Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr E então liberaram o primeiro trailer do novo filme do Quarteto Fantástico pela Fox, um reboot nesta franquia cinematográfica. Nesta pequena amostra, nota-se que não parece se tratar de um filme colorido do Quarteto e sim um filme soturno de ficção científica que leva o nome do Quarteto Fantástico – o que eu achei particularmente muito bom, embora entenda a insatisfação dos fãs da família fantástica. Mas não é isso que quero discutir aqui. Muitas tem sido as reclamações em cima do filme, mas nenhuma chama mais atenção e tem sido mais intensa do que as críticas negativas contra a mudança de etnia do personagem Johnny Storm, o Tocha Humana. MICHAEL B. JORDAN COMO JOHNNY STORM, O TOCHA HUMANA A estreia de Johnny Storm nos quadrinhos deu-se no gibi Fantastic Four #1, em 1961, numa época em que as principais figuras de destaque dos quadrinhos eram todos brancos, heterossexuais, cisgêneros. Pouquíssimas mulheres. Nenhuma pessoa negra. Nenhuma. Os críticos mais ferrenhos alardeiam que se deve respeitar a obra, e eu posso concordar. No entanto, nós, pessoas negras, fomos respeitadas em nossa representatividade? Num comentário de um site de quadrinhos, um rapaz cujo rosto desconheço, e que se diz negro, opinou que se “querem abrir um sistema de cotas para negros em filmes de Hollywood, então que criem personagens negros interessantes e parem de descaracterizar os personagens como eles são nos quadrinhos”; é claro, ganhou vários feedbacks positivos – afinal, se o negro falou contra essa estúpida política de inclusão, então tá falado, nossas críticas brancas são legítimas. Bacana. O primeiro “personagem negro interessante” da Marvel estreou nos quadrinhos apenas em 1966, no gibi Fantastic Four #52, para atender a demanda cada vez maior de leitores negros. Um único personagem negro de destaque é mesmo suficiente para atender o imenso contingente de pessoas negras do mundo? O punhado miúdo de heróis negros hoje existentes nas principais editoras são mesmo suficientes? E, acima de tudo: por que incomoda tanto quando o personagem branco se torna negro? MILES MORALES COMO ULTIMATE HOMEM ARANHA. INCOMODA TANTO ASSIM VOCÊ? Ao longo dos anos, nos quadrinhos, as histórias sofreram diversas mudanças nas origens e no status quo de seus personagens, de retcons a reboots, de heróis que morrem e passam o manto para seus sucessores, universos alternativos com origens revisitadas, adaptações cinematográficas que diferem bastante do que aconteceu originalmente nos quadrinhos. Mas por que incomoda mais Capitão América vivido pelo Sam Wilson, negro, do que o Capitão América vivido pelo caucasiano Bucky Barnes? Por que o Batman loiro e psicopata que substituiu Bruce Wayne nos anos 90 não incomodou tanto quanto o negro latino Miles Morales como novo Homem Aranha num universo alternativo? Por que, de todas as diferenças entre os quadrinhos e a vindoura adaptação cinematográfica do Quarteto Fantástico, a que o pessoal mais bate na tecla é por conta do negro Michael B. Jordan interpretando o Tocha Humana? Por que será? Essa mudança de raça não muda em nada a trama. Não influencia em nada a essência de família que a franquia carrega. Então, se não muda nada, então por que mudar? Pra que ser “politicamente correto”? Porque. Não tem. Negro. Em lugar. Algum. Por que será que um monte de crianças pretinhas vibraram quando acordaram e descobriram que o Capitão América agora era negro? Por que um monte de mocinhas pretas leitoras de quadrinhos até hoje se espelham na personagem Tempestade dos X-Men? Por que vários rapazes adoram tanto o Pantera Negro super-inteligente e lutador e soberano da nação mais avançada tecnologicamente – e espiritualmente – do mundo? Porque. A. Maldita. Representatividade. Importa. SIM. “Ah, mas hoje tem um monte de personagens negros que…” Tá. “Um monte”. E quantos desses são líderes de grandes equipes? Quantos desses são líderes de alguma equipe? Quantos realmente se destacam? Quantos são realmente relevantes nas histórias? “Ah, e se mudassem seu personagem negro pra branco?” Sério? Porque já não temos brancos suficientes, né? Em tempo: se escalaram o Michael Jordan pra viver o Tocha Humana, bem que podiam aproveitar e contratar uma atriz negra para viver sua irmã Sue Storm. Porque, se o homem negro quase não aparece nos quadrinhos, a mulher negra então praticamente não existe. Bem bacana mesmo.