Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Publicado originalmenteem: 19 de abril de 2010 Quando os ventos mudam, uns constroem barricadas… outros constroem moinhos de vento! Provérbio Chinês No subsolo do Espaço Impróprio, um daqueles cantos alternativos, aconchegantes, estranhos – e decadente na proporção certa, com caixas de som que vão até o teto, canos presos pela parede e reboco caindo… que seria uma espécie de palco perfeito para o Ramones, o The Clash ou Sex Pistols apresentarem um show demolidor para uns 20 ou 30 fãs completamente chapados – tive plena certeza de uma coisa que até o momento não havia refletido direito: não sou fã de pornôs mainstream nacionais. Uma ou outra atriz brasileira me atrai, tipo Monica Mattos, ou algum filme especialmente bem feito, mas no geral não é muita coisa ali que me agrada. Os motivos para isso são vários, e parte deles podem ser a resposta para a pergunta do título desse artigo… Paralelo, mas complementar a Erotika Fair, rolou o Eva Brazil 2010 – Erotika Video Awards, um festival de vídeos pornôs. São eventos que mostram ambientes e mercados parecidos, porém com grandes diferenças – o erótico ascendente, e o pornô decadente. E foi numa das mostras de vídeos que rolaram no Eva Brazil – a de Melhor Atriz – que cheguei a conclusão acima. Foram necessárias umas duas horas de cenas de sexo nada variadas passando na minha frente para Eu ter certeza do que tava falando. Nem todos pensam igual a mim, nem tão pouco sou exceção, e isso é reflexo da chegada da internet na vida da população. A internet moldou os gostos de toda uma nova geração, que é aparentemente pouco compreendida pelos Barões da Pornografia. Vamos voltar uns 15 anos no tempo, numa era em que internet – e PCs – só existiam na casa dos nossos parentes ricos. Numa época dessas, um guri que quisesse ver putaria, tinha que ter um amigo dono de banca… ou uma imaginação fértil. Felizmente Eu tinha os dois. Num tempo em que a oferta de putaria era escassa, qualquer revista ou VHS da Playboy era o ouro, e moleques de cerca de 14 anos não tinham gostos lá muito desenvolvidos concernentes a pornografia. Qualquer mamilo – mesmo que aparecesse por trás de uma lingerie transparente daqueles catálogos de produtos que as mães pediam – que surgia, era meio que o bastante para um guri dizer que viu mulher pelada. Às vezes encontrar putaria de verdade – geralmente aqueles DVDs que vinham junto com revistas que estavam à venda em bancas – envolvia ter muitos contatos na escola, especialmente com colegas que tinham irmãos mais velhos legais, ou ter um amigo que trabalhasse numa banca de revistas ou numa locadora, e não tivesse amizade com pais. Mesmo os adultos só tinham uns cinco tipos de filmes para ver: os gonzo da Buttman, os requintados cheios de mulheres gostosas da Private, os cine-peitinho da Playboy; e os correspondentes nacionais, Brasileirinhas e os da Sexxxy. Os estilos eram poucos, e parecidos entre si, e por esse motivo praticamente toda a população do lado de cá do mundo via coisas bem parecidas. A qualidade estética também não era um diferencial, com exceção dos filmes caros dos suecos da Private, que tinham tramas, e linhas de diálogo diferentes dos onipresentes óóó… óóó. Um cara com uma carta de opções tão baixa, dificilmente se tornaria podólatra, ou sei lá, fã de escatalogia japonesa. Geralmente a identificação dele era com atrizes – ou atores – e não com gêneros de filmes, pois a variedade não era muito o forte da época. E só chegavam aqui no Brasil filmes que realmente faziam sucesso, e eles eram de gêneros bem restritos. Agora corta pra hoje! A internet transformou o mercado de consumidores de pornografia numa zona caótica. Parece que a pirataria aniquilou tudo, e transformou as produções pornôs em meros filmes caseiros sem qualquer qualidade técnica, estética, ou artística. Uma outra questão surge daí: aparentemente, aos poucos, os filmes profissionais vão ficando cada vez menos profissionais, meio que