Esqueça aquela ideia de que tarô é coisa de cigana tentando arrancar uns trocados de você. Ou mesmo aquele papo de que as pessoas usam para ver o futuro e o que vai acontecer no próximo ano. O tarô é uma ferramenta de autoconhecimento por meio da interpretação de símbolos, além de um interessante sistema de análise de situações.

A origem das cartas de tarô é um pouco mascarada por todo misticismo que se atribui, como as lendas de que surgiu no Egito Antigo ou foi criada por Cabalistas do passado. A real é que o tarô provavelmente surgiu da mistura das tradições espirituais: judaica, católica, cristã e muçulmana, além de ter fortes influências do hermetismo, da alquimia e das raízes mitológicas da sociedade.

Cada baralho de tarô tem 78 cartas divididas em dois tipos: arcanos maiores (22 cartas) e arcanos menores (56 cartas). Os arcanos maiores apresentam uma história sobre o caminho da felicidade, nossa jornada completa de vida e o significado dela. Já os arcanos menores são divididos em quatro naipes: taças (copas, água, emocional), discos (ouros, terra, materialidade), espadas (espadas, ar, mente) e bastões (paus, fogo, vontade). Com cartas de às a dez e quatro figuras de corte. O nosso baralho comum de jogo é um filho direto dos arcanos menores do tarô, mas possui apenas 52 cartas (com uma figura de corte a menos) e apenas uma carta baseada nos arcanos maiores: o Curinga.

Cada carta possui uma grande gama de símbolos que devem ser interpretados, mas que em seu cerne já carregam muitos significados individuais e também em suas combinações. Ou seja, nenhuma leitura de tarô será igual e cada carta pode interferir na compreensão total da leitura. Porém, acima de tudo, o tarô se lido na ordem em que foi enumerado revela narrativas secretas tanto na jornada dos arcanos maiores, como nos quatro naipes dos menores.

Mas o diabos tudo isso tem a ver com a cultura pop? Se você gosta de Star Wars, Senhor dos Anéis, Matrix e outras grandes sagas cinematográficas, já deve ter ouvido falar sobre Jornada do Herói. Basicamente é uma estrutura comum aos principais mitos que a humanidade já criou, incluindo as mitologias grega, cristã, egípcia, indígena, etc. Em especial a estrutura clássica do mito solar, que mostra um deus/herói que nasce trazendo luz vai até o abismo no anoitecer e renasce todas manhãs. Essa história está no tarô e ele pode ser usado para compreender melhor como construir narrativas fictícias.

Muitos autores utilizam o tarô não só em suas histórias, como um recurso narrativo interessante, mas também para criar e organizar suas ideias. Entre eles, podemos destacar grandes nomes como Neil Gaiman, Alan Moore, Alejandro Jodorowsky, Grant Morrison, Lourenço Mutarelli e muitos outros. Curiosamente, um dos principais ambientes criativos que utiliza o tarô abertamente é o universo dos quadrinhos. E, em parte, o cinema e a literatura também já foram muito influenciados por essas cartas. A verdade é que depois de estudar bastante, você passa a encontrar os arcanos em toda parte.

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Por exemplo, a clássica graphic novel Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean, tem muitas páginas com cartas de tarô, mas além de tudo isso a história é conduzida com base nelas. Toda a narrativa é sobre o Batman atravessar os 22 arcanos maiores sem enlouquecer e isso fica muito evidente se a gente sabe que a carta de número zero (ou sem número), que é o personagem principal do tarot, se chama O Louco. Ele é o primeiro e o último arcano dos maiores. Também vemos que todos os vilões assumem um arcano e tem uma função narrativa de provocar o herói com suas características principais.

Também sou um roteirista e editor de quadrinhos que utiliza essas cartas como uma ferramenta de autoconhecimento e de base para a construção das minhas histórias. Através das cartas descubro novas formas de contar histórias, criar personagens e acrescentar novas camadas de  leitura para as minhas narrativas. Um exemplo muito claro está na minha HQ A Teia Escarlate, lançada pela Editora Draco, e que tem artes de Daniel Canedo, Clayton InLoco e Ioannis Fiore, além de contos de Eduardo Kasse. Ali utilizei o tarô de muitas maneiras que não vi nenhum leitor desvendar ainda.

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Nessa coluna, nós vamos usar os arcanos para extrair análises e interpretações das histórias que vão muito além do que conseguiríamos sem a ajuda das cartas. A ideia é ao mesmo tempo que vocês conhecem o significado dos arcanos, também aprendam a identificar sua presença nas narrativas que gosta. E também tentar tirar alguma sabedoria das histórias que lemos, além de apenas nos divertir com elas. Ou seja, essa é uma coluna que mistura espiritualidade, quadrinhos, ocultismo, cinema, hermetismo, literatura e outras coisas incríveis. Bora embarcar nessa jornada?

Para conhecer meu trabalho com o tarô, basta seguir o Instagram @fuzztarot, onde posto resenhas sobre cultura pop, faço cartas exclusivas, leituras da semana e muitas outras experiências usando o tarô.

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