Durante anos o Superman foi acusado de ser aquele personagem babaca, submisso às autoridades (leia-se governo americano) e bonzinho demais. Em O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller chegou a mostrar o heroi efetivamente trabalhando para o governo. Até a descrição do personagem nos gibis dizia “(…)defende o modo de vida americano como o Superman”. Talvez o grande erro da maioria dos roteiristas, durante todos estes anos, tenha sido justamente confundir “modo de vida americano” com ser um capacho do governo. Isto somado ao fato do personagem ser poderoso demais fazia com que grande parte dos leitores não se identificasse com ele. E este parece ser um equívoco que a DC Comics tenta consertar com a nova versão do personagem no reboot.

Para começar, na revista Action Comics, escrita pelo Grant Morrison (autor de All-Star Superman – a melhor história do personagem nos últimos 10 anos), somos apresentados a um Superman ainda jovem e que não tem seus poderes completamente desenvolvidos. Morrison traz de volta características do começo do personagem nos quadrinhos. Ele ainda não voa, por exemplo, sendo apenas capaz de grandes saltos por cima dos prédios. Além disso, o Superman se mostra realmente como um heroi do povo, socialista até, atacando empresários corruptos e impedindo que os mais necessitados fiquem desabrigados. O personagem chega até a enfrentar a polícia, algo impensável para o Superman pré-reboot. E não podemos esquecer que ele se veste de ~~pedreiro~~.

O Superman Pedreiro

Outro ponto positivo da reformulação é quanto ao significado de ser um heroi, afinal, entrar em um prédio em chamas quando você sabe que vai sair ileso faz de você um heroi? Neste sentido, o Super do Grant Morrison é muito mais humano. Ele ainda é virtualmente imortal, resistindo a tiros, explosões e outras coisas, mas nunca sai totalmente ileso. Logo na primeira edição de Action Comics, percebemos que as façanhas do heroi também requerem esforço, após ele ficar totalmente exausto enquanto tentava impedir um acidente com um trem. É uma grande diferença para quem estava acostumado a ver o homem de aço erguendo prédios sem muita dificuldade.

“O último filho de Krypton”. Essa era outra frase muito usada para se referir ao Superman. Mas convenhamos que isso nunca foi muito verdade assim, principalmente depois da reformulação que o personagem sofreu na década de 1980, após a saga Crise nas Infinitas Terras. Nesse primeiro reboot, John Byrne deixou o personagem muito mais ligado à Terra, tendo inclusive os pais adotivos ainda vivos. E na década de 1990 ainda teve o casamento com Lois Lane.

Eis que no novo reboot, essa farra acabou, Superman é o Último filho de Krypton e carrega esse fardo sozinho. Papai e mamãe Kent estão mortos há muito tempo e o casamento com Lois Lane nunca existiu. E eu, que tanto critiquei essas mudanças na época em que foram anunciadas, devo admitir que vieram pra melhor. O Superman era um personagem estagnado e toda essa reviravolta fez bem ao heroi. Finalmente, temos histórias em que o homem de aço não é apenas um cara superpoderoso, ele é realmente um alienígena tendo que se adaptar em um mundo que não é o dele. E, por mais contraditório que possa parecer, isto faz dele muito mais humano que sua antiga versão.

 

Superman fugindo da puliçada

Já o gibi Superman nos mostra um homem de aço ainda cheio de dúvidas e com os poderes em desenvolvimento, apesar das histórias se passarem já no presente. Além disso, os cidadãos de Metrópolis ainda se dividem entre os que acham o homem de aço um heroi e os que o consideram uma ameaça. Os coadjuvantes e o cenário das histórias também foi bastante modificado. O antigo prédio do Planeta Diário foi implodido (como uma forma da DC mostrar que está começando do zero) e o jornal passa a ter uma sede muito mais moderna, passando a fazer parte da PGN, uma grande companhia de comunicação. Lois Lane deixou de ser repórter e virou produtora executiva da PGN, enquanto Jimmy Olsen deixou de ser apenas fotógrafo, passando a trabalhar também como câmera e com internet.

Depois de tanto criticar esse reboot da DC Comics, devo admitir que essa iniciativa fez muito bem pelo menos ao principal super-heroi da editora. É realmente interessante poder ler um Superman um pouco menos poderoso e que se esforça para realizar suas tarefas, tornando-o muito mais heroico do que sua antiga versão. Ainda é cedo pra dizer se as histórias vão continuar interessantes, mas não há dúvidas de que toda essa mudança na dinâmica dos personagens dá um novo gás a um personagem já desgastado há muitos anos.

ARTE DA VITRINE: Thiago Chaves (@chavespapel)

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No Comments

  1. Rui

    15 de março de 2012 at 17:04

    Grandes heróis, nas mãos de grandes Roteiristas resultam em grandes histórias.