seguindo a onda não estamos ganhando, não investiremos, e bancando em filmes no estilo Faça-Você-Mesmo dos internéticos. Os gostos dos consumidores de pornografia também mudaram com a cultura de ver filmes pela internet. Antes do EVA, fui na maior locadora aqui do Espírito Santo, a Flash Vídeo, e troquei uma idéia com os funcionários de lá. Segundo eles, cerca de 35% dos filmes pornôs locados por lá, são do tipo amadores, ou imitações de amadores, o que seria impensável há poucos anos atrás. As bizarrices orientais também ganham força – vi até filmes com animais marinhos nas prateleiras mais escondidas da Flash – e somam cerca de 10% dos filmes locados. Se essa pequena pesquisa sem qualquer propósito científico serve pra amostragem para um panorama de capitais brasileiras, temos pornôs orientais e filmes amadores, que, unidos formam quase metade da pornografia locada, o que é um tremendo passo numa direção contrária ao quadro de uns anos atrás, dominado pela Buttman e Brasileirinhas. Se por um lado as afirmações de que a internet bagunçou a coisa no pornô têm fundamento, por outro, elas contém somente parte da verdade. E a parte pirataria pode ajudar o pornô (e todas as indústrias de conteúdo que se sentem prejudicadas com a internet) foram o cerne do debate que Eu e o Kenneth (AKA o cara que tem um HD com 660 GB de pornografia) comandamos na programação do EVA de terça-feira. O fato é que a internet dividiu o mundo em nichos. Isso permitiu que as velhas barreiras que serviam pra separar pessoas – raças, localização geográfica – pudessem cair na prática. Pense comigo: é mais fácil você trocar uma idéia com um fã de seu game ou filme favorito num fórum perdido por aí, ou com seu vizinho, que mora ao lado da sua casa? Ou seja: com a internet, cultura e gostos pessoais são fatores de muito mais aproximação do que rótulos sociopolíticos clássicos. Agora as pessoas são capazes de descobrir do que elas gostam de verdade, se tiverem um pouco de tempo e disposição, pois a oferta está toda na internet, basta ser caçada. E resultante disso, o velho esquema de divulgação e distribuição de filmes pornôs foi pra lona. Antes, fazer um filme de sucesso não era lá muito difícil. Colocava-se gente pra transar, se filmava, colocava-se um título, e vendia pras locadores, que compravam aos montes. Era como vender picolé na porta de escola, simples e sem mistérios. Trepadas-filmagem-prensagem-venda. Como medida complementar, se colocava anúncios do filme em revistas pornôs e tinha-se milhares de reais na mão com pouco esforço. E hoje, como as coisas ficaram? Ninguém quer locar filmes; assistir pelo RedTube, YouPorn, PornHub, RaccoonTube (e outros muitos serviços com oferta de pornografia grátis em streaming) é muito mais fácil e discreto; isso sem contar os torrents e outros modos de se baixar putaria pela internet. Se usar o Porn Mode do navegador, nem rastros da visita a um certo site na hora de uma aliviada vão existir. Claro que locadoras ainda locam muita putaria, mas a tendência é cada vez mais esse modelo distribuidora-locadora-consumidor deixar de existir. E o motivo é simples: existem modos mais fáceis, mais baratos, e mais eficientes que esse. Violet Erotica Coloquemos a despedaçada-mas-outrora-poderosa indústria musical na jogada, para entendermos melhor. Eles eram outros dos que ganhavam bilhões, mas a internet também matou o modelo de negócios dela. Numa ponta tínhamos as rádios, que tocavam músicas o dia todo, geralmente após receberem uma grana das gravadoras. Antes da internet não existia um outro canal para o povo sacar de música, só ouvindo nas rádios, indo em shows, ou comprando revistas musicais, como os mais descolados que devoram a NME, além de entrar em discussões em mesas de bar. Com essa forma meio unilateral de divulgação de música não era difícil a existência de astros megamilionários como Maddona e Michael Jackson, afinal, era o que o povo conhecia. Eu tiro a mim mesmo como exemplo: até uns 16 anos, antes de