Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr A VERSÃO ORIGINAL (1927) Metrópolis é um clássico do cinema expressionista alemão, estilo que visava a distorção de personagens e cenários através de uma fotografia e direção de arte sofisticada na década de 1920, a lado de filmes como O Gabinete do Dr. Caligari (de Robert Wiene, 1919) e Nosferatu (de Friedrich Wilhelm Murnau, 1922). Dirigido por Fritz Lang e baseado no romance homônimo de sua esposa, Thea von Harbou, Metrópolis foi lançado em 1927 e considerado a produção mais cara já produzida na Europa até então, logo se tornando um ícone do cinema de ficção científica, inspirando toda uma geração de cineastas e artistas. Ao mostrar o embate entre a classe rica de Metrópolis, que vive na superfície, com a classe operária que vive no subterrâneo e trabalha à exaustão para sustentar a cidade, Metrópolis continua relevante até os dias de hoje, sendo atemporal. Mas de 1927 pra cá o longa passou por muitas mudanças, cortes, remasterizações e, inclusive, remixes! Em seu lançamento original o filme possuía 153 minutos, acompanhado de trilha sonora orquestrada que dava o tom das cenas, já que a película em si era muda. Os diálogos surgiam nos chamados inter-títulos, que são aqueles textos que aparecem entre as cenas. Considerado longo de mais e recebendo diversas críticas, foi editado para versões mais curtas e picotado aos montes nos anos seguintes, com a versão original perdida para sempre. Décadas se passaram sem as pessoas entrarem em contato com a verdadeira Metrópolis de Lang (imaginem um mundo sem locadoras e torrents…). Apenas em 1984 que houve a primeira grande tentativa de remasterizar e coletar em cinematecas e coleções as partes perdidas do longa, tentando se aproximar o mais próximo do original. O resultado, entretanto, gerou controvérsias… https://www.youtube.com/watch?v=ZSExdX0tds4 Veja o trailer da versão mais recente e completa de Metrópolis (2010) para captar a aura do cinema mudo e orquestrado dos anos 1920. Antes de ver o próximo trailer. PRIMEIRA REMASTERIZAÇÃO (1984) O responsável por essa missão foi ninguém menos que o icônico produtor musical Giorgio Moroder, considerado o pai da dance music, renovando a disco music nos anos 1970 e abusando dos sintetizadores com o lançamento da clássica música I Feel Love de Donna Summer em 1977. Moroder ainda produziu as trilhas de filmes como História Sem Fim e Scarface, ganhando três Oscar por Top Gun, Flashdance e Expresso da Meia-Noite. Quem pensa que os sintetizadores morreram, Moroder ainda se mantém atual com parcerias que vão de Daft Punk à Kylie Minogue e Britney Spears. Agora, imaginem este senhor produzindo um re-release de Metrópolis…. Nessa nova versão, além de incluir cenas que estavam perdidas, Moroder produziu e co-escreveu as músicas da trilha sonora, tirando o típico instrumental de orquestra e colocando no lugar artistas consagrados da época como Freddy Mercury, Pat Benatar e Bonnie Tyler! Também “coloriu” boa parte das cenas, deixando-as monocromáticas (algumas cenas em azul, outras em vermelho e por aí vai). Também acrescentou pequenos efeitos especiais tanto visuais quanto sonoros, como uma luz de neon num outdoor ou em raios e barulho de passos. Também tirou todos os diálogos em inter-títulos, colocando-os diretamente na imagem como legendas, o que encurtou a duração do longa para 80 minutos. Era a versão mais completa de Metrópolis até então e a que as pessoas tiveram mais acesso, também. Apesar da filmagem ser a mesma, a trilha e novos efeitos deu ao clássico todo um ar futuro-oitentista. Com as atuações teatrais e exageradas, é como ver uma versão estendida de Total Eclipse of The Heart. Muitos gostaram, outros odiaram. Posso dizer que amei. Veja o trailer desta versão, que traz um pouco do ar new wave dado à Metrópolis. LEGADO E NOVAS RESTAURAÇÕES Metrópolis só foi ter uma nova restauração com cenas perdidas e a retomada de sua trilha sonora original em 2002, logo após ser o primeiro filme incluído no Registro da Memória do Mundo organizado pela UNESCO. Os anos 2000 foram agitados para o longa, quando encontraram um negativo do original num museu da Argentina, iniciando mais um processo de restauração e lançando em 2010 a versão mais completa até agora, com 148 minutos e considerada 95% fiel à exibição original. Metrópolis é um clássico da ficção científica que, apesar de representar o cinema expressionista alemão, tomou emprestado muitas das características do futurismo e cubismo. Seu design arrojado e inovações serviram e ainda servem de forte influência para inúmeros outros filmes, música, games e quadrinhos, como a cidade de Blade Runner (de Ridley Scott, 1982), os robôs de Star Wars (de George Lucas, 1977) e Robocop (de Paul Verhoeven, 1987), os videoclipes de Radio Gaga do Queen (1984) e Express Yourself da Madonna (1989), entre muitos outros exemplos. No universo dos quadrinhos, temos duas grandes obras influenciadas de alguma forma por Metrópolis. A primeira é do pai do mangá e criador de Astro Boy: Osamu Tezuka. Após ver uma imagem do filme numa revista e afirmar nunca ter assistido, Tezuka publica em 1949 o mangá Metrópolis. A história pega conceitos gerais da ficção científica de “seres artificiais” e não possui tanta relação com o longa original, mas foi um marco na carreira de Tezuka. Já em 1996 a DC Comics publica uma trilogia baseada no expressionismo alemão, sendo uma delas a HQ Super-Homem: Metrópolis, que ocorre numa realidade paralela e é muito semelhante ao filme, com a briga de classes e a vinda de um messias, de um “super-homem”. Ambas publicações são ótimas e já resenhei as versões que saíram aqui no Brasil, que você pode conferir aqui a de Metrópolis e aqui a do Super-Homem. ►Compre aqui na Comix o mangá! Outro grande título inspirado pelo longa foi lançada em 2001: o anime Metrópolis, que toma emprestado muitos dos personagens e cenário geral do mangá de Tezuka, mas que ocorre numa cidade muito mais semelhante á de Fritz Lang, com direito à zonas subterrâneas e uma superfície luxuosa. A animação é linda e possui uma direção de arte refinada e roteiro de Katsuhiro Otomo (o mesmo criador de Akira), produzida pelo renomado estúdio MadHouse, que já lançou pérolas como Perfect Blue e Tokyo Godfathers. Metrópolis é um dos poucos clássicos que vem transformando tanto a si mesmo durante as décadas, quanto todo o cenário de ficção científica que veio depois. Um must see em todas as suas facetas. A luta dos trabalhadores por direitos iguais e para saírem do submundo e tomar a classe rica que tanto sustentam nunca foi tão atual. Enquanto Fritz Lang utilizou de Maria, um ser artificial que toma lugar da líder dos empregados para dissimulá-los, no mundo real há tantas outras figuras públicas que fazem o mesmo com a massa.