Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+ Compartilhar no Tumblr Protesto vai, protesto vem, nunca se falou tanto em política como nas últimas semanas. Não me interessa se estão falando bem ou mal, se as pessoas sabem do que estão falando ou não, se estão interessados em realmente aprender as consequências de seus atos (quem mandou votar nesse povo?) ou se vão às ruas só pra fazer piada (porque não basta ser idiota, tem que exibir sua idiotice ao resto do mundo). O importante é que ao menos tem gente que está se interessando em tentar compreender o cenário político atual do Brasil, a discuti-lo e buscar soluções para os problemas que enfrentamos. Em toda manifestação popular sempre foi comum as pessoas se utilizarem de símbolos para as mais diversas finalidades: demonstrar o objetivo do próprio protesto (placas com frases e palavras de ordem… as de verdade, não as do link acima!), representar uma determinada facção ou grupo que pode estar alinhada – no todo ou em parte – com os ideais da maioria (bandeiras de partidos políticos… e não me olhem com essa cara, não entrarei nesse mérito nem fudendo!), ou simplesmente para dar uma identidade e significado maior àquilo pelo qual se luta (as cores do arco-íris em manifestações pró-LGBT, por exemplo). Nos protestos que se intensificaram a partir do último dia 13/06 em São Paulo – e em outros protestos ocorridos antes e depois dessa data em outras cidades do país – um símbolo em particular virou alvo de discussões e questionamentos na internet. De uns dias pra cá vejo algumas pessoas reclamando do uso por parte de alguns dos manifestantes da famosa máscara de Guy Fawkes. Popularizada graças à graphic novel V de Vingança (que dispensa apresentações) e seu respectivo filme, ela tem uma origem bem diferente do que o grande público acredita que seja e é exatamente essa origem o motivo de tantas pessoas acharem o uso desse símbolo inadequado nos protestos. Sim, eu sei que todo mundo leu a mesma página da Wikipedia que eu, mas mesmo assim vamos lá: Guy Fawkes – ou Guido Fawkes, como também era conhecido – era um soldado católico nascido na Inglaterra que foi o responsável pela chamada Conspiração da Pólvora, na qual ele tentou assassinar o rei Jaime I (que era protestante) e os membros do Parlamento inglês com o objetivo de iniciar um levante católico no país. A conspiração tem esse nome justamente por que o bigodudo queria mandar o prédio do Parlamento pelos ares com todo mundo dentro usando barris de pólvora, mas o plano deu errado e ele foi descoberto, sendo assim condenado à forca por traição e assassinato. A data comemorativa inglesa conhecida como a Noite das Fogueiras é celebrada todo dia 5 de novembro (lembrai, lembrai) e celebra justamente o dia em que Fawkes foi capturado. Analisando apenas a origem dessa ilustre personalidade dá pra entender a ojeriza desse povo pela máscara do V de Vingança. Afinal, o homem que a inspirou não passava de um conspirador filho da puta, certo? Mas o que poucos se lembram é que determinados símbolos podem ter seu significado deturpado e assumir uma outra mensagem ou proposta dependendo de quem os adota ao longo da história. Nunca estudei semiótica, iconografia, heráldica nem qualquer dessas ciências na minha vida. Sequer sei se essas ciências têm alguma coisa a ver com o assunto abordado nesse texto mal escrito. Então tudo que direi aqui será nada mais do que algumas horas de Google e Wikipedia na cabeça transformados em argumento e opinião. Panos quentes a parte, citarei dois exemplos de símbolos cujas origens perderam completamente a importância e são reconhecidas pelas mensagens às quais foram posteriormente agregadas. Comecemos pelo crucifixo. A cruz costumeiramente é associada à dualidade de conceitos: o tempo e o espaço, a liberdade e a disciplina, o Eros e o Thanatos para os gregos… e o Humano e o Divino para os cristãos. Símbolo máximo do Cristianismo, a cruz de Jesus Cristo representa o sofrimento do messias dessa vertente religiosa. A Igreja Católica desenvolveu inúmeras variantes para este símbolo em particular (Cruz de São Pedro, Cruz dos Arcanjos, Tau, etc…), mas todas fazem referência ao dia em que Jesus foi crucificado. Seja você religioso ou não, é impossível não reconhecer que o crucifixo é um dos símbolos religiosos de maior força já criados pelo homem. E justamente por carregar essa mensagem tão importante para a espiritualidade de boa parte da raça humana que essa boa parte está cagando e andando se originalmente o crucifixo não passava de uma mera ferramenta de tortura e execução usada para punir criminosos no Império Romano. Os cristãos sabem muito bem sobre essa origem (Jesus foi o criminoso mais famoso da Roma antiga, ora bolas!), apenas não se importam com a origem e sim com o que este símbolo representa para eles atualmente. Agora que já terminei de exemplificar uma coisa ruim que virou uma coisa boa, é hora de demonstrar o contrário: um outro símbolo importante para a história humana, mas não por inspirar a bondade nas pessoas e sim por representar o nosso lado podre e desumano. Com vocês, a suástica nazista. Lei de Godwin, eu escolho você!!! Atualmente associada ao Nazismo, esta espécie de cruz – também chamada de Cruz Gamada – tem sua origem em incontáveis povos humanos da antiguidade. Seu nome vem do sânscrito e nesse idioma ele é formado pelas sílabas su (que significa “bem”) e asti (que significa “estar”). Astecas, celtas, gregos, hindus, japoneses, malteses, muçulmanos, escandinavos… Até os NORTE-AMERICANOS! Todos esses povos e muitos outros já utilizavam a suástica – e suas diversas variantes estilísticas – empregando nela diversos significados, todos de forma inofensiva e benigna, homenageando outros povos, sinalizando templos religiosos, ou apenas como simples adornos… Até Adolf Hitler aparecer e fuder com tudo! Após o fim do Nazismo nenhum ser humano de bom senso sai por aí ostentando uma suástica. Dane-se se esse símbolo trazia uma mensagem positiva originalmente, hoje ela é a representação máxima do ódio e da intolerância que um ser humano pode sentir contra seu semelhante. Acho que já deu pra perceber aonde quero chegar, não é verdade? A história prova o tempo todo que não importa de onde um símbolo venha ou o que ele representava quando foi criado e sim o valor agregado a ele e o significado que possui no momento histórico em que vivemos. Não faz sentido algum implicar tanto com a máscara de Guy Fawkes se ela claramente não representa mais uma coisa ruim. Outrora conhecido como um conspirador, Guy Fawkes passou a ter um outro sentido quando foi incorporado à cultura pop. Alan Moore agregou um valor incrivelmente importante emprestando o rosto do conspirador britânico a seu personagem V, o de que “um povo não deve temer seu governo e sim este ao seu povo”. E os nossos super-heróis – os Anonymous – trataram de trazer tão poderosa mensagem das páginas dos quadrinhos (e do filme de 2006) para o mundo real. Então amiguinhos, lembrem-se disso da próxima vez que xingarem até a sexta geração da garotinha que tira foto com máscara de Guy Fawkes e posta no Facebook. Afinal, quando se trata de lutar por nossos direitos, somos todos conspiradores.