conhecer a internet, se me perguntassem minhas bandas favoritas, provavelmente Eu só diria Linkin Park, Evanescence e Racionais MCs. Era o que estava na mídia, e se essa pergunta fosse feita a outros adolescentes da minha idade, a resposta seria parecida, dependendo do que ele gostasse. Praticamente não existia alternativos, pois dificilmente se conhecia bandas independentes de um lugar diferente que não fosse sua cidade. Faça essa mesma pergunta a caras de 23 anos hoje. Mesmo que existam multidões que gostam de Lady Gaga, e montes de meninas que gostam dos babões da banda Cine ou NX Zero, hoje os gostos musicais estão multifacetados. Eu não cito duas ou três bandas ou músicos, mas dezenas. Sou fã de Radiohead, Muse, Nine Inch Nails, The Knife, Bat For Lashes, M.I.A., Blood Red Shoes, A Place to Bury Strangers, Bloc Party, Biffy Clyro, e assim sucessivamente. Hoje é possível acompanhar e possuir muito mais gostos musicais, graças a instantaneidade da internet. Acabou a dependência de rádios para o conhecimento de música, e somente as que possuem um diferencial e um contato com o público sobrevivem. O número de produtores musicais também cresceu, e surgiram uma profusão de bandas independentes disponibilizando suas músicas nos MySpace da vida. Durante o debate foi dito que os jovens de hoje não possuem identidade, mas discordo totalmente. Boa parte deles realmente não tem, mas é por falta de força na construção cultural, e não por culpa de coisas como a internet, ou por causa dos novos tempos. Os jovens que não possuem identidade, que seguem as massas, o fariam independente do lugar em que tivesse inserido, pois hoje existe uma oferta cultural e de conhecimento vasta na internet e em muitos outros lugares. Quem não tem identidade, é porque não o deseja ter. O mesmo se aplica a pornografia. Se antes não se muito mais de opções do que as Brasileirinhas, com a internet a oferta de pornografia aumentou insanamente. E a diversidade aumentou no mesmo ritmo. Se antes um cara tinha vergonha de chegar numa locadora e pedir um filme de grávidas, agora pode pode pedir isso tranquilamente ao search engine do Xvideos.com. O mesmo para algum pastor evangélico que gostava de filmes com travecos (Eu sei de casos, antes que comecem os comentários) e não queria manchar a reputação ao colocar no balcão de uma locadora um filme com um nome parecido com Meninas Não Tão Meninas. Em outras palavras: acabou o reinado das megaempresas de pornografia. E grande parte da culpa é delas mesmas, ao investir numa repetição intensa de uma fórmula anteriormente vencedora. Pra fazer o teste, assista Festa Anal de Rocco 1 a 3, e depois o 15… é a mesma coisa, pura e simplesmente, e um cara, com a oferta que a internet possui, dificilmente comprará um DVD de uma série com tamanha repetição. É até compreensível que caras cinquentões (ou mais, tipo o Hugh Heffner, um dos meus ídolos), acostumados a somente fazer sexo, filmar e ganhar rios de dinheiro, não saibam muito o que fazer num cenário desses, principalmente ao ver os negócios deles irem abaixo mais rápido que um castelo de cartas ao vento. Porém, mesmo com mudanças de cenários tão dramáticos, os movimentos iniciais dessas produtoras – lutar contra essa modernidade – parecem acelerar ainda mais a queda dos antigos todo-poderosos da putaria. É a Faye Reagan, cara… não preciso de mais nada na legenda Mas e então, como uma produtora de filmes pornôs, pode sobreviver num cenário tão selvagem e favorável ao grátis como o atual? A pergunta certamente é nebulosa, e não tem respostas fáceis. Duas coisas, de cara, desanimam: 1) O dinheiro das empresas está caindo, e muito, e continuará assim; 2) Esse novo cenário, com internet exige muito mais trabalho, com aproximação maior e um diálogo com o público e ações de marketing mais elaboradas (ou celebridades cada vez mais caras fazendo sexo nos filmes) para a venda de filmes ir à frente. Mas se algumas produtoras de filmes pornôs estão ganhando dinheiro, quer dizer que