É pequena, com três minutos, além de semi-lenta e aconchegante. Weekend volta com mais força, se aproximando mais de Sugar, com quem forma uma boa dupla poderosa e roqueira, com nítidas guitarras conduzindo-a. Beauty*2 é outra das mais lindas do álbum, ficando entre a beleza e a rudeza de um electro. A sensualidade vocal mais uma vez é aparente, assim como um clima mais intimista. Destaque para a sobreposição vocal maravilhosa. Whitelightgenerator é como uma canção adolescente, com uma levada pop, carregada de sintetizadores. O encerramento vem com All the Way, que pausa tudo e clama para a reflexão, já adiantando o clima de despedida, para aquele que é álbum que definitivamente mostrou que o Ladytron é o melhor no que faz, deixando para trás nomes da cena eletrônica britânica e americana. A essa consolidação veio quase sem esforços, eles simplesmente quiseram melhorar o que já era quase perfeito. Lançamento: 2005 Top 3 do Álbum: The One Last Standing, International Dateline e Destroy Everything You Touch Nota: 9 Velocifero Se Witching Hour (o termo é uma referência a chamada hora das bruxas do folclore europeu) é uma obra prima em todos os sentidos, Velocifero faz ainda mais. O álbum é como um The Best of da banda, reunindo elementos diversos de todos os discos passados, inclusive pequenos defeitos. Black Cat inicia o CD com uma levada extremamente dark, superando até mesmo os momentos mais negros de 604. Ajuda o fato de Mira assumir os vocais. Seu búlgaro, ampliado por sua voz com tons graves faz um contraponto assustador com a suavidade e beleza da entonação de Helen. Ghosts é igualmente pesada, e foi o primeiro single liberado, além de possuir um videoclipe realmente bom. A letra é introspectiva, e como o título avisa, fala da fantasmas internos. I´m Not Scared é um rockão dos bons – no estilo Ladytron, lógico – e escancara influências de My Blood Valentine, uma das bandas preferidas dos integrantes do grupo. Runway é eletropop de raiz, meio retrô, sem inovações, mas nem por isso deixa de ser boa. A postura agressiva lembra os melhores momentos do álbum anterior, além de ter sido presença certa em zilhares de casas noturnas pelo mundo afora. Season of Illusion é a música preferida por boa parte dos que ouviram o álbum, e não é para menos. A composição, na verdade, é como um oásis em meio a barulheira bem feita da música anterior e a próxima, Burning Up, uma das melhores do álbum facilmente (e uma das melhores da carreira deles), com uma batida hipnótica e meio robótica, que já virou trilha sonora de Fringe. É daquelas que vão te fazer entender o porquê de existir o botão repeat. Após ouvir Burning Up umas 39 vezes, surge Kletva, que novamente causa estranheza por seu tom dark, seu estilo marchinha oriental, e o vocal obscuro de Mira, mesmo sendo essa uma música um pouco mais alegre que Ghosts, por exemplo. They Gave You a Heart, They Gave You a Name é linda e agitada, novamente mostrando que o Ladytron encontrou o equilíbrio entre belas canções, músicas barulhentas e as introspectivas, nunca soando chato ou pretensioso. Além disso é carregada de belos arranjos, lembrando uma International Dateline da vida. Predict The Day é outro electro hip-pop muito bem feito, lembrando Machine Gun, do Portishead. A letra fala sobre carmas de modo direto: Premedite o dia em que você sentenciará seus inimigos / Não desvie o olhar, eles estão vindo por você. A parte final do álbum reserva boas surpresas, com três músicas discorrendo sobre traições. The Lovers discorre sobre traições de forma apaixonada; Somos os amantes que você não conhece / Somos o som do seu nome fora da sala, e em Deep Blue surge Mira contando as coisas da perspectiva de uma amiga dos traidores/traídos. Tomorrow encerra a Trilogia da Traição de forma violenta: Mas eu não te odeio, ou te quero / O suficiente para te acordar. O clima soturno continua, embora mais ameno. É como o dia seguinte de um casal que um dia foi apaixonado e agora está se recompondo. E para trazer redenção a esses momentos tempestuosos – e realistas – surge uma das coisas mais lindas que você vai ouvir em formato musical. Justamente a música que me fisgou sem volta para o mundo soturno e eclético do Ladytron: Versus. Tentar traduzi-la para o português é correr o risco de estragar a perfeição atingida aqui. E olha que estamos falando de uma música ousada, com arranjos perigosamente retrôs, com referências a canções folclóricas ao invés do tradicional pop do grupo. Felizmente o resultado é maravilhoso e brinca lindamente com a dualidade da vida, e ainda inclui um inédito vocal masculino, na voz de Daniel. É o final perfeito para um álbum quase perfeito, que soube unir com maestria a fase mais conceitual do grupo com a fase mais orgânica. É a entrega ao amor de uma das bandas mais robóticas do cenário pop, e por isso mesmo o seu melhor momento. Sim, existem andróides com coração! Lançamento: 2008 Top 3 do Álbum: Versus, Burning Up e Ghosts Nota: 9,5