Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Em 1973 a dupla Tony DeZuniga e Sheldon Mayer criou a personagem Orquídea Negra, mais uma das heroínas do vasto universo da DC Comics. Ela apareceu em diversos gibis na época, mas logo foi esquecida não ganhando nem mesmo uma história de origem. Anos depois, em 1987, Neil Gaiman envia um roteiro de uma história curta do Monstro do Pântano para Karen Berger, então editora da DC Comics, como uma tentativa de entrar no concorrido e fechado mercado de histórias em quadrinhos. Gaiman, até então, tinha publicado apenas um gibi na vida, que foi Violent Cases com seu amigo Dave McKean. Berger só veio se encontrar com Gaiman um tempo depois em Londres, quando a editora foi buscar talentos britânicos para a DC. O escritor apresentou uma série de propostas de roteiros, como uma minissérie para a Orquídea Negra, uma série com John Costantine (a.k.a. Hellblazer), Sandman e outros personagens. Todos foram recusados, com exceção de Orquídea Negra. Berger então pediu uma proposta detalhada do projeto para Gaiman e, em dezembro de 1988, o primeiro número da minissérie Black Orchid viu a luz do dia. E assim começou o trabalho por trás da revitalização da personagem e o início de uma carreira de sucesso para o escritor britânico. É importante destacar que nessa época a DC Comics estava revitalizando a maioria dos seus personagens após a mega saga “Crise nas Infinitas Terras“. Enquanto que escritores como Frank Miller, George Pérez e John Byrne cuidavam dos medalhões, escritores britânicos desconhecidos iam desenvolvendo personagens secundários, abrindo as portas para a chamada “Invasão Britânica”: Alan Moore assumia o Monstro do Pântano, Grant Morrison o Homem Animal entre outros que se tornaram ícones da indústria. Minissérie original Gaiman e Dave McKean aproveitaram o fato da personagem não ter uma origem definida e começaram a história de uma forma simples e arrebatadora: seu plano para derrubar uma organização criminosa dá errado e ela morre com um tiro na cabeça e seu corpo é carbonizado na sequência. Com isso o escritor teve carta branca para fazer o que lhe desse na telha e criar uma personagem do zero, o que era uma oportunidade rara na época e que continua sendo atualmente. Então conhecemos a origem de Suzy, uma híbrida da heroína original com um novo ser, uma “mulher” com poucas e confusas memórias de sua antecessora e que precisa aprender a sua história e o seu lugar no mundo. Nesse gibi o escritor britânico começou a desenvolver e mostrar um pouco do seu estilo que ficou marcado em Sandman: diálogos precisos, forte desenvolvimento dos personagens principais e a utilização de outros já conhecidos do universo da editora de maneira concisa, sem que eles tomem muito espaço no gibi. Um exemplo disso é a participação de Lex Luthor na trama. Luthor é conhecido por ser o famoso inimigo do Superman, mas nesta história ele é utilizado apenas como um empresário inescrupuloso e interessado em dissecar a heroína para usar seus dons no mundo dos negócios. E tudo isso sem citar uma única vez o seu arqui-inimigo de longa data. Aliás, essa caracterização seria utilizada diversas vezes no futuro. Outros momentos que merecem destaque são as participações do Batman e do Monstro do Pântano. Nota-se também a forte influência de Alan Moore – que na época estava sob a batuta do Monstro do Pântano – no texto do novato Gaiman. Na arte temos um desconhecido, porém altamente competente Dave McKean que, com a forte influência de Bill Sienkiewicz, utiliza-se de referências fotográficas para os personagens e domina completamente o uso de cores fortes e vibrantes quando a heroína aparece e tons cinza e escuros para os vilões da trama. A união de roteiro e arte se torna perfeita, principalmente quando a Orquídea Negra aparece em cena. A Panini Comics lançou em 2013 a Edição Definitiva contendo os três números da minissérie original. A edição de 180 páginas conta com a proposta original de Gaiman para a história, comentários da Karen Berger e a tradução dos garranchos originais do escritor (aliás, parabéns para a Panini por ter realizado esse serviço, a letra do Gaiman é horrível). O preço de capa é de R$24,90 (preço camarada DEMAIS) e com certeza figura como um dos melhores lançamentos recentes no Brasil. Gaiman constrói uma história que é uma grande jornada para a descoberta de si mesmo, uma viagem longa, dolorosa e violenta, onde a perda da inocência é um requisito para a própria sobrevivência. Mas que no final tudo vale a pena, pois o futuro reserva um amanhã melhor e cheio de esperanças. Esse gibi abriu as portas para que Gaiman escrevesse Sandman e se tornasse um dos maiores escritores da história. Logo após essa minissérie, a Orquídea Negra ganhou uma série mensal e voltou a aparecer esporadicamente no universo da DC. Infelizmente era uma personagem fadada ao esquecimento que teve a grande sorte de contar com a energia e o talento de dois jovens artistas. Um verdadeiro clássico dos quadrinhos.