não é impossível fazer as pessoas desembolsarem dinheiro mesmo em tempos de RedTube. Uma indústria de putaria que está rindo à toa com os tempos de internet são a dos europeus orientais – tchecos, húngaros e russos. Aparentemente, para alcançarem tamanho sucesso no mundo pornô, os europeus orientais fizeram uma pequena revolução no pornô, parecida com a chegada do Gonzo nos anos 80. Mas ao invés da repetição da manjada fórmula oral, vaginal, anal e ejaculação instituída por Buttman & Cia, os caras da Europa Oriental fazem cenas de sexo mais próximas da realidade, com ambientações um pouco mais desenvolvidas do que um guarda de trânsito ganhando um oral para perdoar uma multa. Uma das produtoras mais conhecidas da região (e da Europa), é a húngara Luxx Vídeo, comandada por um cara meio misterioso, Istvan Kovacs, conhecido como Kovi, que tem um contrato com a Private. Ele é como um símbolo do estilo que impera na Europa Oriental: pornô com muita sacanagem, mas sempre com história, uma ambientação, o que ironicamente contrasta com os filmes de John Stagliano, que foi um dos caras que mostrou Budapeste para a América, em Buttman in Budapest. Essa bandeira que une estética narrativa com pornografia no melhor sentido da palavra foi sintetizada numa frase dele: “Nunca filmei uma história tipo: rapaz entra no quarto; a moça está deitada; rapaz diz: “vamos foder!”. E pimba-pimba-pimba!” Os caras da Europa Oriental também são inteligentes, e além disso, têm a seu favor leis bem tranquilas no que tange a regulação desse tipo de conteúdo. Eles mantém canais de TV mais desenvolvidos e hardcore do que os similares americanos, e sistemas de de filmes pornôs on-demand são comuns por lá. É o clássico se a correnteza está indo toda pra um lado, e todos que estão nela estão se dando mal, por que não tentar algo pra outro lado?! Logicamente que os filmes da Europa Oriental não são perfeitos – se bem que pra uma parcela da população mundial, eles são – mas preenchem com perfeição um nicho do mercado ávido por filmes com personagens mais profundos do que pires sujos. Os filmes de lá são como um meio termo das produções milionárias da Private, e o Gonzo da Buttman. Vão-se os closes vaginais de cinco minutos, ou as cenas por demais repetitivas com meia hora de meteção enfadonha. As mulheres também deixam de ser meros objetos de obtenção de prazer, e efetivamente participam do filme. O Kovi Mas, como Eu disse, a internet dividiu o mundo em nichos, e o vasto nicho ocupado pelos filmes da Europa Oriental ainda são apenas parte do mercado, já que muitos outros podem coexistir junto com eles, e fazerem igual sucesso. A fórmula usada por eles para ganhar dinheiro no Ocidente também é meio díspare, e vai de encontro a modos consagrados de se vender filmes pornôs. Além das vias normais, com venda de DVDs e tudo o mais, que vai via Private, basicamente eles permitem a pirataria e inundam sites de streaming pornô com seus filmes… e ganham grana com programas de afiliados, mediante a acordo com os administradores desses sites. Não parece grande coisa, mas rende uma grana interessante, mesmo por quem acha que não ajuda a indústria pornô (infelizmente as receitas de programas de afiliados de conteúdo adulto são secretas, mas tenha certeza que é muito dinheiro). Mas outras iniciativas estão alcançando sucessos parecidos, mediante a adoção de outros formatos na hora de fazer e vender um filme. Um caso é Pirates, de 2005, produzido pela Digital Playground. É um filme pornô com história que custou absurdo 1 milhão de dólares, sendo proclamado o filme pornô mais caro da história. Ele não se valeu de esquemas especialmente modernos de distribuição, ou de ações de marketing elaboradas… simplesmente concentrou suas vendas em locadoras e DVDs, sendo anunciado em revistas e sites pornôs. Parece condenado a um prejuízo homérico? Mas foi um sucesso, tendo rendido algo em torno de cinco milhões de dólares. Uma sequência foi encomendada, dessa vez com o filme conseguindo