A Morte do Professor Francisco é uma história em quadrinhos de Daniel Capua, Chia Americo e Lorar Laurenti, que apresentam uma profunda discussão entre religião e ciência através da conversa de dois amigos no dia do funeral de seu professor de matemática.

Apesar do mote parecer simples ou mesmo complicado, essa HQ levantou uma série de pontos que vivem povoando minha cabeça. É possível acreditar em uma espiritualidade sendo um cético ou um ateu? Sempre que me perguntam qual é a minha religião, sempre respondo brincando: sou ateu não praticante. No entanto, a resposta correta seria, sou muito cético e realmente não acredito em uma divindade, mas acredito que existem coisas que podemos vivenciar e ainda não sermos capazes de explicar cientificamente.

Foi com essa forma de pensar que me identifiquei tanto com o lado místico de Márcio, como pelos pés no chão de Carla. Tenho uma personalidade questionadora e iconoclasta muito enraizada desde a tenra infância. Me lembro da fase em que comecei a ler a Bíblia por conta da Primeira Comunhão e percebi que não acreditava em nada daquilo. Não via consistência naquelas histórias, que pra mim não chegavam aos pés de 20 Mil Léguas Submarinas e As 1001 Noites. Foi aí que pesquisei e descobri o que era ser ateu e não acreditar em nada. Porém, eu era muito mais um Mulder do que uma Scully.

Nas páginas dessa HQ, os amigos Carla e Marcio estão discutindo suas lembranças sobre o professor Francisco, que era um matemático com os dois pés na racionalidade e no método científico, porém, sempre dava respostas que não negavam as crenças dos alunos. Francisco era um homem que sabia que acima de nossas crenças, devemos ser sempre responsáveis pelos nossos atos. Aqui vem a ligação com o Tarot.

Enquanto, o cético Márcio lida com tudo pelos olhos racionais do arcano maior O Mago (I) e a espiritual Carla é uma alma presa a dogmas como O Papa (V), o professor Francisco é certamente guiado por O Julgamento (XX). Excluindo O Louco, O Julgamento é a penúltima carta dos Arcanos Maiores e seu principal tema é: “agora que tudo chegou ao fim, qual é o seu legado?”. Ou seja, todos somos responsáveis pela vida que vivemos e pela forma com que influenciamos as pessoas de nosso convívio.

A arte da HQ é bem estilizada, mas cabe perfeitamente na construção dessa história. Também vale ressaltar o belíssimo trabalho de edição da Lorar, que tem potencial para ser uma editora bem criativa. Gostei muito de como as cores verde e roxa são usadas para apresentar respectivamente o lado racional e o espiritual.

Ganhei essa edição no Festival Internacional de Quadrinhos, em Belo Horizonte, mas os autores moram em São Paulo, capital. Para comprar a edição, acredito que vocês podem procurar a página do coletivo Quadrinhos do Mundo.

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One Comment

  1. Francye Ramus

    26 de junho de 2018 at 10:12

    Muito bom

    Procurando agora para comprar

    Abraços

    Reply

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