Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr “Memórias são coisas perigosas. Você pode revirá-las sem parar, até conhecer cada cantinho delas, mas ainda assim acaba encontrando uma aresta e se cortando.” Negro, obscuro e repleto de violência. Esta é uma boa descrição para Prince of Thorns, o primeiro livro da trilogia Broken Empire (Trilogia dos Espinhos), escrita pelo britânico Mark Lawrence. Um dos mais recente fenômenos da fantasia mundial, a obra já vem sendo comparada por muitos fãs à aclamada série literária de G. R. R. Martin (Game of Thrones), por sua crueza e brutalidade. Porém, diferente da série de Martin, que explora a fundo uma grande gama de personagens, Prince of Thorns concentra toda a sua força na trajetória de Jorg, o príncipe do título. Esqueça os heróis honrados e bondosos, cheios de escrúpulos e boas intenções. Prince of Thorns é como se fosse um Breaking Bad medieval. Em vez de acompanharmos uma típica jornada do herói temos os fatos que desencadeiam a transformação de Jorg de uma inocente e indefesa criança em um assassino perigoso, capaz de matar qualquer um que o desagrade minimamente, a trair, roubar, estuprar virgens, torturar e o que mais de cruel você conseguir imaginar. Um verdadeiro sociopata, líder desde muito jovem de uma irmandade de assassinos tão ruins ou piores que ele. Sua única intenção é se tornar rei, e nada ou ninguém que ficar em seu caminho durará muito tempo. Embora Lawrence deixe claro que Jorg não é exatamente uma pessoa que você gostaria de ter como amigo, ele consegue escapar de qualquer maniqueísmo e unidimensionalidade. Jorg é um protagonista complexo, de múltiplas camadas, de sentimentos muitas vezes conflitantes. Ele é digno de figurar lado à lado com personagens tão dispares quanto Hannibal Lecter, Tony Soprano e Dexter Morgan. Por piores que possam ser, é impossível não se flagrar torcendo por eles. “Vou lhes dizer: o silêncio quase me derruba. É o silêncio que me apavora. A página em branco na qual posso escrever meus medos. Os espíritos dos mortos não têm nada a ver com isso. Aquele morto tentou me mostrar o inferno, mas não passou de uma pálida imitação do horror que sou capaz de pintar na escuridão de um momento quieto.” A narrativa é feita em primeira pessoa, fazendo com que o leitor se torne íntimo dos mais secretos pensamentos de Jorg, mesmo daqueles que ele próprio prefere esconder ou eliminar. Saudades, tristeza, qualquer resquício de amor, soam para ele como fraquezas que devem ser eliminadas, defeitos de um passado que insiste em voltar. A história se passa em uma época equivalente à nossa Idade Média. A maioria dos personagens são sujos, feios e desdentados e as cenas de batalha são descritas com detalhes vívidos, capazes de chocar leitores mais sensíveis. É o tipo de obra transbordante de sangue e com um odor constante de morte e destruição. Mark Lawrence Mas o livro não está livre de falhas, a maioria provavelmente mais por se tratar da inexperiência de Lawrence em seu primeiro livro, do que por incompetência. Em algumas passagens, ele peca no ritmo, se estendendo demais em trechos pouco relevantes para a história ou para o desenvolvimento de personagens. A narração em primeira pessoa também sacrifica uma maior complexidade para alguns personagens coadjuvantes. Limitados às impressões e preconceitos de Jorg muitas vezes soam mais como caricaturas do que como pessoas reais naquele mundo. “Por muitíssimo tempo, não estudei nada além de vingança. Construí minha primeira câmara de torturas nos recantos escuros da imaginação. Deitado sobre lençóis de sangue na Sala de Cura, descobri portas dentro de minha cabeça que eu não havia encontrado antes. portas que até mesmo uma criança de nove anos sabe que não devem ser abertas. Portas que nunca se fecharam novamente. Eu escancarei essas portas“ Além disso, embora a narração em primeira pessoa seja poderosa e marcante, com diversas frases memoráveis, ela aparenta ser de alguém mais velho do que Jorg realmente é, por mais maduro que ele possa ser. Mas esses defeitos estão longe de estragar Prince of Thorns. Muito pelo contrário, Lawrence consegue prender o leitor e manter a sua curiosidade para o que vai vir nos livros seguintes. É impossível não querer seguir Jorg até o fim de sua jornada. Prince of Thorns Editora: DarkSide Autor: Mark Lawrence Páginas: 360 COMPRE AQUI!