grande arrecadação com merchandising. Foram US$ 1o milhões de dólares de orçamento… e algo em torno de US$ 17 milhões conseguidos somente com a venda de 270.000 DVDs a US$ 70 ou US$ 100. Isso tudo na primeira SEMANA! Milagre? Não, apenas uma mostra que esses novos tempos de internet têm lugar para todos, inclusive filmes grandiosos que vão na direção contrária aos filmes amadores que são o sucesso no momento. Cicciolina – um dos presentes da Europa Oriental para o mundo Mas mudanças estéticas e visuais que vão de encontro a velhas fórmulas desgastadas não são a única salvação. Há muita gente que é fã desses filmes ainda, mas o público deles está fugindo, talvez por achar uma vasta oferta dos filmes preferidos deles na rede, ou por terem sacado que somente as bundas mudam nos infinitos DVDs da Buttman. Com um público volátil assim, é complexo para mega produtoras tipo a Brasileirinhas trazer novamente uma galera que prefere ver filmes húngaros… ou baixar o último filme da Carol Miranda pelo MegaUpload. Primeiramente é necessário que essas produtoras entendam que se focar em vender filmes em locadora – ou em banca, ou em qualquer forma que envolva DVDs – já era. Podem existir resquícios desse mercado, e é realmente importante que ele seja aproveitado, mas é necessário que os chefões dessas empresas enfiem cérebro abaixo que cedo ou tarde, ele simplesmente desaparecerá. Talvez aí more o medo deles, pois vender filmes pornôs na atualidade não parece ser uma coisa das mais fáceis, e exige achar, entender e dialogar com seu público. No momento existem diversas ferramentas relativamente simples que permitem uma interação do público com a galera que produz putaria. Blogs, redes sociais, Twitter… são coisas básicas que qualquer empresa que pretende formar um público fiel deve ter. E o melhor: são grátis, só dependem de pessoas que saibam usa-las de forma adequada! Quem hoje não conhece o Blogger, ferramenta de publicação de blogs gratuita do Google, que conta com personalização suficiente para ganhar uma cara profissional? Ou o Ning, que permite a criação de uma rede social personalizada, com inscrições, fóruns de discussão e todo esse tipo de coisa? Certamente que trabalhar com serviços assim permitiria a empresa colher opiniões sobre as suas produções de forma bem fácil, via comentários em blogs, ou nos próprios fóruns de discussões. Ter um Twitter de verdade também ajuda. Sem robots, ou twitts no estilo assessoria de imprensa. Se o NSN, uma organização infinitamente menor que a Sexxxy ou a Brasileirinhas conseguiu encontrar vários parceiros e colaboradores através do Twitter (que é comandando por um cara que divide essas atividades com freelances e estudos), por que uma produtora de filmes pornôs conhecida em todo o território nacional não conseguiria? Se aproximar de seu público, manter laços… é um modo de conseguir que eles paguem pelo conteúdo da empresa, sem precisar de processos, ameaças, ou propagandas babacas anti-pirataria. Outra coisa é vender via download ou liberar por streaming cenas de 30 minutos por preços baratos. Hoje, creio que ninguém veja filmes de duas horas de filmes pornôs nos Media Players da vida (só vi dois filmes pornôs completos e de uma vez até hoje: 5 Hot Stories for Her e Nove Canções), então só faria sentido adotar esse modelo de venda, se o filme realmente tivesse uma temática em comum em todas as cenas, como em Família Incestuosa e Colegiais e Curiosas. Outra estratégia interessante é dar brinde e conteúdo exclusivo aos assinantes do site, ou participantes mais ativos das redes sociais da empresa. Esse tipo de gratificação – DVDs exclusivos, festas depravadas, camisas… é só usar a criatividade – aproxima ainda mais o público da empresa… e consequentemente o faz abandonar a pirataria, pois percebe que ser um integrante da rede social da Sexxxy World, e gastando uns 20 ou 30 reais em filmes – ou sei lá, um valor X por uma assinatura que lhe dá direito a ver e baixar tudo quanto é filme que