    O problema é quando cair na mão de gente que não tem o dom…

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  2. Douglas Ferreira

    17 de março de 2012 at 18:56

    Não gostei da reformulação, agora o Super pode ser um Batman com poderes ou mesmo “O Homem de Marte” (JJ), mas sem defender o ideal construído em sua infância pelos pais adotivos que moldaram seu caráter e disseram que apesar de super poderoso não deveria intervir tanto nos assuntos alheios e cumprir as leis apesar dos pesares, ele deixa de ser Ordeiro e Bom e se torna qualquer herói, um Caótico e Bom comum, sei que o apelo de hoje é pelos heróis que fazem o que queríamos muitas vezes fazer, defender o que achamos certo, nosso ponto de vista, mas o mundo é cheio de pontos de vistas diferentes e a lei serve para regulá-los, acho que era mais legal quando Bruce e Clark discutiam sobre o que era o correto e o que era o “certo” a se fazer sem que o super cauterizasse o Homem Morcego, mas realmente trabalhar com personagens de opiniões opostas não é pra qualquer um, só acho que mataram meu ícone, agora sim é A Morte do Super-Homem… 😉 SAD BUT TRUE

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  3. Kxu - Todosjoga

    17 de março de 2012 at 20:56

    É sempre bom saber que um extraterrestre esta ajudando sua raça, mas ainda acho que ele só faz isso tudo por motivos próprios e não por bondade.
    veja meu pequeno post sobre super-homem no

    http://www.todosjoga.wordpress.com

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  4. Kripton

    18 de março de 2012 at 10:23

    Bom, pelo menos perceberam que a “cueca pra fora” estava mais do que na hora de ser extinta, pois chega a dar um ar cômico ao personagem. Assim fica difícil ter algum respeito mesmo. O ideal seria mudar as cores “azul, vermelho, branco” para sair de vez da ‘submissão’.

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  5. Zé da Fiel

    21 de março de 2012 at 17:09

    Acho sinceramenete que não tem nada a ver uma coisa com a outra.
    Primeiro. Durante anos o Super-Homem tem estado sob a batuta de escritores sofríveis. E aí fica fácil pro genial Grant Morrison escrever boas estorias sobre a corelacao entre a física quântica, o arcanismo xamanico e as sociedades secretas que secretamente ditam nossos caminhos.
    Segundo. Sendo o Super-Homem não poderoso, a maioria desse escritores medíocres não consegue desenvolver um plot levemente inteligente pro homem mais poderoso do mundo que opta por não fazer nada.
    Outra. A DC comics tá a um passo de virar a “turma da Monica Jovem”. Parece que só é possível escrever estorias do Batman se evolverem a “maldição do morcego e suas ligações com a família Wayne”. E no caso do Super-Homem estorias sobre sua origem.

    Só nesses doze anos Panini li, uma releitura. Ligando o Kripton da era prata com o do Jonh Byrne, e duas novas origens. Uma do Mark Waid e do Lenny Francis Yu, e uma do Geof Jonhs desenhado pelo Gary Frank. E todas tem o mesmo defeito. Tentar trazer pro universo atual todas as bobagens pré crise que Jonh Byrne sabiamente jogou no lixo. Super-cão? Sério? Kandor numa maquete de vidro?

    Esse negocio de reboot é uma bobagem tão sem tamanho e ineficaz, e a DC é tão incompetente, que já o fez quatro vezes e não consertar seus problemas de continuidade. Não conseguiu resolver nem a origem do Gavião-Negro, ou do Super-Boy ou do Dan Didio.

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  6. lucas

    27 de julho de 2012 at 04:38

    Sabe eu não entendo a Warner Bros, com o seu “reboot” ela deixou o Superman mais “humano/Falho”…oque pra mim foi uma incrível imbecilidade…não só modificar o personagem da ficção mais reconhecido do mundo(Ao lado do Rato Mickey e do Papai Noel), mas pelo simples problema de: Todas as melhores histórias do Superman serem exatamente o oposto disso.
    Histórias que brincam com o conceito do homem perfeito, que fazem ele refletir sobre os poderes dele, ou apenas que brincam, tirando ele do foco da história e apenas mostrando como ele influencia os demais…ta também é ótimo as histórias dele contra o Lobo.
    Mas a questão é…histórias boas do Superman ele está sempre o mais poderoso e apelador possível, mas, devido a problemas de pessoas não enxergarem isso(escritores e editores), personagens como o Batman e o Justiceiro(mais “reais”) acabam tendo mais fãs e zombam do pobre garotinho de pijama azul.

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  7. Luiz

    1 de agosto de 2012 at 02:42

    Mas superman foi feito por dois garotos judeus que não aguentavam mais levar surra o dia todo e precisavam desesperadamente de uma figura paterna á prova de balas ( e BEM OTIMISTA), alguém que fosse um misto de garoto ordinário e viajante espacial com a moral irredutível de um profeta hebreu! E como os outros, ele nasceu do caldeirão borbulhante de criatividade e impulso que normalmente aparece quando menos esperamos e dura uns dois segundos ( admita, você já teve um desses). Superman, Kal El, Clark Kent, é um herói imortal em todos os sentidos da palavra. mais importante: Ele é um símbolo da nobreza humana, da visão de um futuro brilhante e de que mesmo enfrentando ameaças maiores até do que o próprio homem de aço, nós sempre podemos encontrar luz no fundo do buraco não importa quão difícil pareça. Superman não é só um ser solar porque ele tira os poderes do sol, mas porque ele preeche os pré-requisitos de um Apolo moderno: Filho de um sábio poderoso, salvador que vem em nome da razão em sua forma mais pura. Desce até o mundo terreno para trazer luz a um mundo ignorante que o teme como uma força da natureza e o enxota como pessoa. Por dentro, ele só quer se enturmar e ser humano, coisa que não é possível, seja por causa dos genes kryptonianos ou por seu senso de moral super sólido.

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  8. Douglas Barbosa

    14 de agosto de 2012 at 12:31

    Quando é que teremos novos super heróis para adorar?
    Digo isso, pois ultimamente tanto nos quadrinhos quanto nas telonas estamos sendo bombardeados por novas coisas velhas. Seja o Batman, o Superman ou o Homem Aranha são todos personagens velhos, não me entendam mal eu realmente gosto dos antigos, mas parece que existe uma preguiça geral que faz com que não se crie novos personagens e reciclem os antigos.

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