está no site – é mais interessante que sair caçando links por aí. Um efeito secundário se mostra eficaz dessa aproximação público-empresa: os que pagam pelo conteúdo se sentirão participantes de clubes privativos e isso os desestimulará a espalhar os filmes pornôs que têm direito a ver e baixar. As produtoras podem fazer ainda melhor, e liberar pequenos trechos de uns 10 minutos e ela mesmo upar nos diversos sites de streaming de putaria por aí, com a adição de uma marca d’água, e uns 10 segundos no final com um convite aos que estão assistindo para irem até o site. Chegando lá, eles verão redes sociais e outras ferramentas… e vídeos e sets de fotos grátis para serem apreciados. Amostras grátis são como iscas, fazem o ávido cara que quer putaria esperar mais, e aí ele dá de cara com um pequeno valor a ser pago – que deve ter inúmeras formas de se pagar, tipo PayPal, Cartão, PagSeguro, Boleto, etc – e… pode acabar se decidindo a pagar, e uma vez pagando, se a oferta de conteúdo for boa, ele continuará por lá. Foto da Front Magazine, uma das minhas produtoras de putaria favoritas… Outra coisa a ser feita, é oferecer conteúdo cultural nos blogs das empresas. Chega dessa patetice de que só quem vê pornografia são fracassados acéfalos, é importante para uma empresa pornográfica representar um pouco mais do que mulheres peladas. Foi essa prática que tornou a Playboy o império que é. Representar um estilo de vida – sofisticado ou não depende do público que a empresa quer alcançar – e tornar isso uma coisa duradoura, é tão vital para a sobrevivência e evolução das empresas pornôs quanto lançar filmes chamados O Maior Rabo do Mundo. Atingir nichos com esse estilo de vida também é bastante importante, e criar uma marca efetivamente interessante para eles é uma forma de aumentar o valor da empresa. Vamos a exemplos práticos: Suicide Girls. O site das meninas nuas alternativas é um exemplo de marca que atinge um nicho – meninas com padrões de beleza que normalmente seriam descartados pelas revistas de moda – e ainda oferece conteúdo – por lá já li entrevistas com astros da música, como Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeahs, e gente do mundo do cinema, como David Lynch, o gênio que dirigiu Cidade dos Sonhos, fora matérias sobre o mundo da música, política e festivais independentes por aí. Existem dezenas de torrents ou links com os lindos sets de fotos das Suicides Girls? Sim, Eu já baixei vários, mas mesmo assim o site possui um monte de assinantes, que além de terem acesso a um monte de fotos de primeira qualidade, ainda interagem entre eles. Certamente parte do público só quer ver fotos, mas o status de estar dentro dos Suicide Girls compensa a assinatura para alguns outros. Outro exemplo? A Front Magazine. É uma das minhas revistas favoritas, e se chegasse no Brasil certamente teria minha assinatura. A especialidade dos caras é mostrar um belo par de peitos, e eles fazem isso bem, garantindo que nenhuma das meninas que posam para a revista possui silicone, e só usando Photoshop para deixar as fotos com uma identidade própria. Mesmo que esses dois sites não trabalhem especificamente com filmes pornôs, é possível pegar o exemplo deles – leia o blog da Front e observe como ele investe na criação de conteúdo pra sacar do que estou falando – na construção de uma identidade própria – as fotos dos dois sites são facilmente identificáveis, como olhar para uma fotografia de Terry Richardson – e aplica-lo para uma produtora de filmes. É tudo uma questão de convencer seu público que ele faz parte e consome algo importante, e não só mais um filme pornô. A Bizarre Magazine é outro exemplo. Além da produção de conteúdo específico para um nicho, o filme também produz filmes com as chamadas Bizarre Girls. Na verdade não conheço uma produtora de filmes pornôs no sentido mais tradicional da palavra que tenha conseguido um status e uma identidade própria tão desenvolvida quanto nos exemplos acima, mas existem casos de sites que conseguiram sucesso mediante fórmulas de venda de conteúdo pago. Pegue o caso dos BangBros, que viajam por aí transando com mulheres supostamente que encontram nas ruas – mais ou menos um revival dos primeiros filmes de Buttman. O site é um sucesso absoluto, e num dos seus filmes já contou até com a participação de uma das minhas musas do pornô: Puma Swede. É possível que você já tenha visto filmes deles por aí, no RedTube, mas tudo não passa de uma estratégia para atrair público para o site, o que parece funcionar. Os filmes deles são todos parecidos? Sim, mas possuem ambientações diferentes, o que causa uma identificação do público com o material. E o mesmo pode ser aplicado aos sites de atrizes – e garotas – que fazem coisa parecida, tipo a Belladonna – ou o maior site de putaria do milênio: o Brazzers. Suicide Girls – dispensa apresentações Você pode argumentar que é preciso status de superstar pornô pra um modelo assim dar certo, mas a verdade aponta numa direção contrária. Violet Erotica é um exemplo que é possível conseguir fama na internet para depois começar a cobrar por acesso a áreas exclusivas do site. Assim como esse existem exemplos similares, como Kitty Lea e Vikki Blows. E acredite, achar os vídeos delas por aí não é uma coisa fácil, o que deve significar que quem paga pelo conteúdo do site, não está especialmente ansioso em compartilhá-lo, talvez pelo sentimento de exclusividade que comentei. Ao mesmo tempo elas são inteligentes, e possuem blogs com opiniões interessantes e textos bem construídos, que permitem uma interação leitor-garota. Esse diferencial – fazer parte de uma comunidade – é o tipo de coisa decisiva na hora que um cara decide se passará alguns minutos caçando um link pra baixar um pornô, ou virar assinante do site da sua garota ou atriz favorita. E iniciativas desse tipo estão surgindo em indústrias mais tradicionais e menos inovadoras do que a pornô. No mundo dos games surgiu a Steam, loja/comunidade/software da produtora Valve que revolucionou a forma de se vender games. Além de promoções loucas – tipo um pacote de jogos que normalmente custaria 90 dólares, sair por 10, por 24 horas – a Steam criou uma comunidade que joga online entre si, e suas discussões são usadas por produtoras na hora de se elaborar melhorias nos games. Em outras palavras: eles são a elite gamer. O iTunes representa coisa parecida na música, e hoje as vendas de música na loja da Apple ultrapassam as vendas de discos físicos. É claro que no caso do iTunes parte do poder de venda da loja está vinculada aos próprios hardwares da Apple, mas não deixa de ser um exemplo da força que vendas pela internet podem alcançar, mesmo que todo o conteúdo que lá existe, possa ser obtido grátis após uma busca de poucos segundos. A Brasileirinhas e a Sexxxy World (uso essas duas como exemplo, por serem as maiores produtoras pornôs nacionais) já estão dando uma melhorada no site delas, com vídeo on-demand e planos de assinatura (meio carinhos, mas já são alguma coisa). É um passo, mas são necessárias outras iniciativas para chamar e cativar o público, ou isso representa o fim delas. O que está descrito acima são só exemplos para mostrar que somente um trabalho a médio e longo prazo, com valorização da marca e geração de conteúdo de qualidade – sim produtores, coloquem seus assessores de imprensa pra trabalharem, e voltarem a ser jornalistas que escrevam mais do que releases – podem “salvar” a indústria pornô nacional (e internacional). Logicamente que são somente minha opinião – aliado a um monte de coisas que ouvi nos dois dias de debate que participei no EVA. Mas tenha certeza de uma coisa: algo poderoso como a indústria pornô (ou o jornalismo impresso, ou a música) jamais morrerá, no máximo as produtoras atuais serão substituídas por uma nova geração que entenda como lidar com esse novo mercado, que aparentemente é uma zona sem leis. Mas se insistirem em querer encher bancas e locadoras de DVDs, a coisa continuará indo pro buraco…